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"Porque o Mundo Não Precisa do Super-Homem": A vitória dos mais fracos
04 de Junho de 2010, às 08:00
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Por Edson Gomes

É tanta violência na cidade
Brother é tanta criminalidade
As pessoas se trancam em suas casas
Pois não há segurança nas vias públicas
E nem mesmo a polícia pode impedir
Às vezes a polícia entra no jogo
A gente precisa de um super-homem
Que faça mudanças imediatas
Pois nem mesmo a polícia pode destruir
Certas manobras organizadas.

Recentemente liguei a tv, vi um (trailer), chamada publicitária bastante curiosa, dizia: “Nesta sexta, olhe para o céu!” – Era o anúncio de mais um filme da série Superman, (Superman, The returns). Aí, de repente fiquei imaginando porque querem que olhemos tanto para céu, se existem muitos lugares aqui em baixo que carecem mais da nossa atenção. Em junho passado, ninguém tirava os olhos dos “campos”. Era a decepcionante copa do mundo. Hoje o que não sai dos jornais é a peleja Israel versus Mundo Árabe “adocicada” por esse mais novo mantra comercial do entretenimento. Como se já não bastasse a jurássica pergunta-bordão que até hoje é lembrada: “É um pássaro... é um avião? ...” 

Sempre gostei de lendas, estórias e mitos de super-heróis e seus feitos fascinantes. Acompanho desde minha infância o desenrolar de algumas sagas e tramas, alguns episódios em séries de tv e quadrinhos embalaram minha mente fértil de adolescente. Super-homem, Homem Aranha, Os X-Man, Luke Skywalker, Wolvwrine, Quarteto Fantástico, Hércules...

Eles são importantes, alimentam nossa imaginação, e muitas vezes permeiam a infância com valores sobre coragem, justiça, lealdade, combate ao mal. Geralmente se constitui no alvo de toda criança, o ser ideal. Pois, atire a primeira pedra quem na sua mais tenra infância nunca amarrou uma toalha ao pescoço e saiu por aí se sentindo o Superman.

Bem... deixemos os micos de lado. Confesso, roubei o título do artigo que deu o prêmio Pulitzer a Louis Lane no mais novo filme da saga do Homem de aço. Calma não me culpe somente de plágio, mas podem me acusar também de um desmancha prazeres. Acho que não seria menos irônico se não fosse verdade o que a personagem da senhorita Lane escreveu na mais nova película de ação – Superman. The Returns (O Retorno).

Neste filme tentaram de tudo e em vão humanizar mais o Superman, até envolvê-lo em meio à trama que o colocava como a terceira peça de um triangulo amoroso. Nietzsche deve estar se revirando no túmulo. Era do filósofo a idéia de um super-homem. Achava que o ser humano é um nó que está no meio de duas extremidades: Depois do animal e antes do super-homem. Achava que o homem deveria ser superado, e estando a contento com todas as suas potencialidades teria de estar “Acima do Bem e do Mal” – ele mesmo nos apresenta a figura de um tipo de super-homem. Maneira de ser forte, não deixar que alguns sentimentos atrapalhem seus objetivos. Dizia ter “espírito de rebanho” os que, por exemplo, se deixassem dominar pelo amor (Kriptonita), aquilo que nos deixa mais fraco, e nos relega a condição de fragilidade total.

É ai que se encontra o pecado de Superman, O Retorno, como uma obra de romance. A tentativa de humanizar mais o “super” vai por água abaixo devido ao fato de que Superman é muito contido, não parece haver um forte sentimento, seja ciúme ou perda, apenas resignação diante da mulher que ama nos braços de outro.

 A mim parece muito estranha a idéia de um ser imerso no mais completo niilismo sem que o mesmo meta uma bala na cabeça. Sim. Em Nietzsche há uma alternativa para o homem que sofre, entretanto esse homem deixaria de ser homem, deixaria de se abrir espontaneamente ao outro, estaria acima das condições de marginalidade legadas aos mais fragilizados. Não bastaria ser apenas herói, mas antes de tudo super-herói. Superman nunca deverá se abalar com uma dor de cotovelo, nem amargar uma deprê por rejeição, muito menos deve ter insônia pela ameaça de perder a mulher amada para outro sexualmente mais potente. Essas coisas não acontecem com Superman. Super-Homem. A palavra inglesa “super” tem como correspondente em português a palavra “sobre”, e isto quer dizer que Super-Homem significa sobre-homem. Ele é um super-herói, modelo de um sobre-humano. É o paradigma do ser extraordinário. Sempre estará acima de aspectos meramente humanos.

