Em terceiro Pan aos 23 anos, Mayra busca primeiro ouro: “Chegou a hora”
Campeã mundial e dona de bronze olímpico, gaúcha volta à competição em que ela despontou internacionalmente para bater arquirrival americana e subir ao alto do pódio
Lá se vão oito anos desde que uma adolescente tímida de 15 anos, com espinhas no rosto e ainda faixa marrom chegava à sua primeira grande competição internacional para representar o Brasil. Foi no Pan do Rio, em 2007, que o mundo viu pela primeira vez o grande talento de Mayra Aguiar. Mais fácil nova judoca em ação, a gaúcha enfileirou adversárias e só foi derrotada na final pela americana Ronda Rousey, atualmente campeã do UFC e considerada a melhor lutadora de MMA do mundo. De lá para cá, Mayra subiu de categoria (do até 70kg para o até 78kg), foi medalhista olímpica de bronze (Londres 2012), campeã mundial (2014) e ganhou dezenas de outras medalhas, como o bronze no Pan de Guadalajara 2011. Chegou a hora de ser campeã do Pan para acrescentar o mais nobre capítulo a uma trajetória tão rica na competição com a nata das Américas.
Não será um caminho fácil, pois a grande rival da brasileira e atual campeã olímpica do peso-meio-pesado, a americana Kayla Harrison, estará em ação também nesta terça-feira, no último de quatro dias de judô em Toronto, na Arena de Mississauga. Mas Mayra diz ter feito tudo que podia para chegar tinindo para buscar o ouro. Ela tentará ganhar a quarta medalha de ouro do Brasil no Pan do Toronto – a última foi com Tiago Camilo, na noite de segunda-feira.
– Eu era tão novinha naquele Pan do Rio. Foi uma competição muito importante para minha vida e a minha carreira. Foi onde tudo começou. Muita coisa aconteceu depois, a medalha olímpica, o ouro em Mundial. Eu amadureci bastante, depois dessas competições e todos os resultados que consegui. Tudo isso me preparou para estar no buscar o ouro no Pan, tanto tempo depois. Eu quero muito essa medalha de ouro – disse Mayra.
Dono de um porte físico avantajado, Mayra, de 1,78m, ganhou bastante massa muscular nos últimos anos, mas não enfrenta problemas para manter o limite de 78kg da sua categoria, a meio-pesado.
– É super tranquilo para eu manter o 78kg. O judo ficou muito físico e consegui fazer uma preparação muito boa, estou forte, mas não pesada. Você precisa ter a técnica e o timing bom para entrar golpe. Estou me sentindo muito bem fisicamente.
Assim como tem acontecido nas últimas grandes competições, a comissão técnica da seleção brasileira de judô optou por isolar os judocas fora das residências oficiais dos atletas, no caso do Pan de Toronto, a Vila dos Atletas. Isso faz com que o foco seja totalmente voltado para os treinamentos e os dias de luta, sem tempo para encontrar atletas de outros países e se deslumbrar com pedido de fãs e familiares. Mayra acha isso interessante.
– Para nós é muito importante a possibilidade de termos esse momento de foco e concentração dias antes de competirmos, quando podemos ficar afastados de todo o clima festivo que envolve um evento desse tamanho e também dos nossos adversários, que estarão hospedados na Vila. Além disso, em York tem uma estrutura montada com absolutamente tudo o que precisamos para realizarmos um ótimo treinamento.
DUELO COM A CAMPEÃ OLÍMPICA
Tudo leva a crer que a grande final do peso-meio-pesado no Pan de Toronto vai ser uma reedição de um dos maiores clássicos do judô mundial. Maior rival de Mayra Aguiar, a americana Kayla Harrison foi campeã olímpica em Londres 2012, quando venceu a gaúcha na semifinal. Porém, na semifinal do Mundial de 2014, a titular da seleção brasileira deu o troco e acabou ficando com o inédito título. E ela também bateu a arquirrival na decisão do Campeonato Pan-Americano de Edmonton (CAN), em abril deste ano. No equilibrado confronto geral, Mayra leva vantagem, com sete vitórias, contra seis de Kayla nas 13 lutas entre as duas, sendo que a atleta da Sogipa (RS) ganhou os últimos três embates (Campeonato Pan-Americano de Edmonton 2015, Campeonato Mundial de Cheylabinsky 2014 e Grand Slam de Tyumen 2014).
– É uma luta sempre dura com ela. A Kayla é uma adversária que eu conheço bastante e ela também me conhece muito. Em termos de vitorias e derrotas está bastante igual. Para vencê-la, eu preciso entrar bastante focada e agressiva, também devo aproveitar qualquer cansaço que ela sentir. Assim como eu, ela sempre cresce quando a adversária está esmorecendo, isso equilibra nossa luta. Mas vou entrar para vencer de novo – disse Mayra, que participou de um treinamento de campo com Kayla, no fim de janeiro deste ano, em Saquarema (RJ).
Além de Mayra, também competem nesta terça-feira, no dia de encerramento do judô no Pan de Toronto, a duas vezes vice-campeã mundial do peso-pesado (acima de 78kg) Maria Suelen Altheman, o dono de duas medalhas olímpicas e um título mundial (2007) Tiago Camilo, no peso-médio (até 90kg) e o peso-pesado (acima de 100kg) David Moura, que substitui o medalhista olímpico Rafael Silva, fora por conta de um lesão.
…
Por Globo Esporte.com