O segundo dia da FLIP 2013, realizada na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, trouxe mesas de debates com diversos autores sobre Picasso, biografias, literatura, política de incentivo à leitura, patrimônio cultural, design e arte, dentre tantos outros. Vários eventos estão ocorrendo durante a Festa Literária Internacional de Paraty.
Crítico T. J. Clark revê Guernica em seu aspecto espacial
“Essa é uma palestra sobre Guernica – sobre uma pintura histórica que por alguma razão se recusa a morrer.” Assim teve início a aula de uma hora a respeito da obra provavelmente mais famosa de Pablo Picasso, proferida pelo crítico inglês T. J. Clark na penúltima mesa desta quinta-feira, intitulada Olhando de novo para Guernica, de Picasso.
Como bem lhe apresentou o crítico Paulo Sérgio Duarte, Clark destaca-se por sua habilidade para combinar a atenção aos detalhes pictóricos das obras analisadas com uma compreensão ampla e incisiva do contexto histórico em que elas foram produzidas. Na palestra de hoje, tal habilidade ficou tão clara quanto a frase de abertura e a fala que se seguiu.
Para Ruy Castro, biografado bom é biografado morto
Biógrafo de mortos, “porque os vivos são pouco confiáveis”, Ruy Castro levou hoje à tarde sua prosa bem humorada e inteligente à Casa da Cultura de Paraty. Parte da programação da FlipMais, o encontro teve como anfitrião o jornalista Paulo Werneck.
Autor de obras sobre a vida de grandes personagens brasileiros, como o dramaturgo Nelson Rodrigues (O anjo pornográfico) e o jogador de futebol Garrincha (Estrela solitária), Ruy falou sobre as “regras” para escrever uma boa biografia. À personagem não basta ter morrido. Convém esperar passar uns oito anos. “E o biógrafo não pode deixar que suas emoções e convicções interfiram no trabalho. Ele não pode aparecer, não tem direito de imaginar nem intuir nada. Está ali para recolher informações e conversar várias vezes com o mesmo entrevistado”, disse o autor do recém-lançado Morrer de prazer, crônicas da vida por um fio. “O biógrafo deixa de existir como pessoa. Ele se muda para a vida do biografado, e a busca pelos mínimos detalhes se torna uma coisa doentia.”
A necessidade da derrota
E o receio do escritor Paulo Scott não se concretizou. Como dedurou o mediador da terceira mesa da Flip, João Gabriel de Lima, o autor gaúcho estava com medo de que sua mesa com o pernambucano José Luiz Passos “flopasse”, fosse um fracasso de público. Em vez disso, encontrou um auditório lotado por pessoas interessadas em ouvi-los falar justamente sobre… fracasso.
Batizada de Formas da derrota, a mesa começou com uma leitura de O Sonâmbulo Amador, de Passos. O livro conta a história de Jurandir, um pequeno burocrata da indústria têxtil pernambucana que é internado temporariamente numa clinica psiquiátrica na Olinda dos anos 60. “Meu interesse era contar a história de alguém para quem o desencantamento profundo em relação à vida tivesse certa graça, certa leveza”, comentou o autor, que é professor na Universidade da Califórnia, onde dirigiu, entre 2008 e 2011, o Centro de Estudos Brasileiros.
Em seguida, foi a vez de Scott ler o início de seu novo livro,Ithaca Road, que narra a história da Narelle, uma neozelandesa que viaja à Austrália para ajudar o irmão e se vê às voltas com um complicado processo de falência do bar dele.
Flip Mais analisa política pública de incentivo à leitura
Com seu propósito de analisar e debater a literatura no país, a Flip Mais realizou na tarde desta quinta (7) um debate sobre as políticas públicas de incentivo à leitura.
O encontro foi promovido pelo Instituto C&A na Casa da Cultura e reuniu Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, José Castilho, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura, e Bernadete Passos, da Associação Casa Azul, que organiza a Flip.
Lessa abriu a discussão lembrando que a política do livro passa por um momento de redefinição no país, já que a Biblioteca Nacional não é mais a responsável pela política pública do setor, função que voltou para o Ministério da Cultura neste ano.
O patrimônio cultural de Paraty é tema da mesa Zé Kleber
O defeso, termo para o período de proibição da pesca de espécies ameaçadas, foi apropriado e ressignificado pelo artista paratiense Luís Perequê: passou a se associar à valorização das manifestações culturais tradicionais, de modo que elas não se percam nas demandas do turismo culturalmente predatório.
O Defeso Cultural foi tema da mesa Zé Kleber, intitulada Culturais locais e globais, que reuniu na tarde desta quinta-feira o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e a historiadora Marina de Mello e Souza, autora de Paraty, a cidade e as festas (Ouro sobre Azul, 2008), entre outros títulos, e coordenadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa Brasil-África da Universidade de São Paulo, onde leciona.
André Neves fala sobre design e arte na FlipZona
Autor de mais de 20 livros infantis de sucesso e dono de quatro prêmios Jabuti, o pernambucano André Neves foi à Casa da Cultura nesta quinta-feira (4) para falar sobre a relação entre design e arte.
O encontro, dentro da programação da FlipZona, foi mediado por Márcia Cavalcante e reuniu alunos de escolas de Paraty e admiradores da obra do artista.
Neves começou sua palestra explicando a importância da formação cultural para o desenvolvimento de um estilo próprio. No caso dele, as manifestações culturais do Recife, com suas festas populares, artesanato e bonecos, ajudaram em suas criações.
Da Redação, com informações da Ascom / FLIP 2013
Comente agora
Comente esta matéria