Relação entre pessoas e onças ganha nova perspectiva em Foz do Iguaçu
Trabalho do projeto Onças do Iguaçu consegue mudar a relação de produtores rurais com animais silvestres que ameaçam a criação de gado na região
Marcos Antônio Alves é um caseiro que vive em uma propriedade aos arredores do Parque Nacional do Iguaçu, na linha São Brás em São Miguel do Iguaçu (PR). Ele, a mulher e os dois filhos vivem na região há seis anos e criam gado para subsistência e venda de leite e queijo para amigos, vizinhos e pequenos mercados locais. Recentemente, perdeu três animais da raça Jersey de sua criação e outros dois foram feridos por um ataque de onça-parda (Puma concolor).
Desde então, vem trabalhando junto com o projeto Onças do Iguaçu (antigo Carnívoros do Iguaçu), um projeto institucional do Parque Nacional do Iguaçu, que busca, com o apoio de instituições como o WWF-Brasil, conservar animais da região como a onça-pintada (Panthera onca), espécie-chave para a manutenção da biodiversidade local.
O projeto vem ajudando Marcos a avaliar as práticas desenvolvidas que podem estar atraindo onças e colocando os animais de criação em risco, dando orientações técnicas de boas práticas de manejo para evitar a predação de mais animais e auxiliando na geração de renda.
Arames foram doados para fortalecer a cerca da propriedade, sinos foram amarrados nos pescoços das vacas para ajudar a afugentar a onça e outras estratégias estão sendo analisadas de forma conjunta para proteger tanto os animais de criação de Marcos, sua família e as onças.
Coexistência
Nesta quinta (12), para fortalecer ainda mais essa rede de apoio, será realizado um Dia de Campo com o tema da “Coexistência entre gente e onças”. O evento contará com o apoio de uma série de atores locais para instalar dispositivos que ajudem a manter as onças afastadas do gado e realizar melhorias nos locais onde o gado e os porcos dormem para diminuir a possibilidade de predação por onças.
Além disso, outros problemas ambientais serão tratados: o rio Represinho, que passa ao lado da propriedade, está com muitas embalagens de agrotóxicos na mata ciliar, resíduos que descem com a enxurrada e contaminam as águas. Será realizada então uma limpeza do rio, assim como uma ação de fiscalização do ICMBio para vistoriar a mata no local em busca de possíveis indícios da presença de caçadores no local.
PL da Caça
O caso de Marcos, no Iguaçu, é um exemplo de sucesso de como trazer comunidades locais para auxiliar na conservação de espécies em extinção, como é o caso da onça-pintada na Mata Atlântica. Apenas 1% da população original da espécie está conservada e todo trabalho em prol da espécie é bem-vindo.
Em um movimento contrário, será realizada na mesma data audiência pública para debater o Projeto de Lei 6268/2016, do deputado federal Valdir Colatto (PMDB-SC), que propõe a criação de reservas de caça, a comercialização de animais caçados em áreas de preservação e a liberação de abate de animais silvestres que supostamente ameacem a agropecuária.
Se aprovado, o PL ameaça a Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197/67), que proíbe o exercício da caça profissional desde 1967 no Brasil. O WWF-Brasil considera este projeto uma violência contra o meio ambiente e a fauna nacional e vem trabalhando junto com outras ONGs para que o projeto não passe.
E mais: mesmo se utilizando o argumento da ameaça à criação de vacas, porcos, etc., provamos com esta parceria com o projeto Onças do Iguaçu que existem formas mais sustentáveis de lidar com este tipo de situação. Convidamos, então, todos a verem de perto este trabalho nesta quinta-feira, 12, em Iguaçu.
AGENDA
Dia de Campo – “Coexistência entre gente e onças”
Local: São Miguel do Iguaçu, comunidade de São Brás, rio Represinho (GPS: http://bit.ly/2JhTqB1)
Data: 12/04/18
Horário: a partir das 9h
Ponto de encontro: Administração do Parque Nacional do Iguaçu, às 8:00
Por WWF-Brasil