Prisão de pastora não foi surpresa para família de Kauã, diz avó
A prisão da pastora Juliana Sales Alves, mãe dos irmãos mortos em um incêndio em Linhares, no Norte do Espírito Santo, não surpreendeu a família paterna de uma das crianças. A avó de Kauã, Marlúcia Butkovsky, disse que a postura de Juliana após o crime gerou desconfiança.
“Para uma mãe que fica tão omissa diante de toda a gravidade do que aconteceu, não pode ser surpresa”, disse Marlúcia.
Juliana é mãe de Joaquim, de 3 anos, e de Kauã, de 6 anos e agora é ré na Justiça. As crianças morreram carbonizadas dentro de casa, em Linhares, no dia 21 de abril.
O marido dela, o pastor George Alves, está preso desde o dia 28 de abril. Ele foi indiciado por estuprar, agredir e queimar as duas crianças.
Segundo o Ministério Público, Juliana foi omissa, pois sabia que os filhos corriam risco ao ficarem sozinhos com George.
Agora, o MP pediu a prisão preventiva de Juliana e de George Alves, por tempo indeterminado, pelos crimes de duplo homicídio, estupro de vulneráveis e fraude processual. George ainda vai responder pelo crime de tortura.
Família de Kauã
Joaquim era filho de Juliana e George. Já o mais velho era fruto da relação da pastora com Rainy Butkovsky. Ele não quis falar com a imprensa, mas a mãe dele, Marclúcia, disse que o filho está abalado com toda a situação.
“Ele está muito abatido, como todos nós estamos. Estamos vivendo dia após dia e pedindo para Deus nos sustentar. Quando você pensa que vai caminhar de uma forma, vem outra notícia que te faz cair”, disse.
Marlúcia conta que estranhou a atitude de Juliana de ter permanecido ao lado do marido após o incêndio que matou as crianças.
“A gente imagina que ela teve uma certa participação por estar com ele durante uma semana, quando ele ainda não estava na prisão. Isso não é atitude de mãe. Parece que ele não fez nada. Não dá para entender.
A avó de Kauã acrescentou, ainda, que espera justiça pela morte do neto.
“Se ela [Juliana] teve [participação no crime], vai ser esclarecido. Qualquer pessoa que tenha sido conivente com essa barbaridade que aconteceu, tem que pagar, não importa se foi antes ou depois. Não pode ficar impune”, disse Marlúcia.
Prisão em Minas
O mandado de prisão por homicídio qualificado contra Juliana Sales Alves foi expedido pela Justiça de Linhares na segunda-feira (18).
“No ordenamento jurídico brasileiro, a omissão de uma mãe tem um desvalor equivalente a uma ação. Ela tinha pleno conhecimento do risco e podia evitar esse resultado trágico. Ela responde, com o não agir de uma mãe, pelo mesmo crime. Por isso, hoje, a Juliana é formalmente ré”, afirma a promotora responsável pelo caso, Raquel Tannenbaum.
De acordo com a polícia, no momento da prisão, Juliana estava escondida na casa de um pastor que é advogado da família.
Ela estava com o filho de 1 ano e um mês. A criança foi encaminhada para o Conselho Tutelar.
Crime
O crime aconteceu no dia 21 de abril. Inicialmente, o pastor George Alves, que é pai e padrasto dos meninos, disse que ele morreram em um incêndio que atingiu apenas o quarto onde as vítimas dormiam.
Mas, segundo a polícia, a versão dele não estava de acordo com os fatos apurados durante as investigações.
A Polícia Civil concluiu que o pastor George Alves matou o próprio filho e o enteado. De acordo com as investigações, as crianças foram estupradas, agredidas e queimadas vivas.
No dia do incêndio, a mãe disse que estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal.
No enterro dos filhos, ela estava acompanhada de parentes e da polícia, já que tinha solicitado escolta por segurança.