Sérgio Mattos: Verdades Secretas | “Nossas modelos estão sofrendo bullying na escola”, conta diretor de agência
Descobridor de talentos como Cauã Reymond, Isabeli Fontana, Márcio Garcia, Daniella Sarahyba, entre tantos outros, Sérgio Mattos conversou abertamente com o JETSS sobre os assuntos polêmicos abordados na novela das 11, da Globo, “Verdades Secretas”. À frente de uma das principais agências de modelos do Brasil, a 40 Graus Models, Serginho, como é conhecido no meio, falou com a propriedade de quem entende do assunto, afinal são 25 anos trabalhando como agente e caça-talentos.
JETSS: O que está achando da novela ‘Verdades Secretas’? Ela condiz com a realidade do mundo da moda?
Sérgio Mattos: A novela é bem divertida, com atores fantásticos, mas em termos de realidade não condiz com a minha, que tenho 25 anos de mercado. Nenhuma dessas pessoas que eu lancei, que não foram poucas, recorreram para esse tipo de agenciamento [“book rosa”], não precisaram disso para alcançar o sucesso. Venceram com muito suor, ralação e talento. Então, eu acho que [a novela] distorce muito por apresentar o tema como se fosse uma coisa normal, tipo ‘vai ali fazer uma foto e depois você fica com o cliente’. Uma mãe vê isso e vai achar um absurdo. Eu acho um absurdo, porque eu sempre vi diferença entre garotas de programa que falam que são modelos e modelos, de fato. A gente sabe que novela é ficção, que eles querem ibope, polêmica e daí vem o sucesso. Antigamente, havia modelos que até tinham vergonha de falar que eram modelos. Com a chegada das agências internacionais no Brasil, a coisa foi se profissionalizando, surgiram modelos famosas como a Shirley Mallmman e a Gisele [Bündchen] e as pessoas começaram a olhar o Brasil como exportadores de modelos. É incrível que a gente tenha conseguido chegar tão longe. E conseguimos com o talento, gente bonita… Nenhuma delas tiveram que sair com o cliente para alcançar o sucesso ou para pegar um trabalho. Não digo que isso [“book rosa”] não exista, porque a gente sabe que tem agências e agências, mas não é o comum na moda.
JETSS: Na sua opinião, as polêmicas abordadas na novela, podem ajudar de alguma forma a alertar aspirantes a modelo e suas famílias quanto ao perigo de falsos profissionais da moda, como a dona de agência Fanny (interpretada pela atriz Marieta Severo)?
Sérgio Mattos: Eu acho que a novela pode ser prejudicial por um lado, porque pode deixar as mães preocupadas. Algumas new faces [modelos novatas] da agência estão até sofrendo bullying e me contaram que alguns colegas da escola perguntaram se elas fazem “book rosa” por serem modelos. Modelo já sofre bullying por ser magrela, ‘olivia palito’, agora isso. Chega a ser deprimente, mas ao mesmo tempo é bom para alertar as pessoas que não tem noção de mercado, quem é quem, porque hoje em dia todo mundo fala que é agente, mas existem muitos picaretas no meio se infiltrando, principalmente, pela internet, onde estamos muito expostos. Frequentemente descobrimos perfis falsos [nas redes sociais] que se dizem trabalhar como caça-talentos da nossa agência. A internet está infestada de maluco. Então eu acho que [a novela] pode servir para o bem, para um alerta, para as pessoas pesquisarem bem antes de aceitarem qualquer proposta de trabalho. Tem que ter cuidado!
JETSS: Você acha que por causa dos temas polêmicos abordados na novela possa haver diminuição na entrada de novas modelos no mercado?
Sérgio Mattos: Acredito que não. Há tempos, já se fala sobre o mundo da moda, dos artistas, dos músicos, mundos esses que seriam, supostamente, regado à festas e drogas, sempre teve isso né? Sempre tiveram temas do tipo em outras novelas, então eu acho que não muda nada em relação a isso. Afinal, o mundo tem de tudo. Do mesmo jeito que uma menina pode querer ficar com o diretor de uma empresa para subir [na carreira], o mesmo pode acontecer no meio da moda, mas isso não são regras, são exceções.
JETSS: Existe de fato tanto assédio nas modelos de pessoas que tenham algum tipo de influência no mercado, tais como empresários, estilistas, fotógrafos, etc…?
Sérgio Mattos: Assédio é evidente que existe. As modelos estão expostas, elas saem na capa da revista e tem muita gente que gostaria de conhecer e sair com essas belas mulheres. Atualmente, o assédio é muito maior por causa da internet, das redes sociais. Antigamente, era mais difícil conseguir o contato dessas meninas.
JETSS: Você acha que as modelos novas e menores de idades são alvos mais fácies de serem assediadas no mercado? Você sabe de algum caso em que uma agência séria teve que intervir numa situação constrangedora?
Sérgio Mattos: Acho importante ter todo um cuidado. Por isso, falamos para a família estar sempre presente. Hoje em dia, temos leis no Brasil, antigamente com 12, 13 anos você já podia ser modelo. Agora só com 16 anos, atestado médico, atestado de escolaridade… A profissão foi se regulamentando e eu acho que isso dá uma proteção maior. Já tivemos várias situações constrangedoras, de fotógrafo que pede para modelo fotografar com os seios à mostra, sem que isso tenha sido acordado previamente. A orientação da agência e a base familiar é importante. A agência existe também para filtrar e saber quem são os profissionais envolvidos no trabalho. Hoje em dia tem o “facebooking”, que são pessoas desconhecidas que chamam meninas para fazer trabalhos como modelo através do Facebook. Pessoas essas que ninguém sabe quem é, e que muitas vezes são picaretas. Nós estamos aqui para isso. Orientamos, lapidamos e ensinamos. Nós trabalhamos para as modelos, não são elas que trabalham para nós. Até mesmo a parte de saber lidar com todo esse assédio, cabe a nossa orientação.
JETSS: Pelo seu conhecimento na área, existem agências que de fato agenciam suas modelos para que façam programa como a demonstrada na trama com o “book rosa”?
Sérgio Mattos: Isso é lenda. Eu não convivo com esse tipo de coisa, mas a gente ouve falar que existe.
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Por Jettss