Por medo de represálias, cientistas brasileiros pedem anonimato em artigo sobre queimadas e desmatamento
Documento assinado por pesquisadores brasileiros e ingleses aponta aumento de queimadas e refuta alegações do governo Jair Bolsonaro. Nos agradecimentos, cientistas mencionam colaboradores que recusaram citação.

Queimadas na Amazônia – Foco de fogo na floresta amaônica na cidade de União do Sul, em Mato Grosso, no dia 4 de setembro de 2019 — Foto: Reuters/Amanda Perobelli
Por medo de represália, pesquisadores brasileiros se recusaram a assinar um artigo científico que relaciona o aumento na taxa de desmatamento e as queimadas na Amazônia brasileira por medo de represálias.
O artigo, enviado em formato de carta à revista científica Global Change Biology e publicado nesta sexta-feira (15), explica a dinâmica de desmatamento no bioma e refuta “alegações do governo brasileiro sobre as queimadas na Amazônia em agosto”.
Assinado por dois cientistas brasileiros e dois britânicos, o documento cita, nos agradecimentos, o pedido de anonimato dos colaboradores do Brasil.
“Alguns colaboradores recusaram a autoria para manter o anonimato. Lamentamos que isso seja necessário e agradecemos a eles por sua importante contribuição.” – Artigo científico enviado à Global Change Biology

Trecho de artigo científico sobre desmatamento e queimadas na Amazônia cita pedido de anonimato de colaboradores — Foto: Arte/G1
O texto foi feito antes da divulgação da taxa oficial de desmatamento, anunciada nesta segunda-feira (18). Por isso, os autores fizeram uma estimativa da área desmatada entre agosto de 2018 e julho de 2019 para mostrar a correlação entre o desmatamento e as queimadas. Para tanto eles usaram informações do sistema de alertas de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter. Neste ano a taxa oficial de desmatamento foi 42% maior do que apontava o sistema de alertas.
No texto enviado à revista científica os pesquisadores adiantam que a taxa de desmatamento do Prodes costuma superar os alertas de desmate do Deter.