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“É AINDA POSSÍVEL A POESIA?”
05 de Outubro de 2010, às 09:30
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Por Antonio Naud Júnior
Autor de “Suave é o Coração Enamorado” (Via Litterarum, 2006), que pode ser encomendado através do site www.vialitterarum.com.br

Quando me aproximo de um novo poeta, pergunto-me o que o leva a tanto ou tão-pouco, que desesperança, que pureza, que oculto mistério se procura indo por tal caminho, utilizando a mais discreta e a mais desprezada das artes. A própria forma exige enigma, limitação, minúcia e segredo. O que está em causa é preservar o real ou preservar a imaginação? Não é simples a busca para a qual se convoca cada um dos leitores.

Vivemos no tempo do desencanto da poesia. “É ainda possível a poesia?”, esse o título que Eugenio Montale deu ao seu discurso quando recebeu, em 1975, o Prêmio Nobel. A resposta continha ainda alguma esperança. Mas os condicionalismos perversos que se faziam sentir, não deixaram de se agravar de um modo sempre mais e mais lamentável. O mundo atual, com as legiões de robotizados, a crueldade urbana, a miséria gritante, a infindável guerra do Iraque, a corrupção, a politicalha fascista, a poluição, a péssima formação educacional, os amores descartáveis, a imprensa chinfrim e o vazio generalizado, tornou-se um espetáculo inominável. Um festival de bajulados e bajuladores, de individualismo, vaidade e tolices sem espaço para Lúcio Cardoso, Cecília Meirelles, Cornélio Pena ou Octávio de Faria. Só é bem informado quem assiste ao Big Brother, telenovelas, Faustão e Jô; ouve Ivete Sangalo, Zezé de Camargo e Luciano; lê a Veja, Lya Luft e outros autores (?) de auto-ajuda. O avanço tecnológico acelerado parece que atrofiou mentes e estrangulou sensibilidades.

As edições de poesia diminuem as tiragens, os jovens lêem cada vez menos, e de poesia bem pouco. As editoras e os suplementos literários reservam um espaço cada vez mais exíguo aos poetas. São os párias modernos. Perante tudo isto, será a poesia um refúgio, um subúrbio da melancolia? E o que leva um homem como Antônio Carlos Secchin, gentil, cheio de talento, crítico sagaz, a escrever empenhadamente versos? Só a palavra é o caminho, talvez este o primeiro passo da arte poética do autor. No mundo bandido à sua volta, nele, não se detém – o poeta coloca a palavra certa na imagem íntima do verso, a palavra que sussurra o próprio tempo.

Estes “todos os ventos” do título, que significam? Um sonho, um delírio, um presságio, uma tempestade que se aproxima, a viva descoberta de inúmeras possibilidades líricas? Em Antônio Carlos Secchim a poesia é partilhada com a emoção estudada, pertencem ao mesmo magma criador. A presença da palavra elaborada, cintilante de memória e sabedoria, faz-se intensa e viva, num mergulho na poética brasileira de ontem e hoje. Entretanto, Secchin é poeta de expressão singular, irônica, satírica, de bem com a vida. Ele veio para ficar. Ao contrário de outros poetas que procuram esconjurar um cotidiano sórdido, o que conta aqui não é a imperfeição do mundo, mas o milagre das palavras, as suas peregrinações. Venerado em vida como um santo, Bashô (1648-1694) era um eremita errante, fazia longas, inexplicáveis viagens, contribuindo com o seu ensino (a frágil magia dos versos) aos poetas que encontrava ao longo do caminho, e eram mais de 2000 os seus discípulos, os seguidores de voláteis hai-kais: “Mal-estar na viagem / Os meus sonhos percorrem / Os campos desolados”. É essa a súbita fulguração, a regência íntima das coisas, a soberania do tempo, todos os ventos, a sombra da morte, a inesperada, mas luminosa, viagem sem limite. De Bashô e de verdadeiros poetas como Antônio Carlos Secchin.

“Todos os Ventos” é um livro que não conhece repouso, que pulsa, desperto e em constante vigília. Abrindo caminho para que se percebam os traços singulares de sua literatura, o autor seduz o leitor ao instaurar uma visão de mundo densa, antenada e perfumada de prazer pelo seu próprio oficio. Tudo é poesia na poesia de Secchin. Tudo é João Cabral, Gullar, Bandeira, Secchin. Sem qualquer desperdício verbal, “Todos os Ventos” surpreende a cada página. Só peca com suas intermináveis dedicatórias e inteligentes aforismos que não cabem na companhia harmoniosa de seus versos.

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