Diego Hypolito: “É um ano de me reerguer como atleta”
Ginasta medalhista olímpico volta a competir em 2019 depois de cirurgia na coluna, rebate pressões por aposentadoria e vai em busca de uma vaga no solo em Tóquio 2020
Superação. Essa provavelmente é a palavra que Diego Hypolito mais ouviu nos últimos anos, e como também costuma definir a própria trajetória na ginástica artística. Depois de duas quedas em edições consecutivas dos Jogos Olímpicos, em Pequim 2008 e Londres 2012, o bicampeão mundial viu, enfim, a consagração chegar no Rio de Janeiro, em 2016, com a prata no megaevento dentro de casa. As dificuldades, contudo, não tinham acabado ali no tablado do solo. Com sérios problemas na coluna – oito hérnias de disco, duas fraturas e uma escoliose, segundo ele –, era o momento de encarar a mesa de cirurgia e de colocar o futuro no esporte em cheque.
Dono de 69 medalhas em etapas da Copa do Mundo e dois títulos mundiais, Diego viu chegar a pressão para parar no auge após os Jogos do Rio. No entanto, o ginasta não abriu mão de enfrentar a reabilitação pós-cirúrgica e, aos 32 anos, garante: vai brigar por vaga em Tóquio 2020. “Eu acredito que tenho condição e, se eu acredito, é possível”, determina.
Confira os principais trechos da entrevista que ele concedeu à equipe do rededoesporte.gov.br:
Retorno em 2019
Tenho pretensão de já competir Copas do Mundo no início do ano. Estou indo à academia todos os dias, tentando focar na alimentação. Estou bem focado para o próximo ano.
Anos “mortos”
Os anos de 2017 e 2018 foram de adaptação à minha cirurgia na coluna. Eu operei no fim de 2016. O ano de 2017 foi totalmente morto porque o médico me falou que demoraria em torno de dois anos de adaptação. Foi uma cirurgia grave. Eu tinha oito hérnias de disco, duas fraturas, uma escoliose em “C” grande, e eu estava sentindo muita dor.
Qualidade de vida
Eu tinha dificuldade de tudo. Eu tinha muita dor para andar, não conseguia dirigir meu próprio carro havia quase dois anos. Óbvio que perdi um pouco de movimento em coisas específicas da ginástica, mas tomava dois anti-inflamatórios por dia. Eu tenho uma vida depois da ginástica. Daqui a dois anos mais ou menos, provavelmente vou parar. Mas quero chegar aos 60 anos caminhando bem. Este é o meu objetivo: qualidade de vida.
Recuperação
Este ano já tentei, em alguns períodos, treinar um pouco mais forte. Achei um pouco difícil ainda a adaptação da minha coluna, a questão de movimento. Optei por regredir um pouco porque ainda senti que não estava 100%. Meu objetivo são os Jogos Olímpicos de 2020, que eu ainda acredito que tenha condição e, se eu acredito, é possível. Se a gente acredita que a gente tem potencial, condição, tudo é possível.
Condição física
Ainda não estou 100% no peso, na preparação física, mas pelo menos não tenho mais dor. Meu movimento de flexão voltou praticamente ao que era antes da cirurgia. Eu não achava que iria voltar. O que eu queria era diminuir minha dor. A dor também faz você perder movimentos.
Decisão após a medalha
Eu tive meu objetivo de carreira no Rio de Janeiro, que foi chegar em pé. Eu nem imaginava que seria medalhista. Foi muito bom. Depois disso, passei dois anos praticamente em reabilitação. O primeiro ano foi muito de adaptação, e não só de treinamento, mas de andar. Fiquei muito mais reto do que eu era. Foi o ano em que fiquei pensando se realmente ia continuar visando competir nos Jogos Olímpicos porque as incertezas das pessoas, principalmente de dirigentes, sempre acontecem, mas o importante é eu ter a minha cabeça no lugar e saber se eu tenho condição ou não de continuar.
Campeão na vida
As pessoas idealizam que a gente tem que estar sempre no topo, tem que ser sempre o melhor. Acho que, se a gente não mostrar que a vida, na realidade, é feita de vitórias e derrotas, mas o que mais prevalece é a vitória pessoal, é a satisfação pessoal, a gente vai continuar com aquela visão de que só o campeão é o que vale. Não é isso. O campeão para a vida é muito superior a qualquer brasão.
