Em entrevista no Festival de Inverno Bahia 2013, Saulo fala sobre o prazer de estar tocando novamente em Vitória da Conquista, da carreira solo, do novo CD, que estará lançando em outubro, e de preconceito.
Este ano está voltando o micareta, a festa de rua de Vitória da Conquista, como você vê o retorno de um evento deste tipo?
Saulo – Eu tenho muito pensado sobre isso. Se é que pode haver alguma volta de carnaval de rua, que seja mais democrático, porque aí sim a gente vai ter um carnaval mais representativo, com é o Olodum no carnaval de Salvador. Desde que eu estava no Eva, já tinha três anos que eu estava fazendo um carnaval pipoca, porque eu acredito que o carnaval que deve representar a cidade deve ser um carnaval mais democrático, que todo mundo participe de forma igual. Não sei qual é o caso aqui de Vitória da Conquista, mas eu espero que sim. Eu mesmo já participei de muita micareta aqui em Conquista e era muito gostoso e era sempre um sentimento muito bom. Eu tenho saudade disso, desde a época do Chica Fé, quando eu era jovem, eu tenho saudades disso, das lembranças que eu tenho da micareta, que era superbacana. Tomara que volte, eu fico feliz, mas que a gente também repense essa coisa de democratizar mais.
Como é estar participando aqui do Festival de Inverno?
Saulo – É a primeira vez no festival. Em Conquista eu já vim várias vezes, mas no Festival de Inverno é uma loucura, porque a gente sempre sabe que tocar aqui é uma responsabilidade: “E aí velho, como é que vocês vão representar a Bahia?” Eu falei: “Vamos tentar, vamos tentar bater esse tambor aí forte, pra galera ficar feliz”.
O que vocês estão preparando para esse show de hoje?
Saulo – Hoje eu canto algumas coisas que estão do meu álbum que vou lançar em outubro e canto coisas do tempo que eu escrevi ainda no Eva, coisas muito mais conhecidas das pessoas… Esse repertório que varia entre coisas não tão conhecidas e coisas bem conhecidas.
Como está sendo essa sua nova fase em carreira solo?
Saulo – Está sendo, bem no gerúndio mesmo, nem eu sei o que vai acontecer, se eu soubesse, eu ficaria mais feliz, mas eu acredito mesmo na força da música, na coerência que a música fez comigo, fez com a minha carreira desde cedinho até aqui. Eu sempre fui “E aí música, vamos para onde agora?” E ela sempre me disse onde eu tenho que ir. Gravamos um álbum, no começo de abril, em Salvador, que foi interessante, foi muito bacana, que reafirmou muita coisa dentro de mim e vamos lançar em outubro e talvez em outubro eu saiba mais alguma coisa (risos).
Qual é a grande diferença desse seu novo trabalho a ser lançado?
Saulo – Eu acho que talvez seja a facilidade de dar uma abrangência, desse leque se abrir mais. Quando você defende um grupo, uma banda tão tradicional como é o Eva, uma instituição carnavalesca, que te rotula de certa forma, de coloca numa prateleira. Você sozinho, por exemplo, eu estava comentando com uma galera que eu fiz um programa de televisão, dando canja com Humberto [Gessinger], tocando com ele, cantando com ele e aí “Ó, isso pode né?” Acho que a carreira solo faz isso.
A música Raiz de toda fé, é uma forma de dizer “xô preconceito, nós somos Bahia, somos seres humanos, somos todos iguais”?
Saulo – Sim e, sobretudo, aqui em Conquista, que é um lugar não tão baiano assim, vamos dizer geograficamente, e é importante dizer aqui: “Não velho, a gente é baiano, nordestino, cabra da peste mesmo”, diante de tanta coisa que a gente ainda ouve de preconceito. Teve um tempo atrás que o cara falou que a situação do país era culpa da gente, que a gente votava mal, quer dizer, ainda tem isso, né, em 2013. Então, que a música consiga rebater, porque eu não sou valente na vida real, mas a música consegue ser por mim.
Por José Carlos Assunção Novaes
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