Diretor da Fiesp propõe que Brasil seja base para lançadores de satélites do Japão
Seminário Intercâmbio Brasil-Japão em Perspectiva mostra também oportunidade no desenvolvimento de vacinas contra dengue, zika e chikungunya
José Augusto Corrêa, diretor titular adjunto do Departamento de Relacões Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp (Derex) apresentou ontem (22/2) uma proposta surpreendente durante o seminário Intercâmbio Brasil-Japão em Perspectiva. Corrêa sugeriu que o Japão faça no Brasil o lançamento de seus foguetes de transporte de satélites. É um acordo em que todos ganham, disse, lembrando que a enorme extensão (3.000 km) de território na linha do Equador torna o Brasil ótimo local para o lançamento. O Japão, com um dos programas aeroespaciais mais avançados do mundo, ganharia com o corte de custos. Ter base no Brasil permitiria ao Japão economizar 30% de combustível no lançamento, ou levar 30% mais carga, explicou Corrêa. Atualmente a China se encarrega do lançamento dos satélites brasileiros.
Akira Homma, assessor científico e tecnológico sênior da Bio-Manguinhos/Fundação Oswaldo Cruz, ressaltou durante o evento a interação de longa data na área biomédica entre Brasil e Japão. Destacou que, apesar de seu avançado sistema de saúde, o Japão tem alta incidência de doenças imunopreveníveis – e até “exporta” vírus. Homma apresentou proposta de intercâmbio entre Brasil e Japão na prevenção de doenças. O Brasil usaria o conhecimento acumulado com o Programa Nacional de Imunizações (PNI), e o Japão forneceria expertise na medicina preventiva e assistencial. Outra área de grande potencial é a capacitação científica e tecnológica em vacinas, em que o Japão é forte, e o Brasil ainda tem carência. O intercâmbio na área de produção de vacinas traria ganho no desenvolvimento comum de vacinas – por exemplo, contra dengue, zika e chikungunya.
No seminário, promovido pela Fiesp em parceria com o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros e o Consulado Geral do Japão em São Paulo, o diretor titular do Derex, Thomaz Zanotto, destacou a importância de olhar para o Japão neste momento em que o Brasil está “numa fase clara de transição de um ciclo político econômico para outro”, uma vez que os nipônicos são conhecidos por sua visão a longo prazo e projetos que miram o futuro. O apoio japonês no início dos anos 80, ele diz, foi um exemplo dessa percepção aguçada. O Brasil estava sem reservas, com hiperinflação e mesmo assim empresas japonesas acreditaram no país, fazendo investimentos na mina de Carajás e no setor de papel e celulose.
“Isto é algo que falta ao Brasil: perspectiva de longo prazo. Quando vemos os projetos do Japão em que houve participação japonesa, são sempre projetos grandes e de sucesso”, lembrou Zanotto. “Não podemos mais pensar no máximo na próxima eleição ou no orçamento deste ano, apenas. Temos que pensar no longo prazo, e o Japão, nesse sentido, é um forte exemplo para nós.”
O presidente do Centro de Estudos Nipo-Brasileiro, Shozo Motoyama, também falou sobre parcerias passadas de sucesso, como por exemplo o aproveitamento do cerrado para a extração de celulose. Já o cônsul geral do Japão no Brasil, Takahiro Nakamae, lembrou que a visita do primeiro-ministro de seu país ao Brasil, em 2014, foi de extrema importância para as relações bilaterais.
Mundo em mudança
José Augusto Corrêa, diretor titular adjunto do Derex, destacou a transformação das relações internacionais. “Existe uma mudança completa, que inclui o ambiente de comércio internacional. É como se estivéssemos jogando futebol e, de repente, dissessem que agora se pode jogar com as mãos. Temos que mudar”, disse, para ressaltar a importância do Tratado Transpacífico (TPP na sigla em inglês), que une EUA e Japão.”
Corrêa lembrou que a Fiesp defende a análise de se integrar ao acordo, que deve ditar o padrão dos futuros pactos norte-americanos. E está em gestação o Tratado Transatlântico (TPIP), que vai incluir Estados Unidos e União Europeia, no que pode ser o maior acordo de livre comércio do mundo. “Ou a gente negocia agora, ou no futuro só vamos poder aderir.”
Paulo Eduardo Rocha Brant, diretor presidente da Cenibra -Celulose Nipo-Brasileira S/A, disse que uma das faces mais funestas da crise atual do país é o seu quase isolamento do ponto de vista das relações econômicas internacionais. “Infelizmente o Brasil está ficando à margem” da atual revolução tecnológica. Frisou a enorme complementariedade entre Brasil e Japão. O Japão poupa mais do que investe, porque já tem infraestrutura pronta, ao passo que o Brasil ainda precisa de muita coisa.
Passado e futuro
Akihiro Ikeda, que foi presidente da Alunorte (1977-1978), vê espaço para aumentar muito as trocas entre os dois países. O Japão, explicou, tem sérios problemas, como o demográfico, que limita a demanda e lhe tira a energia para o futuro. O Brasil deve sair da crise em talvez dois anos, mas depois tem baixa chance de crescer mais que 3% ao ano – e também começa a enfrentar problema demográfico. Não se sustenta crescimento baseado apenas em aumento da produtividade da mão de obra. O Brasil tem mercado, com 200 milhões de pessoas, com demanda em transformação, e o Japão tem tecnologia.
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Por Ascom/FIESP