Brasil começa natação com três dobradinhas e mais um ouro de Daniel Dias

Três duplas de nadadores do país subiram juntos no pódio no primeiro dia da modalidade em Lima. Invicto em Parapans, Daniel chega à sua 28ª medalha dourada
O primeiro dia da natação nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019 foi marcado por dobradinhas brasileiras. Três duplas de nadadores do país subiram juntas no pódio: Carlos Farrenberg e Douglas Matera ficaram com o ouro e a prata nos 100m livre S13; e Vanilton do Nascimento e Ruiter Gonçalves, nos 100m borboleta S9, também garantiram o primeiro e o segundo lugar, respectivamente.
Mas a dobradinha mais emocionante da noite foi nos 100m peito feminino classe SB14, com as irmãs gêmeas Débora e Beatriz Carneiro. Pela primeira vez as duas paranaenses nadaram juntas em um grande evento e, logo na primeira prova, veio a dobradinha, com direito a torcida especial do pai, Eraldo Carneiro, que estava na arquibancada do Complexo Aquático de Videna, em Lima. “Meu pai infartou lá, pelo que eu vi”, brincou Débora depois da prova.
Espontâneas de uma forma contagiante, as duas eram só alegria depois do resultado que garantiu o ouro e o recorde parapan-americano para Débora (1min16s33) e a medalha de prata para Beatriz (1min17s11). “A sensação de estar aqui pela primeira vez, de ganhar uma medalha… Nossa, eu me surpreendi comigo mesma. Nunca imaginei que ia fazer 1min16s, eu não estou acreditando até agora”, falou Débora. “Ai, gente, é um orgulho para o Brasil inteiro. Imagina duas gêmeas da classe 14 indo para o pódio juntas? O Paraná inteiro vai se emocionar, imagina meus primos, meus tios, que estavam nos assistindo. Meu Deus, eles vão chorar mais do que eu que estou aqui”, completou Beatriz.
Tanto dentro da água quanto fora, as irmãs têm uma sintonia impressionante. Beatriz é mais experiente: competiu nos Jogos Paralímpicos 2016. Débora não participou porque estava se recuperando de uma apendicite. Em Lima, o primeiro pódio juntas teve um significado especial para as duas. “Minha irmã me apoiando, eu a apoiando, uma torcendo pela outra. A gente é assim, não tem rivalidade. A gente fala brincando: ‘Se segura que eu vou ganhar de você’. Ela fala a mesma coisa, mas no final das contas a gente sempre está torcendo uma pela outra”, disse Beatriz. “Minha irmã é uma estrela, é uma guerreira. E eu agora me sinto uma guerreira também”, emocionou-se Débora.
Gêmeas idênticas nascidas em Maringá (PR) há 21 anos, Débora e Beatriz foram diagnosticadas na infância com deficiência intelectual. Depois da morte da mãe por causa de um câncer no pulmão, quando as duas tinham 11 anos, começaram a fazer natação e rapidamente se destacaram, passando a treinar na Vila Olímpica de Maringá. Em 2015, começaram a treinar com André Yamazaki, que neste domingo se emocionou com o resultado das duas nadadoras. “Foi sensacional, uma emoção absurda. Estava junto com toda a delegação ali comemorando, foi maravilhoso. Elas merecem muito”, disse.

Carlos Farrenberg, medalhista de ouro e Douglas Matera, medalhista de prata na prova de natação 100m livre S13, nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019. Local: Complexo aquático de Videna. Foto: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br
Alto nível
A primeira dobradinha do Brasil na natação em Lima veio com Carlos Farrenberg e Douglas Matera. Aos 39 anos, Carlos chegou à sua quarta medalha de ouro nos 100m livre e, desta vez, teve o jovem Douglas, de 26 anos, ao seu lado no pódio. “É bom porque a gente está conseguindo levar as provas de livre na nossa categoria para um outro nível. A gente tinha poucos atletas nadando para esses tempos. Mais cedo ou mais tarde eu vou parar de nadar, então tem que ter grandes representantes para seguir o caminho”, disse Carlos. “O Carlão é uma referência. Ele já foi para vários mundiais, vários Parapans, Olimpíadas. É ótimo ter um cara assim para nadar do meu lado. Tento tirar o melhor proveito disso”, completou Douglas.
Para Ruiter Gonçalvez – que ficou com a prata nos 100m borboleta S9 em uma dobradinha com o também brasileiro Vanilton do Nascimento, que foi ouro -, o resultado mostra que a natação brasileira vem evoluindo muito no cenário internacional. “Poder sair com a medalha de prata, melhorar meu tempo e dividir o pódio com uma pessoa que eu sei que merece muito essa medalha foi muito bacana e muito empolgante”, disse. “É bem bacana, porque a gente está aqui para defender o Brasil e colocá-lo no alto do pódio”, completou Vanilton.

Daniel Dias, medalhista de ouro na prova de natação 50m costas S5, nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019.Foto: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br
Coleção de ouros
O primeiro dia da natação do Parapan também teve o maior ídolo da modalidade em ação: Daniel Dias. Em Lima, o brasileiro venceu a prova dos 50m costas na classe S5 e chegou à incrível marca de 28 medalhas de ouro em Parapans. Ele nunca perdeu uma prova no maior evento paralímpico das Américas. Daniel conquistou oito ouros em Toronto 2015, onze em Guadalajara 2011 e oito no Rio 2007. Agora, começou a contagem em Lima.
“Cada medalha tem a sua história. Esta aqui é a primeira destes Jogos. Apesar de ser o quarto Parapan que estou disputando, existe ainda um friozinho na barriga, o coração bate mais forte. E poder começar a competição já com uma conquista, aumentando a coleção, é sempre bom. Estou muito feliz. Vamos agora sorrir, nos divertir, e aproveitar ao máximo essa grande competição”, disse Daniel, que ainda vai competir em quatro provas no Parapan 2019: 50m, 100m e 200m livre e 50m borboleta.
Mais medalhas
A natação brasileira faturou 15 medalhas no primeiro dia de competições da modalidade em Lima. Foram cinco ouros, cinco pratas e cinco bronzes. Todos os pódios foram conquistados por atletas que recebem o benefício do programa Bolsa Atleta da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. As medalhas douradas vieram com Carlos Farrenberg, Débora Carneiro, Vanilton do Nascimento, Daniel Dias e Phelipe Rodrigues, que venceu os 100m livre S10.
As pratas foram conquistadas por Douglas Matera, Beatriz Carneiro, Ruiter Gonçalves, e José Luiz Perdigão Maia e Regiane Nunes Silva, que ficaram em segundo lugar nos 100m costas S11 masculino e feminino, respectivamente.
As medalhas de bronze foram conquistadas por Laila Garcia, nos 400m livre S6, Tisbe Andrade, nos 50m costas S4-5, Cecília de Araújo, nos 100m costas S8, Felipe Caltran, nos 100m peito SB14, e Mariana Gesteira, nos 100m livre S10.
O Brasil lidera o quadro de medalhas dos Jogos Parapan-Americanos de Lima. O país soma 27 medalhas de ouro, 23 de prata e 29 de bronze. Em segundo lugar, estão os Estados Unidos, com 18 ouros, 15 pratas e 14 bronzes.
Por Rede do Esporte