Por Joaquim Alves

Nos tempos da Ditadura, havia a figura denominada pela opressão de "inocentes úteis". A esquerda utilizava de outra terminologia para identificar análoga figura, chamada de "massa de manobra". Tanto uma como outra, estas "figuras" serviam às estratégias da oposição e defensores da Ditadura para se conseguir impor uma ordem de pensamento na população.

Os "inocentes úteis" eram como os comandantes das tropas de repressão denominavam populares ou estudantes que engrossavam passeatas de protesto contra a Ditadura. O Coronel Erasmo Dias (célebre repressor), mandava o recado: "Vai todo mundo tomar cacete, seja consciente ou inocente".

Já a "massa de manobra" era utilizada para identificar setores da classe média pequeno-burguesa que apoiavam a Ditadura, por trás de organizações civis e na maioria religiosas (naqueles tempos, eram católicas). Lembram-se das "Ligas das senhoras católicas de Santana? Ou de Belo Horizonte? Estas figuras de manobra eram mesmo ingênuas quanto ao verdadeiro intento de cada um dos lados do jogo político.

Os tempos mudaram. Inocentes úteis e massa de manobra hoje são compostos de novos personagens. Pertencem a setores diferentes da sociedade. O Partido Verde (no Brasil), pelos seus dirigentes do Centro-Sul do país, são mais ligados aos setores conservadores e das grandes fortunas. Contraditoriamente, são mais ligados às correntes elitistas da sociedade. Nas suas hostes estão mega-empresários de diversos setores da economia. São "esquerdistas" de luxo, de butique, regados a perfume e champanhe e frequentadores de colunas sociais. Não estão seriamente comprometidos com projetos de transformação social. "They don't care about us", como dizia um refrão de Michael Jackson.

Não tenham dúvidas de que a maioria dos verdes (os dirigentes) vai apoiar Serra. Fazem parte do mesmo DNA conservador da política nacional. São "verdes" de mentirinha e porque está na moda. São riquinhos bonitinhos e deslumbrados. São esquerdinhas da Zona Sul.

Os eleitores de Marina pertenceram a três correntes distintas: 1) Os eleitores sensibilizados pelas questões ambientais (verdes ideológicos de verdade e bem intencionados - os verdadeiros verdes); 2) uma boa parte de evangélicos que seguiram recomendações de seus "pastores"; e 3) os verdes de butique (porque está na moda e é "chic"). Sobre o terceiro e último grupo dispensam-se comentários. Os primeiros, os inocentes úteis de tempos modernos. Os segundos, a nova massa de manobra. Tanto um como outro usados estrategicamente pelo comando da campanha de Serra para minar a campanha de Dilma. E deu certo!

Baseado em acontecimentos do passado, teme-se pelo pior: Teme-se que a maior parte dos 19 milhões de votos dados à Marina, sejam agora destinados ao candidato que representa o retrocesso, José Serra. A esperança é que uma terça parte (parte do primeiro e terceiro grupos, suficientes para eleger Dilma) seja independente e consciente e saiba tomar decisões pelo seu próprio crivo e discernimento. Que deixem a inocência de lado e tomem partido de acordo com suas ideologias. Assim se espera, caso contrário nos tornaremos caranguejos, dando passos para trás no progresso social. E que não tenhamos que repetir um velho ditado português, "agora é tarde. Inês é morta!".

Que se iluminem as consciências dos verdes de verdade e dos eleitores de Marina!