Carpegiani rebate dirigente: ‘Não tem convicção para permanecer na elite’

24/out/2012 . 20:02


Por Thiago Pereira/Globo Esporte Salvador

Técnico destaca que não volta ao Vitória enquanto Portela for presidente e dispara: ‘Se não subir, coloca uma faixa de incapaz e passeia no Pelourinho’

Carpegiani fala de sua saída do Vitória
(Foto: Thiago Pereira/Globoesporte.com)

As críticas feitas pelo presidente do Vitória, Alexi Portela, ao técnico Paulo César Carpegiani não ficaram sem resposta. Nesta quarta-feira, o treinador recebeu a equipe do GLOBOESPORTE.COM em casa para esclarecer os pontos ainda obscuros de sua saída do Rubro-Negro. Já de malas prontas para o Rio Grande do Sul, o ex-comandante da equipe baiana deixou a serenidade de lado e disparou contra o cartola, a quem chamou de inconstante e inseguro.

- O presidente é muito influenciável e mostra insegurança. Isso traz consequências. Por isso que, em um ano, o time sobe e, no outro, cai. Não tem convicção para permanecer na elite do futebol – disse Carpegiani, visivelmente chateado com a demissão.

Fora do Vitória desde o último domingo, o treinador declarou que foi o último a saber que estava de saída do clube. Ele confirmou que foi chamado à sala da direção para uma reunião logo após Alexi Portela conversar com o auxiliar Ricardo Silva – que foi promovido a técnico com a decisão da demissão. A maneira como tudo foi feito irritou Carpegiani, que, apesar de reconhecer a queda de rendimento do time, lembrou que o Vitória ainda estava em posição confortável na tabela de classificação.

- Não posso concordar com o jeito que tudo foi feito. Eu deveria ser a primeira pessoa a saber que estava de saída. Mas, quando fui chamado pelo presidente, ele já tinha conversado com o Ricardo Silva. A demissão me pegou de surpresa. Disse para ele: “Para que lado eu vou depois de sair com a campanha que estamos fazendo? Temos 63 pontos, 94% de chance de subir e o senhor me faz esse tipo de colocação?” Mas tudo bem. Muitas vezes na vida é necessário dar um passo para trás para se conseguir dar dois para frente. E faço isso sem nenhum constrangimento – afirmou.

Segundo Carpegiani, durante a reunião, Alexi Portela mostrou-se desconfiado sobre o potencial do time na reta final da Série B. De acordo com o treinador, o medo de não conquistar o acesso para a Primeira Divisão e influências vindas de outros membros do clube foram fundamentais para o presidente optar pela demissão.

- Ele me falou que estava com receio de não classificar. Respondi que ele estava brincando comigo. Com a campanha que fizemos, não resta a menor dúvida que conseguiríamos subir. Considero o presidente inseguro. Ele passa essa insegurança. É uma pessoa influenciável. Vai pelo “zumzumzum”. Sai um dia e volta no outro a mil, fazendo cobranças inexplicáveis. Minha opinião é essa. Ele tem uma falta de convicção muito grande. Talvez na vida particular seja convicto. Mas, no futebol, por não ter o domínio necessário, ele não tem convicção – destacou Carpegiani.

Sem papas na língua, o ex-técnico do Vitória aproveitou para alfinetar Portela. O treinador lembrou que o clube baiano ainda não possui títulos de âmbito nacional, enquanto ele já foi campeão brasileiro com o Flamengo e possui no currículo uma passagem pela Copa do Mundo de 1998.

- Acho que a pessoa menos capaz de me julgar é o Alexi. Se ele fosse uma pessoa com maior capacidade, talvez com títulos… Eu e os jogadores é que abrimos a porta para que ele chegasse à possibilidade de conquistar agora o primeiro. Nem preciso dizer os títulos que eu tenho. Não preciso fazer esse tipo de comparação. Mas acho que, em um momento de indefinição, ele começa a ficar meio perturbado – pontuou.

Confira abaixo a entrevista completa com o ex-técnico do Vitória:

Como você encara a sua saída do Vitória? O time vinha de uma derrota, mas não corria riscos de sair do G-4. Você acha que houve injustiça?

