Flip 2015: Roberto Saviano envia mensagem ao público brasileiro

Autor de Gomorra, onde retrata as intrincadas relações da máfia napolitana, o jornalista e escritor italiano pede que não desistam de trazê-lo para os próximos festivais
“Realmente, seria uma ocasião belíssima para nos encontrarmos. Infelizmente, aconteceu aquilo que sempre acontece na minha vida.” Em sua fala que abriu o vídeo de quase 11 minutos feito especialmente para o encerramento da Flip 2015, no último domingo (5), o jornalista e escritor italiano Roberto Saviano, obrigado a cancelar sua vinda à Flip às vésperas do evento, saudou aos brasileiros e manteve aberta a possibilidade de ainda vir ao Brasil para a festa literária de Paraty. “O livro que escrevi tem o coração da América Latina.”
No vídeo, o autor de Gomorra fala sobre o livro que o transformou em um alvo da máfia e sobre a forte presença do Brasil no mercado internacional do tráfico de cocaína. “O relato do poder criminoso no Brasil, a estrutura mafiosa que agora abrange também as organizações de São Paulo e do Rio, e que, segundo a minha opinião, são erroneamente chamadas de quadrilhas, de bando. Trata-se de máfia brasileira”, afirmou Saviano, cuja presença na Flip confirmada desde o final de 2014. A diferença, segundo o autor, reside no fato de a máfia ter uma estrutura de regras, de códigos morais sedimentados durante anos. O bandido e a quadrilha, por sua vez, funcionam sem uma estrutura de regras e sem uma história e tradição que estruturam hierarquicamente as suas ações. “A máfia está pronta para influenciar a economia e pode influenciar a política, já as quadrilhas não”, explica. “O papel central das máfias está todo ali, isto é, na ligação entre a política, a economia e o mundo do narcotráfico.”
Petróleo branco e a aliança com a economia legal
O jornalista aponta que não pode existir a criação de um poder econômico criminoso sem a conivência e a aliança com a burguesia saudável do país e é esse elo que precisa ser descrito. “A periferia napolitana bombeia o dinheiro para o centro da Itália; as favelas, o mundo criminoso brasileiro, bombeiam dinheiro da economia legal brasileira.”
Saviano revela que com o livro expôs não apenas as dinâmicas nacionais e internacionais da máfia napolitana, mas mostrou como a economia criminosa do petróleo branco, da cocaína e outros produtos ilegais domina hoje a economia em todo o mundo. Ele mostra que, o retorno de um investimento no mercado da coca é, no mínimo, 100 vezes maior do que no mercado legal, número que explica a presença da violência no cotidiano brasileiro e italiano – e por que é tão difícil detê-la.
Vidas destruídas
Para o autor, sua obra homenageia aqueles que tiveram suas vidas destruídas por terem escrito sobre as organizações criminosas, como o jornalista brasileiro Tim Lopes, morto em 2002 por traficantes da Vila Cruzeiro, e como é enlouquecedor viver sob ameaça. “Acho muito injusto, muito doloroso viver assim. Somos muitos a viver nessas condições. Eu sou um privilegiado. Porque sei bem que ter a possibilidade de falar, de falar a vocês neste momento, por exemplo, para muitos não é possível.”
Flip 2015
A 13.ª edição da FLIP ocorreu de 1º a 5 de julho e teve Mário de Andrade como autor homenageado.
Quem faz a Flip
A Casa Azul é uma organização da sociedade civil de interesse público, que desenvolve projetos nas áreas de arquitetura, urbanismo, educação e cultura. Desde as primeiras ações, há mais de vinte anos, vem desenvolvendo uma metodologia de leitura territorial capaz de potencializar importantes transformações no território. Em Paraty, onde a associação se originou, esse processo levou à realização de ações de permanência, com projetos como a Flip, a Biblioteca Casa Azul e o Museu do Território, entre outros.
Patrocínio
A programação da Flip conta com o patrocínio oficial do BNDES, Itaú, Petrobras e apoio do Sesc. É realizada por meio das leis de incentivo à cultura do Governo do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e do Ministério da Cultura do Governo Federal.
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Por Ascom / Flip 2015