Iguaí: A próxima vítima pode ser você!
Investir na segurança no município é uma ideia louvável. Mas não é isso que vai mudar a triste situação em que a nossa cidade se encontra. Não adianta também conseguir com o Governo Estadual mais viaturas para o município. Não adianta ampliar a Delegacia, construir presídios ou penitenciárias. Nada disso vai resolver. O nosso problema é outro. Também não adianta construir muros altos ao redor de nossas casas, colocar sistema de segurança com câmeras, cercas elétricas etc. Um dia teremos que sair das nossas casas. Um dia os nossos filhos terão que ir à escola, à igreja, à sorveteria, à pizzaria… Não adianta tentar nos isolar em nossas prisões domiciliares achando que somos os tais. O nosso problema é outro.
O tempo do panis et circencis já acabou. Isso funcionava muito bem no império romano. Agora é o tempo do prato vazio e arma na mão. Ou você contribui para melhorar a qualidade de vida da população ou a sua vida também se tornará um caos. Não vão adiantar muros altos, sistema de segurança, câmeras, cercas elétricas, nada. Um dia teremos que sair de nossas casas. Seu filho poderá ser sequestrado, sua loja poderá ser assaltada em plena luz do dia. Ou a sociedade se reúne em torno de um projeto para tornar a nossa vida melhor ou a situação pode perder o controle. Você acha que é um pensamento pessimista? Então reflita sobre os últimos fatos acontecidos em nossa cidade e me responda: não está acontecendo aquilo que pensávamos jamais poderia acontecer em Iguaí, uma pequena e pacata cidade do interior do estado da Bahia?
Não vamos ficar apontando culpados, mas vamos nos reunir: poder público, instituições, ongs, igrejas, conselhos etc. O importante é acabar com essa hipocrisia de achar que tudo está bem, porque posso ficar de pose em meu carro importado. Você pode viver a vida como bem entender, ter seu carro do ano, ter o conforto de um lar para sua família, não há nenhum mal nisso. Só que você não pode fechar os olhos para os problemas sociais. Você faz parte da sociedade em que vive e pode, um dia, ser alvo dessa podridão que está ao seu lado. Não adianta fechar o vidro e ligar o ar condicionado. Esse é um problema de todos e nós vamos ter que resolvê-lo.
No nosso país, infelizmente ainda existem muitos que acham que o que vale é a lei do Gerson: “o importante é levar vantagem em tudo, certo?” Errado! Chega de querer ganhar dinheiro à custa da miséria e da pobreza da população. Chega de trocar ideologias políticas por cargos e vantagens que irão encher os bolsos depois das eleições, mesmo porque isso é crime eleitoral. Vender o voto é outro absurdo. Essa história do “rouba, mas faz” também é algo inconcebível. São essas maracutaias que levam a nossa sociedade a virar esse caos em que se encontra. O nosso país está assim por causa da má distribuição de renda, do desvio do dinheiro público e da corrupção.
Segundo Alvin Tofler, em seu livro “A terceira onda”, de 1980, a nossa sociedade foi formada através de três eras, que ele chamou de ondas. A primeira onda foi a da era agrária, em que valia aquele que possuía terras. Nesse período tinha o poder os grandes latifundiários que mandavam na política e na economia. Tudo girava em torno deles. A segunda onda foi a era da industrialização, onde mandavam os grandes empresários e donos de indústria. Também nesse período, tudo girava em torno deles. Agora estamos vivendo a terceira onda, que é a era da informação, do conhecimento. Em nossa época atual, tudo gira em torno disso. Infelizmente, o nosso município ainda vive na era agrária. Muitos ainda vivem a ilusão da posse da terra, como se fôssemos verdadeiros donos de algo que não nos pertence, como se o mundo girasse ao nosso redor.
A solução para o nosso problema está nos investimentos em educação, cultura, esporte e lazer. Isso diminuiria consideravelmente a criminalidade e o uso do álcool e de outras drogas. Infelizmente, é o que mais acontece em nossa cidade. Além disso, não podemos esquecer dos investimentos sociais em saúde, moradia, saneamento básico e geração de empregos. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. É preciso fazer muito mais, pois se não pensamos na nossa sociedade como um todo, estamos sendo egoístas. Infelizmente, vivemos numa sociedade que valoriza o ter e não o ser. Basta ter dinheiro no bolso, mesmo sendo roubado, que seremos idolatrados pela “elite” e pelos detentores do poder público. Junto a isso tudo, ainda encontramos os aproveitadores e oportunistas, que estão lado a lado desses senhores do dinheiro e do poder para levar alguma vantagem.
O que importa, no momento atual, é a detenção do saber. Portanto, vamos mudar a nossa mentalidade e investir mais na sociedade em que vivemos. Vamos buscar qualidade de vida para todos. Vamos criar condições para que todos possam viver com dignidade, sendo verdadeiros cidadãos. É necessário investir na sociedade em que vivemos, não pensar somente nos nossos bolsos, em nossas contas bancárias e no acúmulo de bens. O dinheiro gera o poder que gera a guerra e também os problemas sociais. Isso tudo nos leva a refletir se vale a pena viver em nossas prisões domiciliares, com medo do mundo que nos cerca.
Por José Carlos Assunção Novaes
Texto escrito em 2009 e publicado originalmente em www.cacaunovaes.zip.net