‘Daria para pagar plantonista por 20 anos’, diz médico do HGE sobre cachês para cantores

Um médico do Hospital Geral do Estado (HGE) utilizou uma comparação com cachês no carnaval de 2016 para acusar o governo da Bahia de descaso com a saúde pública estadual. Em seu perfil no Facebook, Djalma Dutra conta que havia acabado de sair de um plantão em que faltavam médicos para atender a todos os pacientes.
No texto, o homem relata que seriam necessários cinco funcionários para atender a demanda, mas dos três que haviam há seis meses, só dois continuavam porque faltavam recursos. “Pois é gente… DINHEIRO, porque médico não falta, se o Governador ou o Secretário de Saúde tiver alguma dificuldade de encontrar plantonistas, peço que me liguem que eu gastarei uns 15 minutos para encontrar uns 10 colegas dispostos a trabalhar. Mas para pagar a Ivete e Bell o governador tem dinheiro”, afirmou. Apesar da informação ainda não ser confirmada pelo governo do Estado, fontes garantem que Ivete Sangalo e Bell Marques devem receber R$ 840 mil apenas para tocar no primeiro dia de carnaval, em trios sem cordas – cada um deve receber, respectivamente, R$ 500 mil e R$ 340 mil. “Essa quantia relatada aí na reportagem daria para pagar um plantonista por cerca de DUZENTOS E QUARENTA MESES, isso mesmo, 20 anos”, compara Dutra.
No texto, o médico alega ainda que, além de servidores, faltam computadores para permitir a impressão dos prontuários e um especialista que possa realizar os exames de Ecocardiograma. Segundo Djalma, apesar de o equipamento estar funcionando, ele só funciona dois dias na semana por falta de alguém que opere a máquina. “Com o dinheiro que eles vão dar para esses dois cantores poderíamos colocar o aparelho de Ecocardiograma para funcionar TODOS OS DIAS, durante 34 meses, isso mesmo, dois anos e dez meses. Mas eles vão dar R$ 840.000,00 para uma comemoração de Carnaval, apenas cerca de 6 horas para cada cantor”, critica o Dutra.
Leia abaixo o texto na íntegra veiculado nas redes sociais:
Dr. DJALMA DUARTE – CREMEB 8072 – Via Facebook
ACONTECEU HOJE – recado para o Governador Ruy Costa:
Acabo de chegar em casa depois de um plantão de 12 horas no Hospital Geral do Estado e, ao ler essa notícia que anexei (www.bahia.ba/politica/ivete-e-bell-recebem-r-840-mil-do-governo-para-tocar-sem-cordas/), “Ivete e Bell recebem R$ 840.000,00 do governo para tocar sem cordas”, fiquei revoltado e me perguntando se o Governador Ruy Costa sabe dos seguintes detalhes:
1) Mais um plantão em que eu e um outro colega trabalhamos sozinhos em uma triagem de emergência para atender um número tão grande de pacientes externos e internados (9 deles em situação grave e indicação de UTI, monitorizados, alguns intubados), com o auxílio de apenas uma ou duas enfermeiras e alguns poucos auxiliares de enfermagem, um ABSURDO TOTAL.
Éramos 3 médicos até 6 meses atrás, mas precisaríamos de algo em torno de 5 para um atendimento, digamos… humano. Um dos médicos (lembram aquele que eu vinculei em um artigo anterior, cerca de 6 meses atrás, quando usei o título “Os amigos do rei”?) saiu aparentemente de licença médica e, IMAGINEM O DESCASO COM A SAÚDE, nunca retornou e não colocaram nenhum substituto, APESAR DO CHEFE DE PLANTÃO fazer essa solicitação diversas vezes! Ou seja, éramos 3, precisávamos de mais dois, mas acabou SAINDO MAIS UM.
A desculpa? – “FALTAM RECURSOS”. Pois é gente… DINHEIRO, porque médico não falta, se o Governador ou o Secretário de Sáude tiver alguma dificuldade de encontrar plantonistas, peço que me liguem que eu gastarei uns 15 minutos para encontrar uns 10 colegas dispostos a trabalhar. Mas para pagar a Ivete e Bell o governador tem dinheiro – essa quantia relatada aí na reportagem daria para pagar um plantonista por cerca de DUZENTOS E QUARENTA MESES, isso mesmo, 20 anos… esses políticos são ou não são piores que um câncer?
Imaginem vocês o que representa uma situação dessa: tenho alguns poucos minutos para atender e resolver o problema de um paciente, alguns segundos de espaço entre um e outro atendimento e NENHUM momento de descanso… MAS, será que todos têm esse gosto e essa determinação em tentar resolver tudo, será que todo chefe de plantão fica feito o nosso andando pra lá e pra cá feito doido pra tentar resolver tudo? – óbvio que não, nem têm obrigação de cobrir os erros do governo. Se o movimento aumentar 10% ocorrerão mortes a cada hora por falta de atendimento.
Para os senhores terem uma idéia dos que atendi sob internamento e acompanhei hoje, só eu (não estou contando o que o meu colega atendeu): um Acidente Vascular Hemorrágico gravíssimo + dois choques sépticos + um Edema Agudo de Pulmão + uma insuficiência respiratória por acidose + uma insuficiência cardíaca + uma provável embolia pulmonar. Todos com prontuários FEITOS por mim, detalhadamente, e IMPRESSOS EM COMPUTADOR (que, por sinal, eu levo de casa porque FALTAM RECURSOS à SESAB, já pedi diversas vezes e, como nunca fui atendido, levo o meu computador e a minha impressora). Os que atendi e liberei foram muitos, dois deles eu mandei para o ambulatório da Mansão do Caminho para ficarem sob os meus cuidados porque, se eu não fizer isso, não iriam encontrar atendimento do SUS e morreriam à míngua.
2) Precisei de Ecocardiograma para três pacientes graves e, IMAGINEM, a colega que faz esse exame está de licença e, PASMEM, não colocaram substituto… MAIS AINDA, a que trabalha na quinta está de férias e, IMAGINEM, não colocaram substituto… MAIS AINDA, só tem profissionais fazendo Ecocardiograma na maior emergência pública da Bahia esses dois dias na semana; resumindo: estamos sem Ecocardiograma no HGE durante todo o mês, sem esse exame é quase impossível lidar com pacientes cardíacos; resultado, tratamento inadequado e possível aumento de mortalidade. Porque isso ocorre? – “FALTAM RECURSOS”. Pois é gente… DINHEIRO, porque Ecocardiografista não falta e o aparelho está lá, parado quase o tempo todo porque não contratam médicos; se o Governador ou o Secretário de Saúde tiver alguma dificuldade de encontrar esses profissionais, peço que me liguem que eu gastarei uns 15 minutos para encontrar uns 10 colegas dispostos a trabalhar.
Com o dinheiro que eles vão dar para esses dois cantores poderíamos colocar o aparelho de Ecocardiograma para funcionar TODOS OS DIAS, durante 34 meses, isso mesmo, dois anos e dez meses. Mas eles vão dar R$ 840.000,00 para uma comemoração de Carnaval, apenas cerca de 6 horas para cada cantor.
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Por Bahia Notícias