Vontade e postura destemida não evitam ippon e eliminação de Leonardo Gonçalves

Vice-campeão mundial júnior em 2015, atleta de 23 acaba surpreendido na estreia, numa luta em que dominava amplamente as ações
Leonardo Gonçalves já tinha avisado na véspera. Quando entra no tatame e olha para o adversário, pensa sem titubear que treinou mais. Tem certeza de que ninguém quer mais do que ele. Não imagina outro resultado que não a vitória. Não deixa o rival respirar.
Foi justificando esse espírito que o vice-campeão mundial júnior em 2015 entrou no tatame da Nippon Budokan, em Tóquio, para a sua estreia no Mundial Adulto. Do outro lado estava Zelym Kotsoiev, do Azerbaijão. Leonardo é o atual 17º do mundo. O adversário de 21 anos, o 18º e foi campeão mundial júnior em 2017.
Leonardo buscou a iniciativa em cada um dos 71 segundos de luta. Aproveitando a estatura de 1,90m, puxou gola e manga do adversário, tentou a imobilização no solo, provocou uma punição por falta de combatividade em Kotsoiev e quase encaixou um waza-ari. A postura destemida, contudo, esbarrou num descuido. O rival acertou um golpe perfeito, inicialmente pontuado como waza-ari, mas em seguida corrigido pela conferência de vídeo.
“Meu estilo de luta é assim, sempre para frente. Infelizmente não foi o resultado que eu estava buscando no Mundial, mas vou voltar e treinar ainda mais, porque sei do meu potencial, sei o quanto faço para estar aqui. Quem assistiu à luta viu que eu estava melhor, mas entrou um golpe forte, encaixou. Não deu tempo de reação”, afirmou Leonardo, chateado com o fato de ter perdido uma oportunidade de subir no ranking.
“Nos dois estávamos muito próximos. Era uma luta importante para o ranking mundial e olímpico. Mas vou seguir forte. Levantar a cabeça e procurar resultados para voltar aqui nos Jogos Olímpicos”, disse o atleta, que na temporada ficou entre os cinco melhores em quatro ocasiões no circuito internacional, com direito a uma prata no Campeonato Pan-Americano de Lima e um bronze no Grand Prix de Montreal, no Canadá.
A lesão no cotovelo direito, que impediu o atleta de disputar os Jogos Pan-Americanos de Lima, está 100% resolvida, segundo o judoca. “Vim para cá 100% recuperado. Não atrapalhou em nada aqui. Não influenciou no resultado do Mundial, para deixar bem claro. É esporte. Hoje infelizmente não foi a minha vez, mas vou voltar”, avisou.
Confira a luta do brasileiro em Tóquio
Investimentos federais
Evento-teste para os Jogos Olímpicos, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa de Tóquio em 2020. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.
Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.
Além disso, 12 dos 18 atletas, entre eles Leonardo Gonçalves, estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).
“Eu já passei por várias etapas do Bolsa Atleta. Fui do Nacional, do Internacional e agora da categoria Pódio. Quem recebe sabe que é surreal de importante para um atleta. Desde os 16 anos recebo. Foi a diferença entre continuar treinando e ter de fazer ‘correria’ para ajudar em casa. Se você tem patrocínio do pai, beleza. No meu caso, não tinha. A Bolsa sempre ajudou demais”, disse Leonardo.
Por Rede do Esporte