Fui chamado para uma reunião no domingo pela manhã, onde fui comunicado da decisão de que eu estava fora do clube. O presidente tem o direito de fazer o que bem entende. Só não posso concordar com o jeito que tudo foi feito. Eu deveria ser a primeira pessoa a saber que estava de saída. Mas, quando fui chamado pelo presidente, ele já tinha conversado com o Ricardo Silva. A demissão me pegou de surpresa. Disse para ele: “Para que lado eu vou depois de sair com a campanha que estamos fazendo? Temos 63 pontos, 94% de chance de subir e o senhor me faz esse tipo de colocação?”. Mas tudo bem. Muitas vezes na vida é necessário dar um passo para trás para se conseguir dar dois para frente. E faço isso sem nenhum constrangimento.

Quais foram as justificativas do presidente Alexi Portela para te demitir?

Ele me falou que estava com receio de não classificar. Respondi que ele estava brincando comigo. Com a campanha que fizemos, não resta a menor dúvida que conseguiríamos subir. Considero o presidente inseguro. Ele passa essa insegurança. É uma pessoa influenciável. Vai pelo “zumzumzum”. Sai um dia e volta no outro a mil, fazendo cobranças inexplicáveis. Minha opinião é essa. Ele tem uma falta de convicção muito grande. Talvez na vida particular seja convicto. Mas no futebol, por não ter o domínio necessário, ele não tem convicção. Isso que estou falando não é retaliação ao presidente. É convicção minha. O Juvenal Juvêncio, por exemplo, tem pulso. Estava em terceiro lugar lá no São Paulo e fui demitido. Mas pelo menos ele teve pulso.

E por quais motivos você acha que foi demitido?

Não sei. Talvez por ter ficado nas arquibancadas nos jogos, e não no banco de reservas. Talvez não ter aceitado mais um ano de contrato, como eles queriam. Ou quem sabe o Alexi me ache um péssimo treinador.

É verdade que você pretendia deixar o seu filho, o Rodrigo Carpegiani, assumir o comando da equipe na reta final da Série B?

Em primeiro lugar, não sou presidente do clube. Não posso colocar ninguém à força lá dentro. Tive encontros quase que diariamente com o presidente, e em um deles disse que o Vitória estava em um estágio muito bom e que rapidamente conseguiríamos a classificação. Falei para ele que, quando o acesso estivesse garantido, eu queria ser liberado. Disse no vestiário para o Rodrigo e o Ricardo que, conseguindo a classificação, deixaria o time para eles serem campeões. Mas claro que isso passaria pelo crivo do presidente. Mas teve o lado temperamental do Alexi, que não ouviu isso ou não entendeu dessa forma e resolveu partir para uma colocação bastante agressiva com a qual eu não concordo. Jamais pensei em colocar o Rodrigo como técnico. Pensei em garantir a classificação do Vitória e depois me retirar para que ele e o Ricardo fossem campeões.

O presidente do Vitória negou em entrevista que você tivesse pedido demissão. Ele afirmou que até uma multa contratual havia sido paga…

Tem uma cláusula no meu contrato que ele chama de multa. Mas é uma garantia em virtude da minha última passagem pelo Vitória. Naquele ano, vínhamos de uma boa campanha, estávamos na parte de cima da tabela e, depois de um empate em casa com o Fluminense, ele me demitiu. Por isso tomei essa medida de colocar no contrato essa cláusula, que previa que, se eu estivesse na zona de classificação e fosse demitido, receberia um determinado valor. Conheço o presidente, e ele poderia me dizer na última rodada: “Sai, o time já está classificado, agora sai”. Na reunião do último domingo, o Queiroz me pediu para abrir mão dessa cláusula, mas não aceitei.

Você está magoado com a demissão?

Não estou magoado de forma nenhuma, mas acho que foi deselegante. Como se chama esse tipo de atitude? Não sei qualificar. Acho que isso parte de pessoas não conceituadas. Quando ele me disse que eu estava fora, falei: “Que situação é essa? Até para o senhor vai ficar ruim. Como o senhor vai justificar se o rendimento da equipe cair nas próximas rodadas?”. Eu entendi o que ele queria. Os jogadores precisam ter esse susto. Tivemos uma queda natural no segundo turno, e a equipe precisava se recuperar. É aceitável. Mas deixei o clube com 63 pontos e com 94% de chances de subir.

O presidente afirmou que você é perfeccionista e que por isso perdeu o comando do grupo. Concorda com essa opinião?

Ser perfeccionista é um defeito que eu tenho. Mas não quero perder isso nunca. Tento ensinar os jogadores o correto e não passo a mão na cabeça de ninguém. Talvez isso tenha chateado ele.

E os problemas com os jogadores? Durante o período em que você foi técnico do Vitória, houve episódios em que o discurso dos jogadores e o seu não bateram.