A existência de um Superman, demanda a necessidade de um cenário marcado por catástrofes naturais, ou um planeta aterrado pela maldade. O ser humano imerso em sua própria miséria e violência. No final a nossa visão sempre acaba sendo a mesma, “o mundo é um lugar ruim que não merece ser habitado por seres de perfeição”, Superman sempre será um kriptoniano (extraterrestre).

A princípio concordo com Nietzsche, quando diz sobre a fragilidade dos que amam, mas nossa fragilidade talvez seja a condição sine qua non – “sem a qual”, não existiríamos. E existir é sentir o peso dessa fragilidade, ao passo que se sonha com uma histórica superação da mesma. Eu particularmente discordo que devamos ser super-homens, acho que é a possibilidade de ser ferido por espadas que fazem o Zorro pensar na sua condição de mortal, o faz ponderar a respeito de sua mortalidade e da importância de defender os que são iguais a ele.

Então, porque não perguntar: Ainda precisamos do Super-homem?

            Pessoalmente, hoje gosto bem mais de “heróis”. Homens de carne e osso, seres dinâmicos e históricos que se fazem na caminhada de luta, pessoas que são exemplos não de poderes, mágicos, energéticos e tecnológicos (Thor, Superman, Batman), mas gente que supera sua própria limitação e as limitações que o sistema lhe impõe.  Por isso é preciso distinguir o herói do super-herói. O herói é um indivíduo que possui qualidades consideradas especiais, tais como habilidades físicas, mentais ou morais. O atributo característico do herói é a coragem. Possui habilidades excepcionais, mas humanamente possíveis enquanto que o super-herói possui habilidades sobre-humanas. O “Herói” não é reservado apenas ao mundo da fantasia, mas é aplicável a indivíduos concretos que se destacam em nossa sociedade (Pedro, Maria, Joaquim, Seu Zé...). “Neste mundo de fogo e de guerra o santo da terra tem calo na mão...”. O herói, portanto, possui uma existência  pé no chão, e é real mesmo.

           Não é por acaso que os responsáveis pela preservação do status quo dizem que em tempos de guerra surgem heróis. Pura Mentira! Surgem super-heróis. Olha o Caso do Capitão América; Uma fantasia axiológica (de ideologia marcadamente moralista) nascida a partir da necessidade de heróis de carne e osso para sacrificar suas vidas na guerra.

E a frase ainda ecoa em minha mente...“Nesta sexta, olhe para o céu!”. Assim, fica evidente que todo super-herói nasce de uma necessidade de ver os problemas serem resolvidos no além. É parecido com o paraíso, ou a cidade santa do apocalipse bíblico. São como a religião numa compreensão marxista – O ópio do povo – ideologia que é fomentada pelos grupos dominantes com a intenção de desviar a atenção, de acabar com a capacidade crítica, ou evitar possíveis revoluções dos que sofrem à margem.

Sem querer dar uma de analista clínico behaviorista, mas todo mundo sabe, e não é novidade dizer que o povão sofre da dependência de super-heróis. E estes lhes são dados para “abaixar a poeira”, “Ao povo pão e circo!” Somos sempre levados a pensar num “Capitão     América” ou num Superman... Quem cria os super-heróis são os que nos querem manipular, aqueles que têm a chave ou o botão nas mãos.

Como cegos não vemos que a realidade é diferente deste mundo fantasioso dos quadrinhos. Enquanto o homem-aranha destrói o duende verde em nossas mentes, a miséria, a violência e o descaso do governo com a saúde pública destroem o brasileiro comum. O mais pobre. Nascido muitas vezes no Piauí, no sertão do Pernambuco, na periferia das grandes metrópoles do Brasil, nas favelas do Rio de Janeiro. Diferentemente de Gotan City, lá o Batman não pisa, o homem-de-ferro é derretido e vendido ao preço do quilo, matando a fome ou o vício de algum miserável.

A explicação para que pensemos numa possibilidade de sermos super-heróis vem de uma deformação cultural. Somos insuflados por essa prepotência de sermos o ideal absoluto, e que, portanto a concorrência é a mola que move o mundo. Somos, portanto, imbuídos de sentimentos que geram e sustentam preconceitos em relação aos outros, sobretudo àqueles que não conseguem ter a mesma evolução cultural que nós, os mais pobres são em suma o alvo de nossos preconceitos mais evidentes.

