Deus e o Diabo na Terra do Sol: 50 anos de um clássico

10/jul/2014 . 9:27


Aos 50 anos, Deus e o Diabo na Terra do Sol, que impactou meio mundo em 1964, quando estreou, está envolto em uma aura mítica de efemérides. Multiplicam-se as datas marcantes – da primeira exibição para um público restrito, ocorrida em 13 de março daquele ano, passando pela consagração como concorrente à Palma de Ouro em Cannes, em maio, ao lançamento comercial nos cinemas, em 10 de julho, em três cinemas do Rio de Janeiro: Caruso, Ópera e Bruni-Flamengo.

Deus e o diabo na terra do sol

Nada mais natural para aquele que é considerado o grande filme de Glauber Rocha e um dos melhores – senão o melhor – já realizados no país, saudado desde o início como marco do Cinema Novo. Deus e o Diabo, este ano, já foi homenageado em simpósio realizado pela Uneb, em março, nas cidades de Euclides da Cunha, Monte Santo e Canudos, e no 18º Cine-PE, entre 26 de abril e 2 de maio. E ganhará destaque na abertura do Festival de Brasília no próximo dia 16 de setembro. 

“Se fosse na Europa estariam fazendo um mês de homenagem a Glauber e ao cinema dele”, brada o ator Othon Bastos, o Corisco de Deus e o Diabo, por telefone. “As pessoas estão interessadas somente em Copa do Mundo e política. Cultura é bosta para eles”, complementa Othon, para constatar a deterioração do Tempo Glauber, espaço destinado à preservação da obra do cineasta baiano em Botafogo, no Rio e Janeiro, e a pouca badalação em torno do filme.

Honra e glória

“A honra é de Glauber, um menino de 23 anos que fez um filme como este, uma obra perene”, completa o ator baiano, natural de Tucano, que percorreu os caminhos do sertão baiano, em 1963, com Yoná Magalhães, a Rosa; Geraldo Del´Rey, o vaqueiro Manuel; Lídio Silva, o beato Sebastião; e Maurício do Valle, Antonio das Mortes, o Matador de Cangaceiros, para compor, com a equipe liderada pelo cineasta nascido em Vitória da Conquista, uma ópera a um só tempo lírica e seca.

“Não tenho nada para falar. A glória não é minha. Eu tive a sorte e a honra de participar desse filme com pessoas que se atiraram de cabeça nessa produção, como Yoná, Geraldo Del’Rey, Paulo Gil Soares e Walter Lima Jr.”, fala Othon. Aos 81 anos de idade, e celebrado entre os grande atores brasileiros de todos os tempos, ele carrega na bagagem o status de ter feito o papel de Corisco, um dos mais importantes personagens da cinematografia brasileira, ao lado do Antônio das Mortes de Maurício do Valle.

Descaso e cultura

“Não me surpreende nada. Esse tipo de relação eu não sofro mais, porque esse descaso em relação à memória e à cultura brasileira é absolutamente comum”, fala Paloma Rocha, filha do cineasta. “Então, se eu ficar o tempo todo reclamando disso eu morro antes do tempo. E de fato agora vai ser feita uma homenagem no Festival de Brasília. Em um país de Copa do Mundo, as coisas são muito diluídas. Então não adianta ficar muito reclamando”, completa.

Paloma prefere não misturar os dois temas – os 50 anos do filme com o Tempo Glauber. 
“Eu não gosto de colocar isso no âmbito dessa retórica. Não é um problema específico de Deus e o Diabo. E eu não gosto, vou deixar claro isso”, fala, para em seguida revelar que o problema é muito mais amplo: “Esquecido, tem um motivo – a falta de interesse político que a gente vive no Brasil, de interrupção dos programas e tal”. 

Ela afirma que existem interesses isolados, como o do Festival de Brasília, algumas solicitações feitas por cineclubes, mostras, na América Latina e na Alemanha, a TV Brasil. “Você não consegue nenhuma pauta na televisão, porque está tudo mobilizado por causa da Copa. Então, a gente tem que esperar para o segundo semestre alguma coisa”.

Histórias

O cineasta Roque Araújo, maquinista e eletricista de Deus e o Diabo na Terra do Sol, tem histórias para contar sobre as filmagens. Uma delas diz que Glauber não tinha ator para o personagem do cego Júlio – um dos narradores da história, uma espécie de profeta Tirésias da mitologia grega –, e escolheu o motorista que nunca havia atuado. “Mas ele disse: ‘Eu não sei tocar”. Glauber então falou: ‘Não tem nada não. Deixe o violão nas costas e só faça andar’”. 

Por Adalberto Meireles / Cineinsite

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