Bolsonaro aciona Moro para ouvir porteiro que o associou a suspeito de morte de Marielle
Declaração do presidente foi dada nesta quarta-feira (30)
O presidente Jair Bolsonaro declarou, nesta quarta-feira (30), que está conversando com o ministro Sergio Moro para que a Polícia Federal colha um novo depoimento do porteiro que o associou ao suspeito da morte da vereadora Marielle Franco.
“Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez”, disse Bolsonaro à BBC.
Ele disse ainda que não conhece o porteiro que deu a declaração. Segundo reportagem do Jornal Nacional, no dia do crime, em 14 de março de 2018, um outro suspeito pelo crime, Élcio de Queiroz, foi até o local e pediu na portaria para ir até a casa de Bolsonaro. O porteiro do condomínio disse em depoimento que interfonou para perguntar se podia liberar o visitante, o que foi autorizado por um homem que ele identificou como “seu Jair”.
Depois de entrar no condomínio, contudo, o suspeito não foi até a casa de Bolsonaro, e sim até a de Ronnie Lessa, principal suspeito por ter disparado os tiros que mataram Marielle e o motorista Anderson Gomes.
A citação a Bolsonaro deve levar o caso de Marielle ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que o presidente, então deputado federal, tem foro privilegiado.
A reportagem cita que apesar da identificação da voz pelo porteiro, no dia do crime Bolsonaro estava em Brasília e participou de duas votações, segundo registro da Câmara. Ele também publicou videos na rede social no dia em que aparece no gabinete.
Ataques à Globo
Após a divulgação da reportagem, o presidente fez uma transmissão ao vivo no Facebook e atacou a TV Globo. “Isso é uma patifaria, TV Globo! TV Globo, isso é uma patifaria!”
“É uma canalhice o que vocês fazem. uma ca-na-lhi-ce, TV Globo. Uma canalhice fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco, do PSOL”, completou.
Bolsonaro ainda citou a concessão pública à emissora. “Temos uma conversa em 2022. Eu tenho que estar morto até lá. Porque o processo de renovação da concessão não vai ser perseguição, nem pra vocês nem para TV ou rádio nenhuma, mas o processo tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês nem pra ninguém”.
Em resposta aos ataques desferidos pelo presidente Jair Bolsonaro durante transmissão ao vivo no Facebook, na noite da terça-feira, 29, a TV Globo afirmou que “não faz patifaria nem canalhice”, mas “jornalismo com seriedade e responsabilidade”.
“A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro”, diz o comunicado da emissora.
A Globo também fez referência à afirmação de Bolsonaro de que não perseguiria a emissora, mas que só renovará sua concessão, que vence em 2022, se o processo estiver “enxuto”. “A Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.”
Defesa de Witzel
Além da Globo, o presidente também atacou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, a quem acusou de ter vazado as informações do processo à tv. No vídeo, o presidente acusa o governador do Rio de querer “destruir” a sua família para “chegar à Presidência da República”. “Por que essa sede pelo poder, senhor governador Witzel?”, questionou Bolsonaro.
Em resposta, Witzel também se defendeu. Em comunicado publicado no Twitter, em resposta ao presidente Jair Bolsonaro, Witzel afirmou que em seu governo, “as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas as nossas ações”. Witzel disse que a manifestação de Bolsonaro, em live, mais cedo, foi “intempestiva”.
“Defenderei equilíbrio e bom senso nas relações pessoais e institucionais”, declarou o governador.
Leia abaixo as notas da Globo e de Witzel na íntegra:
TV Globo:
“A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações. O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.”
Wilson Witzel:
“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil. Em meu governo as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas as nossas ações. Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa. Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas. Hoje, fui atacado injustamente. Ainda assim, defenderei, como fiz durante os anos em que exerci a Magistratura, o equilíbrio e o bom senso nas relações pessoais e institucionais. Fui eleito sob a bandeira da ética, da moralidade e do combate à corrupção. E deste caminho jamais me afastarei.”
Por Jornal Correio