            Paulo Freire ensina que ninguém é mais culto do que o outro. Todos somos cultos. O que há são culturas distintas, socialmente complementares. Num país de tão larga tradição escravocrata, como o Brasil, não é de se estranhar que aos escolarizados seja reservado o trabalho intelectual, e aos demais, o trabalho manual. De fato, essa separação não existe, exceto na cabeça de quem nunca plantou uma horta, preparou um almoço ou consertou um carro.

            Ser herói é o nosso alvo de superação, mas hoje em dia, ser gente é nosso maior desafio. Pois, gente não deixa de socorrer gente porque sua religião ou seus super-heróis intervirão na “hora h”. Até quando precisaremos de super-heróis ou algum mundo encantado como entorpecente, fuga da realidade em que vivemos? 

Creio. Não precisamos de super-homem algum. O mundo precisa é de gente sensível e corajosa, pessoas comuns de carne e osso, que saibam amar e ao mesmo tempo sofrer pelo amor. Terráqueos com os pés no chão. Gente de atitude, que se organize, que dêem as mãos e enfrentem as vicissitudes da vida. Pois é ela a maior escola de heróis.

            Todos os sábados à noite sempre quando posso, ligo a tv num programa humorístico da Rede Globo (zorra total). E existe ali um personagem muito controvertido, mas ao mesmo tempo muito assistido como um dos melhores quadros do programa. Digo isto, não só por causa de seus bordões que estão na boca do povo. Alguns amigos e conhecidos meus sempre comentam sobre esse tal de Patrick.  Mas o que tem de especial este Patrick, o que tem ele que se destaca tanto dos outros personagens humorísticos? Será seu figurino esdrúxulo, sua aparência esquisita ou seu chavão violento: Olha a faca!

            Pego o exemplo de Patrick, porque ele é modelo do ser humano objeto de escárnio e humilhação. É aquele que é marginalizado por não ter uma estética comportamental adequada à nossa roda de amigos íntimos - aqueles que conversaríamos sobre nossas dificuldades ou o ouviríamos quando tivessem as deles.

            Patrick é uma imagem paradigmática porque representa em ultima instância duas coisas: Em primeiro lugar é aquele franzino, o mais feio, considerado o mais “delicado” por conta de seus trejeitos efeminados, o mais fraco da turma. Em segundo lugar representa superação, atitude, aquele que se faz herói diante das dificuldades impostas pelos mais variados grupos sociais.

            Ele representa um pouco de cada um dos fracos e dos que aparentemente são considerados por pessoas preconceituosas e classistas, gente de inferior categoria. Patrick é o favelado, é o pescador analfabeto, é o homem do campo. É o modelo-alvo de preconceitos - o negro, o homossexual, o trabalhador informal, a prostituta, o ex-presidiário. Entretanto, Patrick encarna um ícone de superação de suas próprias limitações. Patrick representa o povo que se levanta, que se organiza (malhando para enfrentar os brutamontes), Patrick representa, a revolução pulsante em nós disfarçada pelo rosto sofrido e magro, representa o troco que queremos dar aos opressores, a indignação contra os poderes dominantes que se apresentam não mais como super-vilões, mas, como super-heróis mesmos.

            Patrick é um mix: Uma pitada de Gandhi, um pouco de Luther King, uma dose de Zorro, mas, sobretudo, parecido com o Che, pois “Há de endurecer sem jamais perder a ternura!” Ele encarna o protagonismo do povo despossuído. Ele torna-se a justiça que cada um de nós deveria ser, derrotando os que se arvoram a ser supervilões e super-heróis, derrubando a hegemônica lei do mais forte.

            Patrick representa o que somos quando somos espezinhados e humilhados por forças opressoras e repressoras.  Representa o grito do pequeno Davi contra o Gigante Golias: MEXE COM QUEM TÁ QUIETO!

 Wellington Araújo - Estudante de Teologia 

  • 1 NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do ma: Prelúdio a uma filosofia do futuro, Trad. Paulo César de Souza, Companhia das Letras, São Paulo, 1992.
  • 2 LIRINHA, vocalista do grupo musical “Cordel do fogo encantado” canta uma canção de domínio público – Foguete dos Reis: “Nesse mundo de fogo e de guerra o santo da terra tem calo na mão...”.
  • 3 Fragmento de um artigo encontrado no site: http://www.espacoacademico.com.br/022/22cviana.htm
  • 4 Marx, Karl & Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). 8a edição, São Paulo, Hucitec, 1990.
  • 5 Fragmento de um artigo do Frei Beto, intitulado: O caso Francenildo.

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