Tricampeão olímpico, José Roberto Guimarães espera os Jogos mais difíceis de sua carreira em 2016
Treinador da seleção feminina fala sobre o calendário do primeiro semestre, analisa lições das conquistas de Pequim e Londres e prevê disputa duríssima entre cinco equipes pelo ouro
O paulista José Roberto Guimarães protagonizou façanhas tão marcantes ao longo da carreira como treinador de vôlei que hoje é o único de seu tipo em dois pontos de enorme peso. No Brasil, apenas ele ostenta no currículo três ouros em olímpicos, tendo marcado o esporte nacional com as medalhas douradas em Barcelona 1992 (com o time masculino) e em Pequim 2008 e Londres 2012 (com a feminina).
Esses feitos foram responsáveis por alçá-lo a uma condição até aqui inigualável em âmbito mundial: a exceção dele, nenhum outro técnico no vôlei conseguiu levar uma equipe masculina e uma feminina ao topo do pódio olímpico.
Levando-se em conta a participação do Brasil nas duas últimas edições dos Jogos Olímpicos, apenas a Seleção Brasileira feminina de vôlei (considerando os esportes individuais e coletivos) conseguiu conquistar o ouro tanto em Pequim quanto em Londres. Mesmo com uma vida esportiva tão vitoriosa, Zé Roberto não se permite descansar. Às vésperas da chegada do histórico ano olímpico para o Brasil, ele prevê que os Jogos do Rio serão os mais difíceis de toda sua carreira.
“Eu acho que esse desafio vai ser o mais difícil das nossas vidas por uma série de circunstâncias. Tem o fato de o time se bicampeão olímpico e com isso vem a expectativa em torno da equipe jogando em casa e diante da torcida”, afirma.
Zé Roberto, contudo, não se intimida. “Vai ser difícil, mas vejo com otimismo a situação de jogar em casa, em um local que você já conhece e amparado pela torcida. Nosso time hoje não é considerado o melhor do mundo, mas sabemos que temos qualidade e potencial para jogar contra qualquer adversário. Eu sempre digo que a gente tem a responsabilidade de se apresentar bem, de jogar bem dentro de casa e de fazer o melhor. Ganhar ou perder faz parte da competição. Mas é lógico que a gente tem chance de lutar por uma medalha e é isso o que vai acontecer”, diz.
Calendário e rivais
As jogadoras da seleção feminina terão pouquíssimo tempo de descanso no primeiro semestre de 2016. Após a Superliga, serão apenas alguns dias de folga antes do início dos trabalhos visando aos Jogos Olímpicos do Rio.
“O planejamento está assim: as jogadoras que forem saindo da Superliga vão ter uma semana de folga e, depois, já começam a se apresentar, no fim de março. A Superliga acaba em 3 de abril e as jogadoras que disputarem a final se apresentam no dia 11″.
“Aí, a gente treina abril e maio e, no dia 10 de junho, começamos o Grand Prix no Brasil. A gente joga no Brasil no dia 10, e, depois, na segunda semana, jogamos em Macau. Na terceira semana, vamos para Ancara, na Turquia. E na quarta semana temos as finais do Grand Prix, na Tailândia”, enumera. “O Grand Prix acaba em 10 de julho. Aí voltamos para Saquarema (para o Centro de Desenvolvimento do vôlei, onde as Seleções masculina e feminina treinam) para continuar a preparação para as Olimpíadas. O nosso primeiro jogo é no dia 6 de agosto. Todo o planejamento já está pronto”, prossegue o treinador.
O trabalho de José Roberto Guimarães não termina quando acabam os treinos em quadra. Nos bastidores, é preciso muito estudo das equipes adversárias. Por isso, ele sabe bem onde estão os principais pontos de alerta no caminho do Brasil rumo ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio.
“Temos alguns rivais importantes, a começar pelos dois primeiros que se classificaram na Copa do Mundo do Japão, que são Sérvia e China”, diz. “Os qualifyings (para as Olimpíadas) começam no dia 4 de janeiro. No qualifying Europeu, eu acredito que deva se classificar a Rússia, que é outro adversário importante. Outro rival de peso são os Estados Unidos, que ainda não estão classificados, mas vão se classificar. E sempre tem um ou outro time importante. A Turquia é um time chato, e tem o Japão e a Coreia. Acho que esses são os países que vão lutar pelas medalhas. Mas acho que pela medalha de ouro esses quatro times aparecem em primeiro lugar: Sérvia, China, Rússia e Estados Unidos, juntamente com o Brasil”, analisa.
