Ela fala de som pesado e diz ‘valorizar saúde’ após internação em 2013. Cantora exalta Valesca Popozuda e comenta ação trabalhista de ex-colega.
Em 2013, Pitty passou por uma “experiência de quase-morte”, ela conta ao G1. “Sabe aquela coisa que os mais velhos falam, ‘quem tem saúde tem tudo’? Ano passado aprendi o verdadeiro significado dessa frase”, diz. Em 2013, a cantora foi internada na UTI e teve uma “parada estomacal”, segundo sua assessoria. Ela não dá mais detalhes sobre o problema de saúde. No novo disco, “Setevidas”, ela desafia a morte na faixa-título: “Viver parece mesmo / Coisa de insistente”.
O período de composição das músicas, segundo Pitty, foi “difícil”. Outra faixa nova, “Lado de lá”, fala da morte do ex-guitarrista Peu. O músico se matou em maio de 2013. No mesmo período, a cantora enfrentava uma disputa com outro ex-integrante de sua banda. O baixista Joe tem um processo trabalhista aberto contra o grupo de Pitty. “É muito triste você ver uma pessoa jogar fora seu caráter e honra por causa de dinheiro”, ela diz. O G1 tentou contato com Joe, mas ele não quis comentar o assunto.
O tom, no entanto, não é triste. Durante a gravação, ela diz que teve “vontade de engolir o mundo”. O som é sujo e pesado, e remete aos temas que a cantora aborda desde o início da carreira. O poder feminino é um deles. “Traz alguém, que saiba de amor / Sem o porém de adestrador / Pois nunca há de haver feitor aqui”, canta em “Um Leão. Pitty elogia o feminismo de Valesca Popozuda e compara: “Somos mulheres exercendo o direito de ser”.
G1 – O disco não tem nenhuma balada romântica na linha de ‘Equalize’, ‘Na sua estante’, ou do Agridoce. O que te levou para esse lado mais sujo e pesado?
Pitty – A vida, eu acho (risos). Não penso nisso na hora de compor, vou fazendo as músicas e depois é que se vê o conjunto da obra. E nesse momento foi assim.
G1 – Há percussões mais fortes, e você já falou da referência do candomblé. Qual é sua relação com o candomblé? Por que apareceu neste disco?
Pitty – Sempre admirei a mitologia do candomblé, mas principalmente sua parte rítmica sempre me chamou a atenção. Os toques de cada orixá, os instrumentos; é tudo muito primitivo e ao mesmo tempo sofisticado no que diz respeito a tempos, acentos, levadas. Ainda não sei exatamente porque isso bateu pra mim agora, mas acho que tem a ver com uma mistura de banzo e de vontade de dar vazão a uma memória afetiva e primal.
G1 – Em 2013, o rock teve o pior resultado nas rádios do país. Por que acha que o estilo passa por essa má fase comercial? Ao gravar e fazer shows, você pensa em fortalecer o rock brasileiro?
Pitty – Acho que tudo é fase, e onda. Elas vêm e vão, mas o rock está sempre aí, ele é “highlander”: quando você menos espera ele ressurge mais forte do que nunca. E eu estou bem otimista, vejo um bom momento vindo aí. Várias bandas gravando e lançando discos legais, as principais rádios de rock de volta, público interessado. Espero contribuir de alguma forma, e de toda forma também sempre estarei aqui fazendo a minha parte, em qualquer fase.
G1 – Um dos destaques da música brasileira de 2014 é Valesca Popozuda. Ela diz que ‘ser vadia é ser livre’. Você concorda? Vê um paralelo entre o seu trabalho e o dela?
Pitty – Entendo totalmente o que ela quer dizer com essa frase. É um pensamento que tem a ver com ideais feministas. Uma “vadia”, perante essa sociedade machista, é uma mulher que usa saia curta ou decote e por isso “tá pedindo”, que ousa sair sozinha, que anda nas ruas a noite, que comete o disparate de emitir opiniões, que fala sobre e gosta de sexo. Ou seja, uma mulher livre. Se para esse sistema patriarcal, ter direitos sobre o próprio corpo e a própria vida é ser “vadia”, então, somos todas vadias. O paralelo que vejo entre nossos trabalhos é esse: somos mulheres exercendo o direito de ser.
G1 – O que te levou a fazer a letra de ‘SeteVidas’, especialmente na parte sobre ‘mar vermelho, se arrastando do quarto para o banheiro, pupila congelada’?
Pitty – Uma experiência de quase-morte. Sabe aquela coisa que os mais velhos falam, “quem tem saúde tem tudo”? Pois é. Ano passado eu aprendi o verdadeiro significado dessa frase.
G1 – As letras sugerem uma época turbulenta de vida. O período de preparação e gravação do disco foi difícil?
Pitty – Não. O difícil foi antes, e acho que isso se refletiu na composição. Na hora de gravar estava numa fase muito boa, me sentindo animada, forte e com vontade de engolir o mundo.
G1 – O que você sentiu quando o Joe entrou com uma ação trabalhista contra a banda?
Pitty – Uma decepção muito grande. É muito triste você ver uma pessoa jogar fora seu caráter e honra por causa de dinheiro. A gente sabe que isso acontece por aí, mas ver de perto é mais triste. Mas eu não quero deixar que isso me endureça, quero continuar confiando no ser humano. Esse também não é meu assunto agora, meu foco é no disco, é isso o que importa.
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Por Rodrigo Ortega / Do G1, em São Paulo
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