Morrre, aos 80 anos, o escritor iguaiense Gramiro de Matos – ‘Ramirão’ – um dos representantes da literatura no Tropicalismo
Faleceu na manhã de hoje (7), aos 80 anos, o escritor iguaiense Ramiro Silva Matos Neto, que assinava seus livros como Gramiro de Matos ou ainda Ramirão ão ão. Um dos representantes na literatura do movimento tropicalista, ou Tropicália, juntamente com seus dois parceiros Waly Salomão e Torquato Neto.
O velório e sepultamento acontecem amanhã (8), a partir das 9 horas, na Sala 06 no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.
Gramiro de Matos, o tropicalismo e a poesia marginal
A poesia marginal teve um momento marcante com o lançamento da coletânea 26 poetas hoje (1975), organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. Nessa coletânea, Heloísa faz um balanço de todo o período, publicando lado a lado a nova geração e alguns dos poetas que já estavam envolvidos com outros movimentos culturais, como o tropicalismo e a marginália. Waly Salomão, Torquato Neto, José Carlos Capinan e Duda Machado aparecem ao lado dos novos como Chacal, Bernardo Vilhena, Ana Cristina César e Francisco Alvim. Unindo todos, o rótulo genérico criado pela crítica e nem sempre bem aceito por parte dos poetas de marginais.
Ainda ligado à literatura, alguns autores desse período também tiveram seus romances e textos batizados de “marginal”, criando no campo da prosa a outra face da atuação experimental dos poetas. Livros como Panamérica (1968), de José Agripino de Paula, Me segura que eu vou dar um troço (1972), de Waly Salomão, Urubu-Rei (1972) e Os morcegos estão comendo os mamãos maduros (1973), de Gramiro de Matos e Catatau, de Paulo Leminski (1975), foram inseridos nesse grupo pela crítica literária da época, apesar de suas diferenças de estilo e proposta.
Sobre Gramiro de Matos
Na década de 70, Ramirão morou no Rio de Janeiro e conviveu com grandes intelectuais, como Jorge Amado, Glauber Rocha e era amigo de Waly Salomão e Torquato Neto, fazendo parte do movimento tropicalista, juntamente com esses seus dois parceiros. No ano passado, durante o relançamento do seu livro “A Conspiração dos Búzios”, foi proclamado como o “tropicalista esquecido”, em uma extensa matéria no Jornal O Globo falando sobre a sua trajetória literária.
Autor de “Urubu Rei” e “Os morcegos estão comendo os mamãos maduros”, bastante elogiados pela crítica na época, o autor, cuja literatura foi considerada “impenetrável”, devido aos experimentalismos pós-modernos, foi considerado por Jorge Amado como “a mais nova experiência da linguagem depois de Guimarães Rosa”. Jorge Amado também escreveu um texto de apresentação em “Os morcegos estão comendo os mamãos maduros”, um dos livros de Gramiro de Matos. Apesar disso tudo, o autor caiu no esquecimento na década seguinte, já que se mudou para Portugal para continuar os estudos acadêmicos, o que resultou em uma tese de doutorado: “Influências da literatura brasileira sobre as literaturas africanas de língua portuguesa”, publicada posteriormente no Brasil.
A vivência da redemocratização portuguesa em 1974 e da descolonização da África lusófona foram muito impactantes em Gramiro de Matos, autor ícone da contracultura brasileira no momento imediatamente posterior ao tropicalismo. Nesse sentido, um experimentalismo dá lugar a uma maior politização em sua obra. No entanto, a experiência de exílio em ambos os lados do Oceano Atlântico durante a década de 70 foi indispensável para que o autor continuasse, ainda que com modificações, seus gestos de violência contra a língua padrão e, ao mesmo tempo, desenvolvesse o conceito de “combate em línguas”, tanto para propósitos acadêmicos como estéticos.
Leia mais sobre Gramiro de Matos em: https://www.iguaimix.com/v3/?s=gramiro+de+matos https://www.cacaunovaes.com/search/label/Gramiro%20de%20Matos
Fontes: Bula de livro, Skoob, Iguaí Mix e Sinopse literárias