Diretor da CBF: ‘Técnico brasileiro tem conhecimento’ e não é ultrapassado

Em tempos de crescente desvalorização de técnicos brasileiros nos principais centros do futebol mundial, mudar esse cenário tenebroso é uma das tarefas delegadas a Fernando Belotti, diretor de desenvolvimento técnico da CBF e responsável pela Escola Brasileira de Futebol (EBF). Em entrevista ao LANCE!NET, durante a semana de formação da última turma de 2014, ele explicou como administra a tarefa de certificar e tentar dar o máximo de qualidade aos técnicos.

CBF promove curso que ocorre na Granja Comary e é procurado por nomes que já estão no mercado (Foto: Igor Siqueira)
– A nossa principal preocupação é que o treinador brasileiro, ao contrário do que muita gente pensa, tem muito conhecimento, mas está tudo na cabeça. Eles às vezes têm medo de dividir isso porque costumam ter insegurança com metodologia ou acham que alguém pode roubar a ideia. Então, tem que abrir a cabeça deles para que entendam: dividir conhecimento é aumentar conhecimento sempre – disse Belotti.
Há dois anos à frente da EBF, estabelecida há cinco, Fernando refuta as críticas de que os técnicos brasileiros são ultrapassados.
– O problema é que os modernos não têm chance. Quando anunciam um nome nem tão conhecido, deixamos ele trabalhar ou criticamos? Tem todo tipo de técnico no Brasil, e alguns realmente trabalham da mesma forma há tempo, mas é um direito deles. Se os resultados vierem, bom – completou.
Na última turma de 2014, que garantiu o certificado nível “A”, nomes conhecidos, como Silas, Jorginho, Rogério Lourenço (ex-Flamengo) e Wagner Lopes (que acabou de assumir o Goiás) participaram das aulas, ministradas na Granja Comary. Membros da comissão técnica das categorias de base da Seleção Brasileira também participaram, como Mauricio Copertino e Caio Zanardi, auxiliar da sub-20/olímpica e técnico da sub-17, respectivamente.
É de uma demanda desse nível que Belotti e sua equipe precisam saciar a sede de conhecimento sobre futebol. Para isso, uma grade que aborda diversas facetas do esporte mais popular do mundo, como tática, gestão, montagem de elenco, desenvolvimento de filosofia de treinamento, etc.
– A ideia não é dizer para eles como colocar o time para jogar. Dentro do Brasil há vários estilos de jogo. O que fazemos é dar ao aluno uma caixa de ferramentas para que ele possa criar o próprio estilo de jogo – explica Belotti.
Um dos “famosos” da turma, Silas defende a disseminação da cultura da reciclagem de ideias entre os treinadores.
– O treinador brasileiro é muito desrespeitado, mas a grande culpa é nossa. Não nos preparamos, achamos que porque fomos jogadores já sabemos tudo. E não é assim. Precisamos da preparação porque não podemos bater lá fora, em clubes grane e voltarmos. Os argentinos, chilenos e uruguaios não voltam. A última Copa do Mundo deu um chacoalhão em todos nós para que possamos nos preparar melhor e, quando surgirem as oportunidades, estarmos prontos. Aqui no Brasil, treinadores montam times e não um jogo, um sistema – afirma ele.
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Por Lancenet