Sem recessão: mesmo com crise, indústria da beleza segue em alta
Indústria da beleza segue em alta, mesmo com crise na economia
A crise pode ter deixado muita gente de cabelo em pé. Entretanto, os gastos com produtos e serviços de beleza sobrevivem ao corte no orçamento, sobretudo das mulheres, que mesmo com o dinheiro curto não perdem o charme e se mantêm fiéis aos cosméticos, maquiagens e itens de cuidado pessoal.
Na contramão da crise, o setor continua crescendo a uma média de 10% ao ano. A expectativa é que os brasileiros gastem R$ 63 bilhões com produtos e serviços de beleza neste ano, de acordo com projeção do Instituto Data Popular. No ano passado, o faturamento do setor chegou a R$ 101,7 bilhões – crescimento de 11%, se comparado aos R$ 91,9 bilhões de 2013.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), João Carlos Basilio, o potencial do país é muito grande para desenvolver negócios no setor. O país é o terceiro maior mercado consumidor de produtos ligados à beleza, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Por aqui, o setor responde a 1,8% do PIB nacional. “Sem dúvida, o Brasil é a grande potência da América Latina. A categoria de produtos para cabelos é a mais exportada”, fala.
prioridade E o brasileiro gosta – e muito – de dar aquele trato no visual. A comerciante Edvânia Bispo, de 32 anos, por exemplo, conta que gasta cerca de R$ 250 por mês apenas com o tratamento capilar.
Mensalmente, ela chega a usar 20% do seu salário em cuidados com a beleza. “Tenho que ir ao salão todo mês para manter o tratamento. Além disso, compro os produtos para manutenção em casa”, afirma.
Na crise, Edvânia deixou de lado gastos com lazer e diversão, mas não abriu mão do salão e da maquiagem. “O meu cabelo é prioridade. As pessoas elogiam, querem saber onde fiz. É uma coisa que mexe com a nossa autoestima”.
Para ela, não tem crise que abale seus gastos com beleza, nem com o cabelo sensação que ela ostenta. Segundo um estudo realizado pelo clube de beleza Glambox Brasil, 34% das mulheres costumam gastar mensalmente de R$ 101 a R$ 200 com produtos de beleza. Já outros 27% das entrevistadas declararam desembolsar de R$ 51 a R$ 100.
Por outro lado, 22% das entrevistadas afirmaram investir valores que variam de R$ 201 a R$ 500. O cabelo é o grande queridinho: 63% delas preferem pagar mais em produtos para cabelo que para a pele, por exemplo.
Negócio
A tendência é confirmada na Bahia. A empresa baiana de cosméticos Perffio, voltada para produtos para profissionais de salão, espera faturar cerca de R$ 1,5 milhão neste ano. “O segmento vem crescendo ano após ano. Em 2014 houve uma pequena queda, que se manteve no primeiro semestre de 2015.Neste segundo semestre já temos uma estabilidade e esperamos um crescimento. Vão permanecer aqueles que inovarem”, diz a diretora da empresa, Kiria Guimarães. Segundo ela, todos os dias abrem aproximadamente 40 salões na Bahia.
Gestora do Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Renata Farias diz que a perspectiva é que a indústria cresça neste ano na mesma proporção dos anos anteriores. “O brasileiro vincula a beleza a outros aspectos sociais e, por isso, busca por esses padrões estéticos”, afirma.
De acordo com ela, na Bahia estão 71 indústrias do setor, 34 na Região Metropolitana de Salvador. “Temos insumos que permitem isso. A própria criatividade do baiano já torna este mercado diferenciado. A indústria baiana tem uma credibilidade que atrai as de outros estados”. Ela também cita o consumo com características próprias, com busca por uma identidade local, com produtos para cabelos cacheados e crespos.
A técnica de segurança no trabalho Marinívia Magalhães, 34, faz parte desse mercado específico. “Faço aplicação do super-relaxante mensalmente e faço manutenção em casa com xampu, condicionador, hidratante e creme de pentear”, diz. Com seus cabelos cacheados, Marinívia chega a gastar R$ 300 no mês. “Isto representa 12% do meu salário. Às vezes deixo reservado, mas, quando não dá, coloco no cartão de crédito e aperto no próximo mês. Me sinto bem, com a autoestima elevada”, comenta ela, que já deixou o cineminha e as idas ao shopping de lado na crise.
Focada nos cabelos crespos e cacheados, o Instituto Beleza Natural deve abrir sua sexta loja na Bahia até agosto e não tem sentido os efeitos da recessão. “Quando a crise atinge o essencial, buscamos um pouco de alento, uma compensação na nossa autoestima, no prazer de comprar algum item como um batom ou um esmalte. Queremos enfrentar a dificuldade lindas”, assegura Leila Veleza, CEO e cofundadora do Beleza Natural. “O Beleza Natural vai além. Temos um impacto na autoestima da nossa cliente, que não abre mão daquilo que a faz se sentir poderosa”.
Acréscimo nas alíquotas sobre o IPI pode encarecer produtos
O avanço nas alíquotas de PIS e do Cofins nas importações, de 9,25% para 11,75%, que incidem no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) passou a valer a partir deste mês. O decreto prevê aumento da tributação em perfumes, maquiagens para boca, unhas, olhos e rosto, produtos de cuidados da pele entre outros. O setor de cosméticos e beleza vê a medida como um entrave ao potencial de cerscimento do setor, como afirma a Abhipec, associação que representa a área. Segundo as projeções da instituição, o aumento deve diminuir as vendas, em 2015, em 17%.
A ampliação da cobrança do IPI de HPPC pode também elevar os preços até 12% acima da inflação, visto que 85% da matéria-prima para produção de cosméticos é importada. A medida fez com que o proprietário do salão de beleza Maison Beauty Hair Design, Luciano Santos, sentisse o impacto do aumento. “Estamos passando pelo maior sufoco, já que não podemos deixar de comprar o produto, nem reajustar os preços para não perder a clientela”, afirma. Ele diz ainda que os produtos básicos e de maior frequência na utilização, como xampu, condicionador e esmalte, estão bem mais caros, “60% de tudo que usamos vem de fora. A gente fica tentando fazer pacote de promoção para poder trabalhar”.
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Por Correios 24h