Filho de candidata a presidente tentou levar o marxismo ao futebol

O último clube da carreira do centroavante Fernando Genro foi o pequeno Canoas, do interior gaúcho, tão pequeno que seu quadro de colaboradores é formado principalmente por parentes de atletas que atuam na equipe. Depois de dez anos atuando na base do Grêmio, depois de passagens pela seleção brasileira sub-15 e depois de ter tido como reserva imediato uma jovem promessa do Internacional chamada Alexandre Pato, lá no Canoas, Fernando encontrou um técnico que hoje ele descreve como um sujeito “completamente maluco”.
O técnico era conhecido no Estado por manter um estilo linha dura, tratar seus jogadores como soldados e não gostar de ser contrariado. Um dia esse técnico deu uma ordem que Fernando e o elenco relutaram em cumprir. O treinador explodiu: “Se eu disse para vocês baterem com a cabeça na trave, vocês têm que bater com a cabeça na trave sem discutir, entenderam?”
Fernando não entendeu. “Comecei a fazer uma espécie de conspiração com os outros para não aceitarmos esse tipo de postura, esse autoritarismo, essa noção deturpada de hierarquia que existe no futebol”, diz o ex-jogador, hoje estudante de Direito. Naquela época, a conspiração não deu certo. O técnico autoritário ficou, Fernando saiu. Não apenas do clube, mas do futebol.
O episódio foi a gota d’água de um desencanto com o mundo da bola que o centroavante sofria há meses, desde experiências frustradas no Nordeste brasileiro e no interior da Espanha. O desencanto aumentava na medida em que crescia também sua paixão pela filosofia, pela sociologia e pelo marxismo, que ele começou a conhecer por meio de seus pais.
Fernando Marcel Genro Robaína, de 26 anos, é filho de Luciana Genro, candidata à Presidência da República pela PSOL, e de Roberto Robaína, candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo mesmo partido.
Ele é Fernando em homenagem ao avô, Tarso Fernando Herz Genro, liderança histórica da esquerda gaúcha, governador pelo PT e candidato à reeleição. E é Marcel por causa de Marcel Hic, militante francês da organização trotskista Quarta Internacional, que foi preso e morto em um campo de concentração na Segunda Guerra Mundial.
Com esse pano de fundo, não é estranho que, mesmo enquanto tentava fazer carreira como jogador de futebol, ele tenha se filiado ao PSOL, um partido feito principalmente por dissidentes do PT e que é considerado radical por quem se posiciona à direita do espectro político.
Fernando atuava como cabo eleitoral de seus pais e tentava ganhar votos de seus amigos boleiros para o projeto socialista deles. Diz que conseguiu alguns. “Muitos jogadores não sabem que são de esquerda, mas têm posicionamentos progressistas”, diz. Na base do Grêmio, ele jogou com atletas como o goleiro Cássio, atualmente no Corinthians, Lucas Leiva, do Liverpool, Anderson, do Manchester United. Acostumou-se, por outro lado, a enfrentar Alexandre Pato, um atacante promissor da base do Internacional.
Um dia, Fernando e Pato foram convocados para uma seleção gaúcha da base. Como Pato era mais novo, amargou a reserva do gremista. Em 2006, o colorado deu o troco: na final do Brasileiro sub-20, o Inter venceu o Grêmio por 4 a 0, com um gol de Pato (naquela época conhecido apenas como Alexandre). “Foi um dos momentos mais terríveis da minha carreira que eu preferi esquecer”, recorda, sorrindo, Fernando.
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Por Uol Esporte