Projetos criam soluções para barrar óleo nas águas do Nordeste
Pesquisadores produzem barreiras a base de fibras naturais; responsável por um dos projetos tem apenas quinze anos
Palha de coco e de milho são a base para dois experimentos que criam contenções para vazamento de petróleo. Um dos pesquisadores, Hagmar Tinoco, tem apenas 15 anos e foi um dos destaques do 10° Encontro de Jovens Cientistas, promovido pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). O projeto do garoto, chamado de Barreira Orgânica de Contenção (BOC), foi orientado pelo professor Jorge Bugary e teve seus estudos iniciados em maio.
A barreira natural criada no estudo é feita de palha verde do milho, recém-tirada do grão, juntamente com cordas de sisal. Com a união dos dois materiais é possível criar uma barreira em torno da mancha de petróleo na água. Com o tempo, a palha do milho absorve o óleo poluente. Depois, as palhas e cordas contaminadas poderão ser trituradas e usadas na produção de asfalto para a manutenção de vias públicas.
“O projeto começou enquanto eu e meus colegas pesquisávamos sobre a utilização da pipoca como absorvente de petróleo. A partir desse conhecimento, passando a analisar a possibilidade de utilizar algum outro material proveniente do milho para a criação de uma barreira, descobrimos que a palha do milho caberia nesse papel, pois ela é muitas vezes descartada, principalmente na agricultura extensiva” detalha o jovem.
Fibra de coco
Com mais tempo de estudo, o produto a base de fibra de coco foi patenteado há um ano. O estudo, que acontece desde 2014, alterou a fibra natural para torná-la mais eficiente. “Fizemos um tratamento químico na fibra, pra retirar o que a gente chama de lignina, que um tipo de gordura da fibra. Com essa extração os poros da fibra aumentam e ela consegue absorver mais”, explica o biólogo Ícaro Moreira, professor do Instituto de Engenharia Ambiental da Ufba. O projeto foi desenvolvido no Instituto de Geociências e Escola Politécnica, da Ufba, e pela Unifacs.
A fibra alterada se torna 20 vezes mais resistente na absorção de óleo e já foi testada nas praias da Pituba, logo que o vazamento chegou em Salvador, no início de outubro. “Agora trouxemos água do mar e óleo para mais testes na universidade, para comprovar que a fibra funciona também no ambiente de turbulência de alto mar”, esclarece o pesquisador, que acrescenta que os testes estão sendo bem sucedidos.
O produto tem três variações e pode ser utilizado tanto na água quanto na areia ou em rochas. “O petróleo é hidrofóbico e quando encontra a fibra é atraído por ela como se fosse um imã”, detalha Ícaro. “Essa fibra depois que tá com óleo, em laboratório a gente separa e o óleo volta para ser utilizado como combustível de navio. Em nenhum momento usamos incineração, nenhum produto tóxico é gerado”, garante o professor.
Além da fibra, outra patente do instituto, um reator de micro-algas, é utilizado para remover uma parte tóxica do óleo cru. As microalgas também são separadas em laboratório e reutilizadas para produzir biodiesel.
Gabriel Amorim*/Jornal Correio
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro