Fábio Santos – Uma vida revolucionária dedicada à causa do povo

16/mai/2013 . 7:59


Fábio Santos era professor, militante, dirigente partidário formado em Pedagogia pela Uneb – Universidade do Estado da Bahia. Ele combinou os diversos talentos como quadro organizador, militante convicto das causas populares e defensor da reforma agrária e da transformação social em nosso país. Como um militante, teve uma vida inteira envolvida com as causas sociais do povo pobre e oprimido, principalmente de Iguaí.

(Foto: Valmir Assunção / Arquivo pessoal)

(Foto: Valmir Assunção / Arquivo pessoal)

Fábio descobriu o gosto de ser povo ainda jovem quando militava nas comunidades eclesiais de base na zona rural de Iguaí, onde ajudou a fundar muitas das comunidades existentes neste município. Era um estudioso da bíblia sagrada, mas não abria mão também de seus ideais marxistas e socialistas, onde sonhava sempre com um mundo melhor e mais justo para todos.

Fábio, no último período, esteve a frente na luta pela terra e pela reforma agrária no município de Iguaí e região, onde foram travados vários embates em torno da difícil luta pela conquista da terra,chegando a ser preso juntamente com mais nove militantes do MST em uma possível emboscada armada pela policia local e com o suposto envolvimento de fazendeiros.

Durante o período em que Fábio esteve preso, outros dois integrantes do MST que estavam acampados na cidade foram assassinados brutalmente, mostrando assim a violência e a obscuridade que vive este município, onde a lei que impera é a lei do gatilho.

Como dizia Marighuella, a força do lutador é a força da coerência e assim foi Fábio durante a sua vida de luta em defesa da causa do povo, um ser humano incansável e que sabia a dor do povo, porque dele veio e nele estava.

Marx diria de outra forma, com seu estilo inigualável: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, em circunstâncias escolhidas por eles próprios, mas nas circunstâncias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas pesa sobre os cérebros dos vivos como um pesadelo. E mesmo quando estes parecem ocupados a revolucionar-se, a si e às coisas, mesmo a criar algo de ainda não existente, é precisamente nessas épocas de crises revolucionárias que esconjuram temerosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem, para, com esse disfarce da velhice venerável e essa linguagem emprestada, representar a nova cena da história universal”.

Assim podemos dizer que Fábio foi um lutador do seu tempo, pois viveu os problemas sociais dos povos de seu tempo e, em nenhum momento, duvidava da capacidade do povo de lutar pelos seus ideiais de justiça social e soberania popular.

Talvez fosse por estas qualidades que Fábio incomodava demais e precisasse ter a sua voz calada. Talvez ele brilhasse demais e contagiasse demais as pessoas em prol de uma causa de luta comum. A brutalidade do sistema e a ignorância dos poderosos não resistem ao fato dos pobres se organizarem e lutarem pelos seus ideais.

Esta foi à forma que calaram seu corpo, com quinze disparos covardes.

Fábio deixou uma esposa e quatro filhos e uma geração de militantes que, de alguma maneira, irão lembrar-se de seus feitos pelo resto de suas vidas, transformando sonhos em atitudes e motivos para lutar.

A todos os militantes e amigos de Fábio fica o seu grande exemplo de luta, de garra e de determinação para a causa do povo. Fábio viverá eternamente em nossos corações, pois seu legado, sua historia e seus ideais, estes, ninguém conseguiram tirar.

Aos movimentos sociais que fazem a luta pela reforma agrária cabe continuar se organizando e lutando para assegurar conquistas políticas e econômicas que lhes dê condições dignas de vida. E, ao mesmo tempo, terão que qualificar o relacionamento com a sociedade para enfrentar e derrotar essa nova ofensiva da ideologia antidemocrática que insiste em transformar este país e este município em um campo de batalha.

Aos que tombaram, aos marginalizados, por Fábio e pelos pobres camponeses deste país e deste município, aclamamos que, de fato, tenhamos uma verdadeira justiça social.

Até a vitória sempre!

 

Por José Ronaldo*

*Militante, Graduado em Pedagogia pela UFES – Universidade Federal do Espírito Santos e Especialista Em Fundamentos Sociais e Políticos da Educação pela UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

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