Tive problemas de organização, como foi o caso do Uelliton, Léo, William e Nino. O Uelliton foi fazer um treinamento e sentiu a lesão. Quando cheguei na concentração, ele estava fazendo tratamento. Ele disse que estava excelente, mas o deixei fora do jogo. Se isso é perda de comando, então eu perdi o comando. Sempre fui muito justo e muito franco, tratando tudo na cara.

A diretoria do Vitória tentou interferir na escalação do time?

Não. Tive encontros quase diários com o presidente. Mas ele não impôs escalação de jogador A ou B. Tenho o direito de ter minhas preferências e colocar para jogar quem eu quero. Ele tem as preferências dele, expressadas e que algumas situações coincidem com a escalação. Jamais teve interferência. Tem meninos que não são bem quistos por ele e mesmo assim jogaram.

Alexi Portela afirmou que você rejeitou as contratações que a diretoria pretendia fazer quando a Série B já estava em curso. É verdade?

É bom que se frise que ele tem méritos por montar o time. Só indiquei um jogador, que foi o Marco Aurélio. Mas o elenco tinha carências e entrou assim na fase de encerramento da Série B. Eles não queriam um jogador caro. Então trouxeram jogadores que estavam encostados em alguns clubes. Não iam me dar jogador para ser titular. E, para compor o grupo, não há diretor que não me faça pegar os meninos da base. Vi que ele me criticou por isso e acho ridículo esse tipo de colocação. Além disso, o presidente é bastante temperamental. Ele rebaixou o Dankler para a divisão de base, quis fazer uma pressão no empresário do garoto. Mas isso não compete a mim analisar. Ele simplesmente afastou o menino sem dar um motivo claro. Depois ele chegou e me perguntou se queria um jogador para parte defensiva. Queriam me dar um jogador que não viria para jogar.

O presidente Alexi Portela disse que você deveria encerrar a carreira…

Acho que a pessoa menos capaz de me julgar é o Alexi. Se ele fosse uma pessoa com maior capacidade, talvez com títulos… Eu e os jogadores é que abrimos a porta para que ele chegasse à possibilidade de conquistar agora o primeiro. Nem preciso dizer os títulos que eu tenho. Não preciso fazer esse tipo de comparação. Mas acho que, em um momento de indefinição, ele começa a ficar meio perturbado.

O Vitória venceu o CRB na última terça-feira. Acha que o time jogou bem?

Isso não me diz mais respeito.

Como foi o processo de negociação para treinar o Vitória? Na época que foi apresentado você disse que podia ter um projeto em paralelo.

Antes de vir para cá, estava negociando com a seleção paraguaia, mas ainda não tinha acertado financeiramente. O Alexi Portela moveu mundos e fundos para me ter aqui, a ponto de se sujeitar que eu dirigisse a seleção e o Vitória. Além disso, eu ganhava como se estivesse treinando um time de Série A. Ele sabia o esforço que estava fazendo e mesmo assim me trouxe. Alguns dias atrás, quando o Felipão estava no Palmeiras, ele disse que tinha a mim e o Felipão como diferenciais do futebol brasileiro. E, depois de dizer isso, ele decide me demitir. O que explica ele tomar uma atitude dessas? Temos uma ótima campanha, estávamos na porta de entrada da Série A. O que explica? O presidente é muito influenciável e mostra insegurança. Isso traz consequências. Por isso que, em um ano, o time sobe e, no outro, cai. Não tem convicção para permanecer na elite do futebol.

Pensa em um dia voltar a treinar o Vitória?

O Vitória é uma agremiação fantástica, que tem torcida fanática. Estou convicto de que deveriam dar uma oportunidade para a oposição gerir o clube. Com essa continuidade de comando, não tenho o menor interesse de trabalhar no Vitória. Com esse seguimento, (o Vitória) não vai chegar a lugar nenhum. Por dinheiro nenhum no mundo voltaria com essas pessoas na direção.

Você disse que o Goiás é o favorito ao título, o que gerou críticas do presidente Alexi Portela. Não acredita que o Vitória possa conseguir terminar a copetição em primeiro lugar?

O presidente é bastante temperamental. Os times que estão nos primeiros lugares sempre serão candidatos ao título. Na lógica, o Goiás é quem pratica melhor futebol no momento, por isso deve ser campeão. O Vitória também tem condições. O acesso já está garantido. Se não conseguir subir, é para colocar uma faixa de incapaz e ir passear no Pelourinho.

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