Aprendizados de 2008 e 2012
Para Zé Roberto, a conquista do ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, ao contrário do que aconteceu em Pequim, trouxe lições que podem fazer a diferença no Rio de Janeiro.
Na China, o Brasil conseguiu superar a traumática derrota na edição olímpica de Atenas 2004 – o time vencia a semifinal por 2 x 1, fez 24 x 19 no quarto set contra a Rússia, mas permitiu a virada e acabou derrotado, tendo perdido, depois, a disputa pelo bronze – e brilhou de forma espetacular. A equipe chegou ao ouro de forma invicta, tendo perdido apenas um set em toda a competição.
Na Inglaterra, contudo, a história foi completamente diferente. E mais dramática. A Seleção passou perto de ser eliminada na primeira fase e precisou de muito poder de superação para chegar ao bicampeonato olímpico.
Ao recordar esses dois cenários, Zé Roberto acredita que a maturidade da equipe agora é outra. “Na realidade, o que houve foi uma sequência de fatos. Ganhamos em 2008 em um grande desafio, porque o grupo era considerado um time de amarelonas. Falavam que a gente não conseguia vencer uma grande competição, que a gente sempre esbarrava na última bola. E a gente também vinha daquela experiência traumática de Atenas. Então, nós tínhamos que provar para nós mesmos que nós tínhamos condições de vencer, que tínhamos um time que tinha brio e que a gente tinha caráter”, lembra o técnico. “Além disso, também passamos por uma situação complicada no Pan de 2007, quando a gente perdeu a final para Cuba. Mas ali cresceu a nossa vontade. A nossa vontade era cada vez maior de mostrar que tínhamos condições de ganhar uma grande competição”, desabafa Zé Roberto.
Para o técnico, o ouro na China, pela forma como foi conquistado, foi marcante, mas acabou por tirar um pouco o foco da equipe para o ciclo olímpico seguinte. Para ele, foi por isso que a campanha de Londres foi tão complicada.
“Em Pequim, nós só perdemos um set e aí ficou aquela coisa do latino, de ter ganho, de já ter feito um grande resultado. Foi quando o time começou a entrar em uma zona de conforto, o que foi perigoso. Eu tive bastante desgaste nesse período, de 2009 até 2012, em função do que o time já tinha conseguido”, revela.
Mas após o sofrimento na campanha de ouro em Londres, Zé Roberto enxerga uma outra realidade para 2016. “Os Jogos de 2012 passaram a ser para a gente um grande diferencial, pelas dificuldades que nós tivemos para vencer aquela competição. Foi o título mais difícil e a gente só conseguiu vencer depois de uma derrota para a Coreia avassaladora e que virou a chave”, rercoda.
“Nós tínhamos treinado, não da forma como havíamos treinado para Pequim, mas tínhamos treinado bem. Mas faltava, na minha opinião, mais solidariedade àquele time, mais ajuda entre as jogadoras. Quando começamos a nos ajudar, quando começamos a jogar como equipe de novo, como tinha acontecido em Pequim, a gente começou a superar os adversários e começamos a criar forças”.
O bicampeonato olímpico, segundo ele, trouxe mais do que o segundo ouro para a Seleção feminina. E todo o aprendizado é mais um aliado na caminhada rumo aos Jogos de 2016. “A lição que fica é exatamente essa: a responsabilidade que temos. O fato de vestir a camisa da Seleção, a possibilidade de ganhar um título em casa, tudo isso é motivador. A gente passou por períodos difíceis e não queremos mais passar por isso. Acho que o time está maduro. Eu vejo uma preocupação grande das jogadoras para a disputa das Olimpíadas. Eu vejo de uma forma positiva o fato de elas quererem se preparar bem, de estarem preocupadas e de quererem fazer o melhor possível justamente por terem passado por essas dificuldades em Atenas, no Pan de 2007 e em Londres”, finaliza.
…
Por Ascom / Ministério do Esporte