Erotismo e política marcam o terceiro dia de Flip

O historiador Boris Fausto abriu o terceiro dia de Flip, ontem, com uma conversa sobre a matéria-prima literária de seu último livro O Brilho do Bronze, sobre memórias que narram seu processo de luto após a morte da mulher, a educadora Cynira Stocco Fausto, com quem foi casado por 49 anos. Ao longo do debate, as reflexões sobre morte e dor deram lugar aos apontamentos do intelectual sobre o ofício de historiador, alguns episódios da história do Brasil e a atual conjuntura política do país. Os relatos completos das atividades estão disponíveis no blog da Flip (http://www.flip.org.br/blog.php).
Da origem do termo “pauliceia desvairada” à proclamação do modernismo, a mesa seguinte – sobre a São Paulo de Mário de Andrade - investigou a cidade que jamais teria sido a mesma sem a participação daquele que, como disse o cineasta e ensaísta Carlos Augusto Calil, foi o primeiro secretário de Cultura do Brasil. Além de Calil, o jornalista e colunista Roberto Pompeu de Toledo fez parte de “São Paulo! comoção de minha vida…”.
Percorrendo os meandros da história do Brasil, a mesa bônus, com as historiadoras Heloisa M. Starling e Lilia M. Schwarcz, transcorreu como uma aula sobre os grandes temas que repercutem na identidade nacional. Autoras do recém-lançado Brasil: uma biografia, a dupla estruturou uma conferência em torno de dois tópicos que atravessam os séculos: a escravidão como um sistema estruturante da sociedade brasileira e os vários significados assumidos pelo conceito de liberdade ao longo do tempo.
Primeira mesa sobre ciência desta edição da Flip, “As ilusões da mente”, trouxe à Tenda dos Autores o economista e filósofo Eduardo Giannetti e o neurocientista Sidarta Ribeiro, num encontro animado e vigoroso sobre as descobertas recentes no campo da neurociência. Sidarta afirmou que estamos a caminho de entender o que é a consciência e como ela funciona. Para Giannetti, o mistério da condição do ser humano só se agrava. “A ciência realmente machuca a autoestima humana”, completou.
A mesa “Escrever ao Sul” reuniu o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o e o australiano Richard Flanagan. Preso por ter escrito, nos anos 1970, uma peça teatral em sua língua nativa, Thiong’o foi investigado sobre um recurso comum em sua prosa: colocar o leitor na mente do opressor – característica também presente na obra mais recente de Flanagan. Thiong’o afirmou então que, como escritor, seu interesse é na contradição.
O uso de lembranças pessoais e afetivas na literatura foi central na mesa “Amar, verbo transitivo”, da qual participaram Ana Luisa Escorel e a americano-israelense Ayelet Waldman. “É preciso gostar e apreciar nossas próprias memórias para reproduzi-las num livro”, disse Waldman. Igualmente franca, Ana Luisa Escorel emocionou-se ao falar sobre a relação que sempre teve com seus pais – o crítico literário Antonio Candido e a filósofa e ensaísta Gilda de Mello e Souza -, matéria-prima de um livro da autora. Taras literárias e libertinagens em geral estiveram na mesa “Os Imoraes”, com Reinaldo Moraes e Eliane Robert Moraes. Autora de ensaios sobre erotismo na literatura, Eliane afirmou que Hilda Hilst e Mário de Andrade influenciaram sua escolha pelo erótico.
Bem-humorado, Reinaldo leu um texto libidinoso feito especialmente para esta edição da Flip, sob a afirmação de ter “psicografado” uma mensagem do machadiano Brás Cubas. Acompanhe a transmissão ao vivo das mesas da programação principal no site da Flip (http://www.flip.org.br/). Veja a cobertura da festa pelo Facebook (https://www.facebook.com/flip.paraty), Twitter (https://twitter.com/flip_see) ou Instagram (http://instagram.com/flip_se).
FlipMais
Com uma programação que percorreu teatro, poesia, audiovisual e educação, a sexta-feira da FlipMais movimentou os ânimos do público no auditório da Casa da Cultura. No primeiro debate do dia, práticas de mediação de leitura e suas políticas foram discutidas por Marta Porto, Rona Haning e Vera Schroeder. Durante o “Poesia em Movimento recebe Eucanaã Ferraz”, o poeta esteve em episódio da série do Philos TV e também presente para uma conversa sobre poesia e estrutura lírica.
Série dirigida por Tatiana Lohmann e exibida dentro do projeto Noites de Cinema, A vida começa retrata a rotina de um pintor de São Paulo, que faz desenhos reveladores sobre seu futuro. Encerrando a noite, e conjugando técnicas de dança e circo, o espetáculo O Descotidiano – do grupo Cia do Relativo – deixou crianças e adultos atônitos com a mistura de lirismo e humor. Saiba mais em: https://blogdaflip2012.wordpress.com/2015/07/04/flipmais-lirismo-poesia-e-debate-marcam-o-dia/.
Programações parceiras
Os parceiros da Flip 2015 oferecem uma série de debates, encontros, publicações e sessões especiais sobre literatura cinema, música, teatro e arte durante a Festa Literária em Paraty na Casa Cais, Casa Folha, Casa IMS, Casa Literária Gastronômica Senac/CBL, Casa Sesc, Circuito BNDES Musica Brasilis e da Companhia Carroça de Mamulengos/Petrobras. Saiba mais em: www.flip.org.br.
Flip 2015
A 13ª edição da Flip, que acontece de 1º a 5 de julho, tem Mário de Andrade como autor homenageado.
Quem faz a Flip
A Casa Azul é uma organização da sociedade civil de interesse público que desenvolve projetos nas áreas de arquitetura, urbanismo, educação e cultura. Desde as primeiras ações, há mais de vinte anos, vem desenvolvendo uma metodologia de leitura territorial capaz de potencializar importantes transformações no território. Em Paraty, onde a associação se originou, esse processo levou à realização de ações de permanência, com projetos como a Flip, a Biblioteca Casa Azul e o Museu do Território, entre outros.
Patrocínio
A programação da Flip conta com o patrocínio oficial do BNDES, Itaú, Petrobras e apoio do Sesc. É realizada por meio das leis de incentivo à cultura do Governo do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e do Ministério da Cultura do Governo Federal.
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Por Ascom / Flip 2015