Escritor relata ‘encontro’ de Bob Dylan com Jackson do Pandeiro e origem de ‘Mr. Tambourine Man’
Paraibano Bráulio Tavares brinca com inspiração da música, que virou ‘Mr. do Pandeiro’ e foi gravada por Zé Ramalho. Cineasta Walter Carvalho garante ter filme que prova encontro.
Jackson do Pandeiro, cujo centenário é celebrado no último sábado (31), morreu sem colocar bebop no samba. Crítico da influência estrangeira na música brasileira, cantou em “Chiclete com Banana”, nos idos 1959, que só iria misturar Miami com Copacabana depois que o Tio Sam tocasse um tamborim. Ele não chegou a tocar o instrumento, mas na voz de Bob Dylan, cantou o tambourine, um falso cognato do tamborim e que significa justamente pandeiro.
Uma coincidência? De acordo com o escritor, poeta, compositor e músico paraibano radicado no Rio de Janeiro, Bráulio Tavares, não foi um acaso: a música “Mr. Tambourine Man” de Bob Dylan, que em tradução livre seria algo como “senhor do pandeiro”, foi inspirada em Jackson do Pandeiro.
Conta Bráulio Tavares que um dia, em 1964, o cantor norte-americano de folk visitou o Brasil em busca de inspiração nas músicas de raiz da América Latina e, por indicação da gravadora, foi ao Rio de Janeiro. Na capital fluminense, passando pela feira de São Cristovão, reduto da cultura nordestina, se deparou com um senhor negro, com um chapéu de feltro, tocando um pandeiro magistralmente.
“Lá eles começaram a beber cachaça e Jackson tocando pandeiro, e eles lá, e o pessoal dizendo: ‘Dylan, seu avião vai sair às 9h’ e ele falando ‘não, eu vou ficar aqui porque tá legal demais’, e o dia amanhecendo, depois pegaram um carro e foram bater na praia. Ele pegou o avião e voltou para os Estados Unidos. Ficou com aquela história toda na cabeça, deslumbrado e daí veio a inspiração “hey, mister tambourine man, play a song for me”, que é algo como ‘ei, seu do pandeiro, toque uma música pra mim”, relata o escritor.
Essa é a história que Bráulio Tavares, paraibano de Campina Grande e fã tanto de Jackson do Pandeiro quanto de Bob Dylan contava antes de tocava sua versão de “Mr. Tambourine Man” no violão, em apresentações ao vivo. A interpretação feita com seriedade e a descrição minuciosa do encontro envernizou de realidade o conto oral declamado por Bráulio Tavares.