Duas pessoas morreram e uma ficou ferida durante acidente ocorrido ontem na Rua Cônego Pereira, no Bairro de Sete Portas, em Salvador. O motorista Eliomar Saraiva, 29 anos,  invadiu o canteiro central da pista e atropelou dois moradores de rua, que dormiam no local. Uma das vítimas fatais, identificada como Marco Antônio, não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Revoltados, outros moradores de rua que presenciaram o atropelamento, espancaram, apedrejaram e o motorista até a morte. O outro atropelado, Tiago Raimundo de Jesus, permanece internado no Hospital Geral do Estado (HGE). 

(Foto: Tribuna da Bahia)

De acordo com informações da polícia, os dois moradores de rua dormiam em um colchão quando foram surpreendidos pelo veículo (Ford/Fiesta de cor prata e placa NIY 9206). Marco Antônio morreu na hora e Tiago sofreu graves ferimentos. Ainda de acordo com a polícia, ao perceberem a gravidade do ocorrido, outros moradores de rua ‘armaram-se’ com pedras e pedaços de pau e lincharam o motorista. O condutor ainda tentou fugir, mas foi alcançado e teve o corpo jogado no córrego, em frente à antiga Estação Rodoviária. Uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi enviada ao local e comprovou a morte de dois envolvidos. Tiago recebeu os primeiros atendimentos e foi levado para o hospital.

Uma guarnição da 58ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) esteve no local, mas não conseguiu identificar os agressores do motorista. Mesmo após a remoção dos corpos e da retirada do veículo, no local ainda ficaram, as pedras usadas no crime, roupas das vítimas e o colchão usado para dormir. “Eu conhecia eles e já tinha aconselhado para procurarem outro lugar para dormir, pois um dia isso poderia acontecer”, disse um morador da região, que preferiu não se identificar.

Apesar da resistência em comentar sobre o ocorrido, uma ex- moradora de rua da região, disse que esta não é a primeira vez que acidentes ocorrem no local. “Uma vez um caminhão quase atropelou ele aqui, mas dessa vez foi de vez”, disse a jovem, ressaltando que ambos seriam usuários de drogas. “Marco morava no Gravatá, mas os dois seriam usuários de drogas e às vezes dormiam aqui”, afirmou, optando pelo anonimato.

O caso deve ser investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas até o momento não informações sobre prisões de algum envolvido no linchamento. Eliomar Saraiva vai ser enterrado hoje.

Fazer ‘justiça’ com as próprias mãos é uma ação que vem dividindo opiniões. Os críticos à violência classificaram a situação de “volta à Idade Média”,enquanto outra parte da população respondeu com o discurso: “adote um bandido”. De acordo com levantamento feito no ano passado pela Universidade de São Paulo (USP), apesar de o linchamento estar diminuindo desde 1980, a Bahia ainda está entre os três primeiros estados brasileiros com maior número de registro deste tipo de violência.

Um caso recente ocorreu em Feira de Santana, quando dois assaltantes foram agredidos com paus e pedras no bairro Subaé. De acordo com a polícia, as vítimas foram atacadas após realizarem série de roubos na região. Em Vitória da Conquista, O motorista Luiz Carlos dos Santos Silva, o “Carlinhos”, de 51 anos, e o cobrador Nilton da Silva Santos Filho, o “Niltinho”, 42, foram indiciados pelo linchamento de um homem após uma briga. Antônio José dos Anjos, conhecido como “Branco”, de 42 anos, sofria de transtornos mentais e teria agredido os rodoviários com um canivete. Após o ocorrido, Carlinhos e Nitinho organizaram um grupo e espancaram a vítima até a morte.

Para o sociólogo, Alfredo Borges, os recorrentes casos de violência e a sensação de impunidade são os principais agentes motivadores do linchamento.  “Quando são noticiados com freqüência, casos sobre violência, crimes mal resolvidos e criminosos respondendo em liberdade, muitos tendem a ficar incrédulos da justiça e agem pensando de forma que possa saciar o próprio ‘desejo de vingança’. Apesar de ser uma ação coletiva, o linchamento não é uma ação voltada para o bem-estar e no bom funcionamento da sociedade. Não podemos retroceder e achar que fazer justiça com as próprias mãos é uma solução para diminuir a violência”, disse.

A presença de moradores de rua e usuários de drogas, próximo a antiga Rodoviária, na Sete Portas, assusta comerciantes e moradores do local. “Já fizemos de tudo para tentar tirá-los daqui, mas até agora nada. Eles usam drogas durante o dia e a noite. De vez em quando brigam entre eles. É uma agonia”, contou um comerciante do local, identificado como José Alves. A ex-moradora de rua, afirmou que o consumo de drogas ocorre diariamente. “Todos aqui bebem e usam drogas. A vida na rua é muito sofrida. Eu só consegui sair porque fui para a igreja, construí família e estou grávida”, contou.

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Por Tribuna da Bahia

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