Bom Senso não sumiu: vive com WhatsApp, P. André e novidade
Quando surgiu, há cerca de um ano, o Bom Senso FC tomou algumas atitudes radicais e visíveis. Os jogadores protestaram antes das partidas e divulgaram manifestações polêmicas na internet. Recentemente, porém, a organização diminuiu sua visibilidade. Sem tantos protestos, ficou a impressão de que o movimento estava enfraquecido.
Essa impressão aumentou após a ida de Paulo André, principal líder do grupo, para o futebol chinês. Mas na prática tudo isso é um sinal de que o grupo está fortalecido, trabalhando nos bastidores, inclusive com mais participação do ex-zagueiro do Corinthians. A curiosidade é que o grupo tem se organizado por mensagens no celular, usando o programa WhatsApp.
O entendimento do Bom Senso é que, em primeiro lugar, era necessário fazer protestos para apresentar as propostas e conseguir atenção. Porém, com o passar do tempo, o grupo começou a tomar atitudes mais políticas, agindo apenas nos bastidores. Conseguiu espaço em Brasília e está confiante em aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do esporte. Porém, está muito distante de ter algum sucesso com a CBF. A proposta do grupo para mudar o calendário do futebol brasileiro foi totalmente ignorada por José Maria Marin e companhia.
Um golpe duro para o Bom Senso foi a saída do zagueiro Paulo André para a China. O grupo admite que isso aconteceu, entre outros motivos, porque ele era a principal voz dos protestos. Mas na prática ele tem tido mais participação, exatamente porque a atuação do Bom Senso agora acontece fora dos holofotes: “O Paulo está participando cada vez mais por conta do calendário chinês, que é menor. Ele continua sendo líder nos bastidores, que é nosso foco hoje”, comentou Enrico Ambrogini, diretor de planejamento.
Sem Paulo André para ser porta-voz, outros jogadores tomaram frente nas manifestações, como Fernando Prass, do Palmeiras, Alex, do Coritiba, e Victor, do Atlético-MG. Nem sempre eles podem participar dos eventos, como aconteceu no Fórum Internacional Gols Pela Vida, em que apenas dois diretores puderam apresentar as ideias do grupo.
Ricardo Borges, diretor executivo, é outra voz do grupo que tem agido interna e externamente. Foi ele quem explicou como tem funcionado a conversa entre os jogadores: “nosso processo de ação é pelo WhatsApp. Só no meu celular tem 15 grupos sobre o Bom Senso. Tem muita gente, o processo é aberto”. Em cada grupo é possível ter no máximo 50 pessoas.
Como o Bom Senso é liderado por muitos atletas experientes, alguns até próximos da aposentadoria, Ricardo foi questionado sobre a renovação dos jogadores envolvidos com a causa. Ele deixou a questão em aberto: “temos algumas lideranças, mas tem jogadores de outros times, inclusive de times menores. Se no futuro alguém vai se tornar líder ou não, depende do entendendimento de cada um e como essa pessoa está disposta a vir a público”.
Ricardo inclusive denunciou algo grave que dificulta a renovação do Bom Senso: nos bastidores dos clubes muitos jogadores são pressionados a não participarem de protestos e manifestações. “A gente sabe das pressões, os jogadores nos contam. O que a gente tem feito é dar estrutura para dar mais segurança a eles. Não vou citar nenhum caso, mas eles aconteceram, de maneira sutil. Tem empresário que chega e diz que o jogador pode entrar em uma lista negra (da CBF)“.
Recentemente, o ex-jogador Vampeta, que agora é presidente do Audax, chegou a dizer publicamente que jamais contrataria um atleta ligado ao Bom Senso. “Os clubes querem mais competições para poder ganhar dinheiro. Como os clubes vão se manifestar para ter menos jogos? Como eu vou manifestar para jogar menos? Se um jogador se manifestar lá no meu clube eu mando todo mundo embora. É assim que funciona”, afirmou, em entrevista ao Sportv.
Apesar dessas dificuldades, o Bom Senso pretende continuar agindo em suas duas pautas – aprovar a Lei da Responsabilidade Fiscal do esporte e mudar o calendário do futebol brasileiro – e ainda criar mais uma. Enrico Ambrogini comentou que a ideia é lutar contra a violência nos estádios, na tentativa de ampliar o público nos jogos. O grupo ainda está discutindo – provavelmente por WhatsApp – a melhor maneira de tratar o assunto.
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Por Terra Esportes