Eu vim de raízes humildes, era muito pobre, e acho que, de história triste, o Brasil tem muitas. A minha é só mais uma. Mas se eu não mostrar que é possível para qualquer classe social você se sentir um campeão para a vida, de nada vale. Posso chegar na próxima Olimpíada e cair? Posso, mas o que na realidade vale é a satisfação pessoal. Vejo que as pessoas se inspiram muito na história que passei. Todo mundo tem problema, e como fui feito de problemas, as pessoas se inspiram muito no fato de que me supero, vou sempre em busca dos meus objetivos.
Opiniões
Chegar aos Jogos Olímpicos de 2020 tem muitas barreiras. Mas tentar, óbvio que vou tentar porque gosto ainda, amo ainda o que eu faço e vejo que motiva muitas pessoas. Pode ser que no meio da jornada eu veja que não é para mim, não sei. Não existe fórmula para o sucesso.
Eu fui uma pessoa muito expansiva na minha carreira, fui formado por altos e baixos, por polêmicas, mas acho que o que prevaleceu é caráter, não deixar de seguir os meus sonhos e objetivos. Nisso, dificilmente consigo ser embarreirado. Todas as falas negativas só fazem com que eu me torne cada vez mais forte. Eu sempre me avalio pelas pessoas legais que passam. Vejo na rua, é um carinho excessivo, as pessoas me tornaram muito maior do que eu sou.
Foco no solo
Eu vou focar única e exclusivamente no solo. Então preciso de um preparador físico e de um fisioterapeuta mais à minha disposição. Eu tenho muitas lesões e adaptações. Eu dependo bastante de profissionais ao meu redor para que dê certo. Fisicamente e psicologicamente, eu não desaprendo os exercícios, nunca tive problema de voltar as fazer o que fazia.
Metas para 2019
O início de 2019 vai ser bem mais forte para mim. Eu não tenho objetivo de Mundial, tenho em Copas do Mundo. Foi uma competição em que fui muito consagrado na minha carreira, tenho 69 medalhas, acho que sou recordista do mundo. É muita medalha. Devo ter participado em torno de 40 etapas.
Não tenho tantos objetivos no salto para este ciclo, o salto está bastante forte mundialmente. Vi o Mundial de ginástica, vi que tenho condição de chegar mais uma vez entre os melhores no solo se eu estiver treinando, então é um ano de me reerguer como atleta porque como pessoa acho que nada está faltando.
Classificação para Tóquio
Fui para os Jogos Olímpicos do Rio não por uma classificação minha. Para Londres e Pequim, eu me classifiquei pela minha vaga, individualmente. Agora nós temos uma equipe mais completa, que possibilita, mesmo eu não indo ao Mundial, se estiver entre os melhores no ano dos Jogos Olímpicos de 2020, também fazer parte. Eu tenho um objetivo, que também é possível, de conseguir uma vaga (individual) por Copas do Mundo. Se não conseguir, e estiver em condição de representar a equipe com chance de medalha, tenho essa segunda chance.
Arthur Zanetti
Eu e o Zanetti juntos atrapalhamos a equipe porque somos especialistas. Ele é um supercampeão, é uma chance real, atual e visível de medalha. Ele vai chegar ao Mundial do ano que vem com chance de medalha. A vaga dele é garantida se estiver em forma física ideal e trabalhando. É um cara que faz muito pelo esporte. Então não posso ser egoísta e pensar que tenho essa pretensão de Campeonato Mundial.
Rebeca
A Rebeca depende atualmente de não ter tantas lesões. Ela teve muitas que antecederam competições grandes. Ela é o maior fenômeno que a gente já teve no feminino na história. Temos uma excelente Flavinha, óbvio, muito carismática, com chances também. Temos grandes atletas, mas a Rebeca é o maior talento que já tivemos, mas a gente ainda depende que ela chegue em Mundiais e Olimpíadas na forma física ideal total dela. A gente precisa manter a Rebeca em uma academia, isso no feminino ainda precisa ser mais implantado.
Por Rede do Esporte