Sérgio Mattos celebra 30 anos de carreira, abre baú e diz que ‘Gisele era comum’

Agente trabalhou com Isabeli Fontana, Ana Beatriz Barros e Cauã Reymond
Sérgio Mattos, o Serginho, tem em sua mesa de trabalho uma foto antiga de Gisele Bündchen. Nada no clique, feito em algum momento dos anos 1990, denunciava o que estava por vir: um tsunami sem proporções que iria escancarar de vez as portas do mundo para as modelos brasileiras. Olhando fixamente para a imagem, ele conta o início da saga da menina ingênua do interior do Rio Grande do Sul, dramatizando a narrativa sempre que necessário.
— Conheci Gisele no concurso The look of the year, da agência Elite, onde eu trabalhava como booker. Era alta, magra e tinha uma certa atitude. Mas não dava para prever o que aconteceria. Minha ideia de beleza era clássica. Para mim, Linda Evangelista, com aquele rosto forte, se encaixava no perfil de mulher bonita. Gisele era comum, não muito diferente de suas conterrâneas. Quem nos alertou para seu potencial foi John Casablancas (morto em 2013) , o fundador da Elite. Ele notou que estávamos diante de uma supermodelo — recorda Serginho. — A partir daí, passamos a olhá-la de um jeito especial, as coisas foram caminhando e o resto, todo mundo sabe. No fim, foi uma lição. Descobri que personalidade é mais importante do que uma feição perfeita.
Essa e outras histórias serão resgatadas na exposição “30 anos de moda — Sérgio Mattos” por meio de 50 fotografias, cartas e composites. A mostra, que abre as portas no próximo domingo no HUB RJ, espaço colaborativo na Zona Portuária, foi a maneira que o agente baiano — nascido em Iguaí e criado no Rio — encontrou para começar a badalar suas três décadas de moda. Em 2019, a festa continua com os lançamentos de um livro e um documentário, ambos em fase de produção.
— Serginho tem uma importância única. É o maior descobridor de talentos da moda brasileira. Foi um anjo da guarda na minha carreira e somos amigos até hoje — diz o ator Cauã Reymond, representado pelobooker nos anos 1990.
O baiano deu o pontapé na indústria como modelo, fazendo um clique aqui e outro ali, enquanto estudava Jornalismo na UFRJ. Não concluiu o curso, mas foi convidado a entrar para o time de vendedores da Yes, Brazil e acabou promovido a gerente da loja da marca na Rua Oscar Freire, em São Paulo.
— Escolhia minha equipe a dedo, todos tinham pinta de manequim. Os produtores das revistas iam buscar as roupas e já levavam os modelos. O ator Juan Alba foi meu vendedor, acredita? Em 1988, surgiu a chance de trabalhar como agente na Elite e estou nesse ramo até hoje.
Nessas três décadas, além de Cauã e Gisele, Serginho viu muita gente desabrochar: Isabeli Fontana (“O patinho feio que se transformou numa deusa”), Carol Ribeiro (“Exótica e dona de uma personalidade forte”), Raica Oliveira (“O povo a achava comum, mas tinha uma cinturinha e as pernas longas”), Paulo Zulu (“Estourou depois de raspar os cabelos”), Ana Beatriz Barros e Alessandra Ambrosio, só para citar alguns.
Por Gilberto Júnior/O Globo/Ela