Professora Eulina Assunção Novaes: Um legado de dedicação à educação de Iguaí

Se estivesse entre nós, a Professora Eulina Assunção Novaes, uma figura icônica na educação do município de Iguaí, Bahia, completaria 102 anos em 2025. Primeira professora formada em magistério e nomeada pelo Estado da Bahia para lecionar na região, dedicou a sua vida a prestar serviços relevantes e inestimáveis à educação local.
Natural de Jussiape, nas Lavras Diamantinas da Bahia, nasceu em 27 de setembro de 1923, filha de Autímio Vieira Assunção e Maria Amélia Teixeira Assunção. Ainda criança, despertou em si o desejo de se tornar professora. Ao concluir o curso primário, foi cursar o ginasial em Salvador. Naquela época, as famílias enviavam, geralmente, os filhos homens para continuarem os estudos na capital, mas ela demonstrou interesse pelos estudos e convenceu o seu pai, que queria um dos filhos formados em Farmácia para dar continuidade ao ramo comercial em que ele atuava.
No entanto, o seu interesse era se tornar professora. A paixão pelo Magistério a fez prometer a si mesma que, se essa vontade fosse realizada, iria para um lugar onde mais estivesse precisando dela para exercer a sua vocação. Após concluir o curso, em contato com o então secretário de Educação do Estado, Anísio Teixeira, falou desse seu desejo. O secretário, então, a pedido de seu pai, indicou Jussiape, também Rio de Contas, que ficava próximo da sua terra natal, ou até mesmo a capital, Salvador, não conseguindo convencê-la. Sabendo que havia carência de professores em Poções, mais especificamente no então distrito de Iguaí, solicitou a sua ida para o município. Após ser nomeada, conseguiu ser designada para atuar em Iguaí em 1948, onde foi a primeira professora formada, nomeada pelo Estado. Não havia ainda escolas, somente salas de aulas multisseriadas com alguns professores leigos.

Maria Ribeiro de Novaes (Dona Binha) e Bráulio Novaes, uma das famílias pioneiras na fundação de Iguaí
A sua ida para um lugar tão distante também foi motivo de preocupação para os pais, já que não era comum, na sociedade da época, deixar uma filha ainda jovem ir morar sozinha, longe da família. Essa atitude demonstra que era uma mulher à frente de seu tempo, uma idealista que somente pensava em contribuir para a educação do seu estado e que nutria um grande amor pela profissão que abraçara. Ao chegar, reencontrou com alguns parentes, que também moravam em Iguaí, passando a morar com uma tia. Entre esses parentes, estavam Bráulio Clementino de Novaes e Maria Ribeiro de Novaes (Dona Binha), que tinham saído de Jussiape no início da década de 20 e contribuído para a fundação de Iguaí. Eles eram pais de Deusdédite Ribeiro de Novaes, com quem a Professora Eulina viria a se casar em 22 de fevereiro de 1950, na Igreja de Santo Antônio, em Salvador.

O casal de namorados Deusdédite Ribeiro de Novaes e a Professora Eulina Assunção Novaes no Poço da Cachoeira, Fazenda Cachoeira Grande, Iguaí
Sendo assim, a Professora Eulina Assunção Novaes foi uma pioneira na educação em Iguaí, onde foi a primeira educadora formada em magistério e nomeada pelo Estado da Bahia, a atuar no município. Durante mais de três décadas, não apenas moldou o currículo escolar, mas também influenciou diretamente a vida de incontáveis alunos que passaram por suas salas de aula. A dedicação da Professora Eulina não se limitava ao ensino tradicional. Ela foi a responsável pela escolha do nome do atual colégio estadual do município, denominado Duque de Caxias. No início, era o nome de sua escola, no antigo prédio que se tornou posteriormente a prefeitura municipal, uma sala multisseriada, só com mulheres. Outro fato importante foi que, nos anos seguintes, por sua iniciativa, as salas de aula passaram a ser mistas, com alunos e alunas. Depois, o nome passou a ser também de um grupo escolar do estado e, por fim, do colégio. A escolha do nome foi um dos muitos atos que evidenciam seu comprometimento com a educação.
Também desempenhou um papel central na promoção do civismo e da cultura local. Foi ela quem organizou os primeiros desfiles cívicos da cidade e fundou a primeira banda marcial de Iguaí, composta exclusivamente por mulheres, além de outras atividades culturais. Estes eventos não só enriqueceram a educação, mas também a vida cultural da cidade, promovendo um senso de unidade e orgulho comunitário.

Primeira Banda Marcial no 1º Desfile Cívico de Iguaí, organizado pela Professora Eulina Assunção Novaes (Foto: Arquivo Pessoal)
Além de suas realizações no campo da educação, a Professora Eulina Assunção Novaes era uma devota católica. Por muitos anos, ela foi professora de catequese, sendo também a primeira a exercer esta função, na igreja Católica local, que se tornaria a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a igreja que frequentava na cidade que adotou como sua segunda terra. Sua fé era uma parte integral de sua vida, e ela buscava transmitir seus valores religiosos aos jovens da comunidade.
Deixou um texto em homenagem a Iguaí, escrito no dia da emancipação política do município, 12 de dezembro de 1952, assim como poemas, sendo selecionada para participar do livro Talentos da Maior Idade (Casa do Novo Autor, São Paulo), em 2000, no qual publicou o seu poema “Minhas Jóias”, dedicado aos seus filhos.
A memória de Eulina Assunção Novaes permanece viva nas mentes e corações dos que tiveram a honra de conhecê-la e aprender com ela. Seu impacto na educação, na cultura e na vida religiosa de Iguaí é inegável e duradouro. As fotografias de seu arquivo pessoal, que capturam momentos como a organização do primeiro desfile cívico com a banda marcial, são testemunhos visuais de sua dedicação e espírito inovador.

Terno de Reis de Iguaí, 1948. Professora Eulina Assunção Novaes (primeira da fila), que esteve à frente da organização. As outras participantes são: Isaura Macedo (Zuis), Maria Elpídia Novaes (Lilinha), Eulália Novaes (Lalinha) e Marialva Ribeiro – Foto: Arquivo Pessoal
Ensinou durante 32 anos em Iguaí, onde, depois de aposentar-se, ficou até os últimos dias de sua vida, adotando-a como sua segunda terra, pedindo que ali fosse sepultada quando viesse a falecer, o que ocorreu em 03 de julho de 2005. Ao recordarmos os vinte anos de seu falecimento, é crucial refletirmos sobre a importância de educadores como a Professora Eulina. Sua vida e obra são exemplos brilhantes de como a paixão pelo ensino, combinada com uma visão de longo prazo e um profundo amor pela comunidade, podem transformar realidades. Deixou um legado que continuará a inspirar futuras gerações de educadores e alunos.
A Professora Eulina Assunção Novaes não foi apenas uma educadora; ela foi uma pioneira, uma liderança na comunidade. Seu impacto em Iguaí e na vida de seus habitantes é um testemunho de sua dedicação e amor pelo ensino. Vinte anos após sua partida, celebramos sua vida e seu legado, que continua a brilhar como um farol de inspiração e esperança para todos aqueles que valorizam a educação e a cultura.
Através de seus inúmeros feitos e contribuições, a Professora Eulina Assunção Novaes permanece uma figura reverenciada e lembrada com carinho. Que sua memória continue a guiar e inspirar todos nós.