Polícia intima empresa de ônibus a identificar motorista suspeito de agredir ator em SP

Policiais foram à empresa para saber quem é o condutor, mas saíram de lá sem o nome dele. Rapaz acusa agressor de homofobia por ter beijado um rapaz no coletivo.
A Polícia Civil intimou nesta segunda-feira (9) a empresa de ônibus onde trabalha o motorista suspeito de agredir um ator para identificá-lo, mas saiu de lá sem o nome do suposto agressor.
O ator Marcello Santanna, de 23 anos, disse ao G1 que foi vítima de homofobia ao ser agredido pelo motorista de um micro-ônibus na manhã de sábado (7) em Cidade Líder, na Zona Leste de São Paulo.
Marcello alega que o condutor da linha 3736-10 Jardim Nossa Senhora do Carmo-Metrô Artur Alvim o obrigou a sair do veículo depois que ele deu “selinhos” em um rapaz dentro do coletivo. Em seguida, segundo o ator, o motorista lhe deu socos no rosto do lado de fora do ônibus na Avenida Maria Luiza Americano.
“Ele já veio nos socos, sem ao menos eu nem ter tempo para terminar de falar”, contou Marcelo, que procurou uma delegacia para registrar à queixa.
Lesão corporal
O caso foi registrado no domingo (8) como lesão corporal no 53º Distrito Policial (DP), Parque do Carmo. Apesar de Marcello ter relatado ter sido vítima de homofobia, o boletim de ocorrência não informou isso no crime a ser apurado.
Mas segundo a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública, a natureza do crime pode mudar caso a investigação comprove que, de fato, o ator foi mesmo vítima de homofobia.
Marcello passou por exames médicos na manhã desta segunda. Existe a possibilidade de ele vir a ser operado por conta dos ferimentos que teve no rosto. Entre as lesões, ele teve o nariz quebrado.
Nesta manhã, os policiais do 53º DP estiveram na viação Transportes Pêssego para tentar identificar e entregar uma intimação ao motorista do ônibus que teria agredido Marcello.
Como os funcionários não disseram o nome do condutor que estava trabalhando no dia em que o ator alegou ter apanhado, os policiais então intimaram a empresa a informar quem é o condutor.
A SPTrans, que administra o sistema de transporte público de São Paulo, já havia cobrado a empresa que opera a linha a fornecer a identidade do motorista. Além disso, pediu que a Transportes Pêssego “tome as providências cabíveis em relação a seu funcionário”.
A empresa informou à TV Globo que está fazendo sindicância interna para apurar a denúncia feita pelo ator contra o motorista. Segundo a Transportes Pêssego, ela não compactua com agressões.
Veja abaixo a nota da empresa:
“A Pêssego Transportes informa que não compactua com qualquer tipo de violência e preconceito, seja por cor, raça, etnia, religião, opção sexual entre outros. Lamentamos o ocorrido e já estamos realizando uma sindicância interna para apurar os fatos. O motorista do ônibus está, neste momento, dando sua versão à empresa e tomaremos as devidas providências, conforme soubermos do ocorrido.”
“Reafirmamos que a pêssego transportes prestará toda a assistência necessária à vítima, principalmente psicológica, e reforçaremos os treinamentos e capacitações de funcionários para não haver outros casos similares a este.”
Câmeras e STF
Os policiais também tentam localizar imagens de câmeras de segurança que possam ter gravado as agressões.
Em junho deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizou a homofobia.
Leia, abaixo, o relato completo de Marcello
“Estava voltando de um rolê, e fui agredido por um motorista de ônibus pelo simples fato de estar com um rapaz. Ele estava cuidando de mim, que meu nariz tinha começado a sangrar e depois demos alguns selinhos. O motorista então, parou a lotação e aos gritos pediu pra que saímos da lotação. Me recusei, disse que tinha pago e perguntei qual seria o motivo pra gente sair. Ele então, levantou e na mesma hora resolvi não criar uma discussão e me despedi desse rapaz e da minha prima. Ao descer, levantei as mãos e disse “tá tudo bem, eu vou embora”, ele já veio nos socos, sem ao menos em nem ter tempo pra terminar de falar. O rapaz e minha prima desceram pra me socorrer, o motorista entrou na lotação e foi embora.
Estava esperando um momento bonito pra dividir com todos minha opção sexual. Porém, devido ao fato achei necessário compartilhar e não esperar mais. Estou super bem resolvido com minha escolha, e tenho graças a Deus, o amor incondicional dos meus familiares. Se aceitar è um processo difícil, mas viver certo disso que é pior ainda. As pessoas nos julgam por andar de mãos dadas, trocar carícias em público ou pelo simples fato de querer direitos iguais como todo mundo. .
A homofobia nunca foi um assunto a ser abordado apenas como mimimi. Como eu, muitos LGBT já se sentiram agredidos de alguma forma, mas a agressão física chega a ser a mais incompreensível. O que faz uma pessoa agredir a outra por causa da escolha de vida dela? Por quê agredir um ser pelo fato dele amar outra pessoa do mesmo sexo? .
Sei que as imagens são fortes, mas notícias assim precisa ser compartilhada para mostrar o quanto a luta pela comunidade lgbt é necessária! Não pense que não existe homofobia, pq existe sim e aos muitos! Somos o país que mais mata LGBT e esse fato só me faz pensar em uma coisa: eu to aqui vivo pra contar, e quantos outros que não puderam ter a chance de contar? ATÉ QUANDO NOTÍCIA ASSIM VAMOS PRECISAR CONTAR?
Já fui ao hospital, farei cirurgia nos próximos dias porque o nariz está quebrado. Já recorri aos meus direitos, e tenho respaldo da lei.
HOMOFOBIA É CRIME! Não se omita, DENUNCIE
Agradeço aos familiares e amigos por estarem comigo nesse momento, o apoio de vocês é essencial.”