Nome de Tunai fica na eternidade das canções
Cantor e compositor mineiro morre aos 69 anos, deixando músicas gravadas por grandes intérpretes como Elis Regina, Fafá de Belém, Gal Costa, Simone e Nana Caymmi.
♪ OBITUÁRIO – “Só mesmo o tempo vai poder provar / A eternidade das canções”. Apresentados há 37 anos na voz de Gal Costa, em gravação feita para o álbum Baby Gal (1983), esses dois versos da canção Eternamente – escritos pelo letrista e poeta Sérgio Natureza – dizem muito sobre o legado de Tunai, criador da melodia.
Tunai – nome artístico do cantor e compositor mineiro José Antônio de Freitas Mucci (13 de novembro de 1950 – 26 de janeiro de 2020) – morreu na madrugada deste domingo, 26, aos 69 anos, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), vítima de parada cardíaca.
O artista sai de cena, mas deixa o nome na eternidade das canções que compôs e que, além da voz do autor, ganharam registros de cantoras da linha de frente da MPB. Além de Gal, Tunai foi gravado por Elis Regina (1945 – 1982), Fafá de Belém, Simone e Nana Caymmi, entre outras estrelas de primeira grandeza.
Foi Elis, a propósito, quem projetou Tunai como compositor em 1979, um ano após o artista ter decidido abandonar a faculdade de engenharia para se dedicar à música. Elis já estava com o repertório do álbum Essa mulher (1979) fechado. Mas decidiu reabri-lo assim que ouviu As aparências enganam, canção de Tunai com letra de Sérgio Natureza.
A cantora ficou tão entusiasmada com a composição que tirou Velho arvoredo (Hélio Delmiro e Paulo César Pinheiro, 1976) do disco para incluir As aparências enganam no álbum de 1979, ano em que a antenada Nana Caymmi deu voz a nada menos do que duas canções do então novato Tunai, Pra não chorar e Pra sempre, ambas com letras de Sérgio Natureza.
Começou ali para valer, naquele ano de 1979, a trajetória musical de Tunai, embora a rigor o compositor já tivesse sido lançado em 1978 por Fafá de Belém com a gravação de Se eu disser, música de Tunai e Sérgio Natureza apresentada sem repercussão no álbum Banho de cheiro (1978).
Tunai viveu o auge artístico na década de 1980. Em 1984, uma outra parceria de Tunai com Sérgio Natureza, Frisson, de tonalidade bem mais pop do que as densas canções lançadas por Elis e Gal, invadiu as FMs e o coração do público em gravação feita pelo próprio Tunai para o álbum Em cartaz (1984).
Frisson atravessou gerações em vozes como a da cantora Ivete Sangalo, que regravou a música em 1998, quando ainda era vocalista da Banda Eva.
Nascido na interiorana cidade mineira de Ponte Nova (MG), Tunai era irmão do também cantor, compositor e músico João Bosco. Contudo, jamais usou o nome consagrado do irmão (famoso desde 1972) para pavimentar os caminhos na música. Os irmãos sempre estiveram profissionalmente distantes um do outro, com a ressalva de que foi Bosco quem apresentou Tunai a Sergio Natureza (em 1977) e a Elis.
Parceiro de importantes letristas mineiros como Fernando Brant (1946 – 2015) e Márcio Borges, autores dos versos das composições Rei (1981) e Raras maneiras (1986), Tunai atravessou os anos 1980 com músicas gravadas regularmente por grandes nomes da MPB.
Somente Simone gravou sete composições de Tunai, incluindo a já mencionada Raras maneiras. Depois das dez (1983), Só de amor (1983) e Tinha de ser (1985) são de Tunai com o recorrente parceiro Sérgio Natureza. Água na boca (1985) é de Tunai com Abel Silva. Olhos negros (1988) e Apaixonada (1989) são canções assinadas somente por Tunai.
Já Milton Nascimento compôs Certas canções com Tunai e lançou a música em álbum de 1982. A parceria foi ampliada com Mar do nosso amor (1984) e Rádio experiência (1984), lançadas nas vozes de Tunai e de Beto Guedes, respectivamente.
Tunai também fica imortalizado por canções e baladas de romantismo pop sensual como Sintonia (1985), composta com Sérgio Natureza na cola de Frisson. Mas também deixou samba, blues-rock e bolero em obra sintetizada pelo cantor e compositor no álbum Eternamente…, songbook lançado em 2011 com participações de Milton Nascimento, Simone e Zélia Duncan, entre outros nomes.
Mais recentemente, no ano passado, Tunai festejou 40 anos de carreira com Caderno de lembranças (2019), álbum que, ao contrário do que faz supor o título, apontou futuro para Tunai com repertório majoritariamente inédito.
Cantor de dotes modestos, Tunai teve a obra amplificada em grandes vozes como as de Elis, Fafá, Gal, Nana Caymmi e Simone. Essas cantoras contribuíram para que o nome de José Antônio de Freitas Mucci, o Tunai, esteja imortalizado na eternidade de certas canções que compôs nos anos 1970 e 1980.