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Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita
Por Kley Coelho

O cinema político é quase tão antigo quanto o próprio cinema. D. W. Griffith em O Nascimento de uma Nação (1915) e Intolerância (1916) mostrava os dissabores de uma sociedade presa em impasses sociais, povos sendo reprimidos pelo poder em suas mais diversas formas. Em 1925, Sergei Eisenstein cria aquela que é talvez a maior obra política do cinema: O Encouraçado Potemkin, no qual ele narra os episódios reais que deram origem à Revolução Russa, onde carne podre servida aos marinheiros é o motivo para um motim que tomaria dimensões estrondosas em todo o país, culminando na execução de vários militantes nas escadarias de Odessa (essa cena é até hoje considerada um primor de montagem).

Muitos desses filmes ficaram proibidos durante muitos anos aqui no Brasil e outros países, devido à censura. Até hoje pode ser visto como filmes que mexem em casa de abelha, incomodando muita gente, porque são obras que fazem pensar, levam à reflexão e abrem os olhos para uma direção muitas vezes não conhecida.

A Itália nos anos 70 produziu algumas das maiores obras do cinema político, onde talvez a mais importante seja Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita. Nessa obra dirigida por Elio Petri, vemos um inspetor de polícia (Gian Maria Volonté) que assassina sua amante (Florinda Bolkan) sem nenhum motivo aparente. Após o crime, ele não retira as impressões digitais do local, e faz questão de tocar em garrafas e copos no intuito de deixar registrado sua presença ali. Ele deixa tudo “mastigado” para que a polícia saiba que foi ele o autor do crime. Mas, como se trata de um homem com um cargo muito influente, ele está acima de qualquer suspeita, ou melhor, ele está num patamar onde ninguém ousa denunciá-lo. Em dado momento ele chega na sala de seu superior e diz que conhecia a vítima; seu chefe faz alguns gracejos na intenção de dizer: “Não sei do que você está falando, voltemos ao trabalho!”. Peritos criminais passam por cima de provas plantadas pelo próprio inspetor, e fazem de conta que o suspeito não está ali na frente de todos. Entre represálias contra estudantes manifestantes, um jovem é preso, “suspeito” do crime, o que causa uma raiva muito grande no inspetor que só quer que a justiça trabalhe de forma exemplar e chegue até ele. Mas todo mundo faz vista grossa, com receio de se dar mal e/ou perder o emprego. Todo o departamento trabalha “incessantemente” a fim de prender o assassino, mas muitos ali sabem que o verdadeiro autor do crime não pode ser tocado. O que fazer então?

O diretor Elio Petri faz aqui uma crítica ao autoritarismo disfarçado e ao mesmo tempo um alerta contra a censura. O personagem principal age de forma altamente questionável, manipuladora, exercendo seu poder sobre a grande massa submissa a ele. Tudo pra ele é um jogo no qual sabe que não tem a perder. No início ele ri de tudo aquilo, se diverte em ver que tudo saíra como planejado; mas aos poucos vai mudando de pensamento, percebendo que a lei não está funcionando. Essa mesma lei que ele tanto se esforçou pra funcionar de forma ágil e severa está falhando com ele por se tratar de algo até então inédito. Vemos então aqui uma metáfora sobre o poder de manipulação, onde governos e autoridades em muitos casos usam suas influências pra passar por cima de fatos claramente óbvios aos olhos de todos.

No final dos anos 60 até os anos 70, o cinema viu a necessidade de criar filmes-denúncias, mostrar os absurdos de um sistema desigual que imperava em várias partes do mundo. Em 1969, Costa-Gravas com sua obra-prima Z, nos mostra um político sendo assassinado na frente de uma multidão de pessoas. O Estado quer fazer crer que foi um acidente e ignora todas as provas. Cabe a um promotor honesto ir contra tudo e todos e tentar desmascarar uma teia de corrupção que alcança elevados níveis de hierarquia.

Em 1971, Elio Petri faria (novamente com o ator Volonté) o polêmico A Classe Operária Vai ao Paraíso, em que um operário exemplar de uma indústria perde um dedo em uma máquina de trabalho e depois disso se dá conta de como funcionam os movimentos sindicais. Outra denúncia sobre a sociedade e seus impasses ideológicos, sempre fugindo de algo e ao mesmo tempo em busca de alguma coisa.

A brasileira Florinda Bolkan tem em Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, seu grande momento de estrelato, mas é sem dúvida Gian Maria Volonté quem brilha, no papel do inspetor. Volonté é o ator que melhor expressou o cinema político da Itália, ele está ótimo também em outro filme-denúncia: Giordano Bruno (1973). Em A Moça com a Valise (1961) de Valério Zurlini, Volonté aparece em uma ponta no papel de um ex-namorado da personagem interpretada por Claudia Cardinale. Porém, Ele é mais lembrado pelo grande público por ter feito o vilão nos dois primeiros filmes da famosa trilogia dewestern spaghetti feito por por Sergio Leone: Por um Punhado de Dólares e Por uns Dólares a Mais.

O final é um grito de desespero, onde ecoa a agonia de um homem disposto a fazer justiça por um crime que ele mesmo cometeu. Assim nos perguntamos: a "Lei", que procura ser tão severa com o cidadão, funciona quando é exercida sobre ela mesma?

Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e concorreu ao prêmio de roteiro original. Em Cannes, venceu o Grande Prêmio do Júri. Imperdível para os admiradores de um cinema crítico e inteligente

 
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