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Lavoura Arcaica
Por Kley Coelho

Por mais que existam defensores fervorosos do cinema nacional, é indiscutível que o nosso cinema ainda tem muito que aprender a contar histórias mais humanas sem cair em excessos ou se tornar uma obra enfadonha feita por algum diretor pseudo-intelectual. Mas devemos tirar o chapéu quando o cinema brasileiro acerta, pois quando assim o faz, faz de forma perfeita. Um pouco antes da obra-prima Cidade de Deus arrasar nos cinemas, um diretor de TV simplesmente ousou levar às telas uma obra do difícil escritor Raduan Nassar. Difícil porque Nassar é autor complexo, de linguagem revolucionária e de difícil compreensão. Suas obras não são lineares, suas histórias vão e voltam no tempo, pegando pelo rabo leitores de primeira viagem que ainda não estão acostumados a navegarem em textos mais enigmáticos e pouco elucidativos.

Esse diretor de TV é Luiz Fernando Carvalho, e a obra em questão é Lavoura Arcaica. Carvalho trabalhava com projetos televisivos quando se encantou com o livro de Nassar e resolveu fazer dele uma obra fílmica. Para isso, ele não adaptou a obra em forma de roteiro como é comum se fazer, ele simplesmente arrancava o que era narrado no livro e o jogava nas filmagens, na intenção de ser o mais fiel possível à obra. Carvalho sabia que, com idéias tão inovadoras em mente, consequentemente teria que reunir um grupo de atores consagrados que conseguisse passar de forma magistral todo aquele drama vivido pelos personagens. Em um ensaio de atores que durou quatros meses, estava Selton Mello, que vive o atormentado André (o coração do filme), Raul Cortez (o pai), Julianda Carneiro da Cunha (a mãe), Leonardo Medeiros (o irmão Pedro), Caio Blat (o irmão Lula) e Simone Spoladore (a irmã Ana).

Em uma família de libaneses que vive no Brasil, a autoridade exercida pelo pai faz com que o jovem André saia de casa e resolva viver de forma mais livre, mas as coisas não vão bem como ele esperava, fazendo com que seu imão a pedido da mãe, vá buscá-lo de volta. Ao chegar em um sujo quarto de pensão onde seu irmão está hospedado, Pedro o vê sofrendo, vítima de bebidas e remédios. Depois de abandonar o lar, André se tornou uma pessoa doente e equizofrênica, derrubado pelas suas próprias convicções errôneas de mundo. Porém, o que mais lhe aflige é um segredo do passado, envolvendo um caso de incesto com sua irmã Ana. Ao voltar para casa, André precisa confrontar o severo pai e, ao mesmo tempo conviver com uma paixão desenfreada pela própria irmã. Evitarei entrar em maiores detalhes da história pra não atrapalhar o prazer de quem ainda não assistiu. Basta dizer que é uma história forte e amarga (ainda que feita de forma poética), envolvendo amores proibidos e a busca pela redenção. Lavoura Arcaica é isso, um filme sobre uma família que se despedaça aos poucos, uma fonte de água que aos poucos vai secando. Seus personagens aparentemente vivem de forma alegre, descontraída, mas no fundo carregam frustrações, desejos reprimidos, valores distorcidos e sentimentos que extravasam.

A linguagem é diferente do que foi feito até hoje no cinema brasileiro; as frases, diálogos e narrações soam estranhos, mas nunca de forma chata ou redundante. As imagens são as mais belas e poéticas já vistas no cinema brasileiro. A narrativa retrocede e adianta no tempo, de forma às vezes brusca. Tudo isso, somado a mais de duas horas e meia de projeção. Resumindo: Não é uma obra fácil, requer paciência e compreensão dos desacostumados com um cinema mais artístico, muito longe das inúmeras bobagens que se vê nos dias de hoje no cinema nacional. Diga-se aí as comédias descartáveis e romances pedantes.

O diretor Luiz Fernando Carvalho até o momento só fez este filme para o cinema e um curta-metragem de 1986, chamado À Espera. Mas na TV, é conhecido especialmente por algumas novelas e por microsseries revolucionárias como Hoje é Dia de Maria, Capitu (baseado em Dom Casmurro, de Machado de Assis) e A Pedra do Reino. Mas o grande momento de Carvalho na TV é sem dúvida a mini-serie Os Maias (baseado no romance homônimo de Eça de Queirós), uma obra-prima que, em minha opinião foi a melhor coisa que a TV brasileira já produziu até hoje. Um trabalho fantástico que é um primor de técnica e interpretação. O escritor Raduan Nassar tem poucas obras publicadas. É dele também o livro Um Copo de Cólera, que igualmente foi filmado (em 1999). Um filme que considero como um dos piores que já tive o desprazer em assistir. Há quem goste muito, mas eu particularmente não vi absolutamente nada que agradasse, em uma obra feia, ridícula e totalmente descartável. Nunca li a obra em que o mesmo se baseia, mas prefiro achar que tal filme tenha muito pouco de Nassar contido nele. Mas a genialidade de Nassar, que sabe falar tão bem de libaneses, porque ele próprio é filho de imigrantes vindos da Líbia, é vista de forma exemplar em Lavoura Arcaica.

Selton Mello ainda não era tão querido pelo grande público quando fez Lavoura Arcaica, e nem era conhecido por seus talentos também como diretor. Aqui, ele está formidável, naquela que é uma das melhores interpretações masculinas da história do nosso cinema. Um verdadeiro Tour de Force de um ator, em um trabalho não menos que excepcional. Seu embate com o pai (Cortez, outro grande ator em cena), em especial na cena do sultão, se transforma em um duelo de interpretação. A mãe sufocadora feita de forma sensível e minimalista por Juliana Carneiro da Cunha é uma das personagens mais emotivas dos últimos tempos. Leonardo Medeiros interpreta de forma brilhante o irmão mais velho. Simone Spoladore, atriz dos palcos, estréia aqui, consagrando-se em uma das carreiras mais sólidas do cinema nacional, se destacando posteriormente em produções como Desmundo (2003) e o belo O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) Uma verdadeira poesia em movimento, com imagens fortes e inesquecíveis e muito lirismo, Lavoura Arcaica é um dos poucos filmes do cinema brasileiro atual que merece ser chamado de obra-prima.

  • Nota: 5 de 5
  • Título original: Lavoura Arcaica
  • Lançamento: 2011 (Brasil)
  • Direção: Luiz Fernando Carvalho
  • Elenco: Selton Mello, Raul Cortez, Simone Spoladore, Leonardo
  • Medeiros, Juliana Carneiro da Cunha e Caio Blat
  • Duração: 163 minutos
  • Drama

 
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