Ator iguaiense participa de filme exibido hoje (17) na Mostra Conquista Cinema
Rodrigo Freire é natural de Iguaí, estudante de cinema na UESB, integrante do grupo musical A Catrupia, participa como músico dos shows do também iguaiense Álisson Menezes. Ele está no elenco do último longa-metragem a ser exibido pela Mostra Cinema Conquista, o conquistense A Doce Flauta de Liberdade, de George Neri, teve que saber incorporar os problemas típicos de uma produção cinematográfica com poucos recursos
Quando começou a ler o script de A Doce Flauta de Liberdade, projeto que chegou às suas mãos através do roteirista Cassiano Ribeiro, George Neri – diretor do curta-metragem A Tragédia do Tamanduá – percebeu que o que tinha ali era algo meio difícil de fazer com seus recursos não-hollywoodianos.
“O roteiro é asséptico”, explica Neri. “É um roteiro que tinha que ser feito em uma cidade modelo, sem nenhuma interferência de um carro moderno ou uma pessoa que não faça parte… Ou seja, era impossível fazer isso”.
Infelizmente, quem faz cinema em Conquista não tem como se apegar a detalhes assim. Além dos orçamentos limitados, aqui se sofre com a falta de profissionais que tenham mais experiência na área. A produção cinematográfica muitas vezes acaba absorvendo gente do teatro, da literatura, mas pessoas que realmente tenham familiaridade com a logística da sétima arte ainda são poucas por aqui.
“Se você não tiver profissionais que entendam essa mise-en-scène que o cinema é, essa questão do tempo – são 15 dias para filmar e você tem 30 cenas para fazer, você tem que cumprir o cronograma, porque tem uma verba específica para todo mundo, você não pode passar, tem aluguel de equipamento, enfim… Então, às vezes você termina atropelando algumas coisas para conseguir fazer isso”, lamenta o diretor.
É aí que as limitações terminam se tornando quase uma parte do cenário. Como seria muito complicado esconder que o set de A Doce Flauta tinha elementos que não pertenciam aos anos 70 (época em que se passa a trama do filme), Neri decidiu que seria interessante – e inevitável – fazer algo menos asséptico. Uma obra que valorizasse o erro, que não se preocupasse tanto em esconder suas “sujeiras”.
Os erros dos atores não foram eliminados. Até a claquete chega a aparecer na edição final, propositalmente, criando uma certa metalinguagem. “A única forma de conseguir fazer esse filme foi assumindo todos os erros”, conta Neri. “A gente não escondeu nada: está tudo presente lá”.
E é assim que os espectadores vão encontrar A Doce Flauta de Liberdade quando forem assistir à sua estreia na Mostra Cinema Conquista, nesta sexta (17/10), às 22h00. Será o último longa da programação principal do evento, com exibição no Centro de Convenções Divaldo Franco.
O filme retrata uma revolução de costumes em uma cidadezinha chamada Liberdade, onde os cinemas recebem filmes com cenas consideradas impróprias pelos mais conservadores. O projecionista, então, começa a fazer sua própria censura das obras, cortando cenas de sexo e tudo mais que julga inadequado.
Em meio a isso, também vamos observando o que os habitantes da cidade absorvem antropofagicamente de filmes de Scorsese, Hitchcock, entre outros. A Doce Flauta é cheio de referências a esses clássicos e os próprios realizadores aparecem em cena vestidos como personagens famosos – Neri, por exemplo, virou o protagonista de Taxi Driver. “A gente se transvestiu e se misturou com a população, ou seja, a gente transformou esses personagens em uma experiência de mistura dentro de Ituaçu, a cidade em que a gente filmou”, conta o diretor.
Essas referências também estão no filme em forma de música. A propósito, originalmente, o filme teria uma trilha sonora composta especialmente para ele, mas não foi assim que aconteceu: Neri acabou tendo que atuar como “DJ”, simplesmente escolhendo músicas que seriam tocadas durante a projeção. Não sobrou tempo para construir a trilha, já que houve problemas de cronograma e de repasse de verba.
De qualquer forma, era importante poder contar com algumas músicas pré-existentes que estariam ligadas à linha narrativa e eram necessárias para transportar o espectador para determinadas realidades que fazem parte da história, criando uma memória afetiva. São músicas protegidas por direitos autorais, mas que Neri sentiu que eram essenciais em um filme que fala sobre filmes.
Experimental
Segundo o diretor, A Doce Flauta de Liberdade tem uma pegada experimental na sua forma de contar a história. O roteiro em si tinha um formato até bastante “certinho”, mas a execução o transgride, não deixando que o filme seja um ‘ctrl c + ctrl v’ do script. Especialmente nas angulações e na hora da montagem, Neri procurou maneiras diferentes de levar a trama ao público, tentando fugir do que seria mais previsível nos padrões cinematográficos.
Por essa e outras características anti-comerciais, o filme claramente não é daqueles blockbusters que vão atrair milhões de espectadores em cinemas de shopping center. Então a estratégia dos realizadores de A Doce Flauta é levá-lo para os vários festivais que existem no Brasil – Neri até já o inscreveu em alguns.
“A gente não traçou nenhuma política para distribuição em salas de cinema porque é meio irreal isso”, afirma. “Na realidade, você tem que cair nas graças de alguma distribuidora de cinema que goste do filme, ache que vai ser um filme interessante…”.
O lançamento de A Doce Flauta quase aconteceu no Feciba, festival de cinema realizado em Ilhéus, mas o filme acabou não ficando pronto a tempo. Então a primeira vez do longa na telona vai ser mesmo na nossa Mostra, tendo a oportunidade de fazer sua estreia na cidade da equipe.
Um momento importante para todos os responsáveis pelo filme, que penaram para poder vê-lo pronto. “Houve vários problemas”, diz Neri. “Mas diante do que a gente está lá para fazer, esses problemas não são nada. Porque a gente termina conseguindo criar uma coisa que exige uma logística muito foda. Apesar dos problemas, conseguimos realizar e isso vira história também, vira impulso”.
Exibição
O filme será exibido nesta sexta-feira (17) às 22 horas no Centro de Convenções Divaldo Franco, a entrada é gratuita.
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Por Revista Gambiarra