Cinema Novo e o “Novo MinC”

Ao saber que o documentário “Cinema Novo” leva o “Olho de Ouro” no Festival de Cannes, na França, um dos principais prêmios do cinema no mundo, fico muito feliz e vejo como a cultura é uma linha que vai tecendo aos poucos a nossa história, numa trajetória sem fim. Feliz também pelo tema do filme, que nos remete, principalmente, à Glauber Rocha, baiano, de Vitória da Conquista e, mais feliz ainda, por este motivo. Em um momento triste para a cultura brasileira, lembrar-se desse nosso conterrâneo, vizinho de uma cidade da nossa região sudoeste, é de deixar orgulhoso qualquer brasileiro e, no meu caso, sou até suspeito de falar, pelo imenso amor que tenho por minhas raízes e pelo quanto valorizo a nossa história, memória e cultura.
Acabo de saber também sobre o recuo do desgoverno Temer em relação ao MinC. Um perdido no Planalto Central, que torna um ministério tão importante como esse em secretaria e, depois de uma semana, “recria” como ministério em mais uma de suas sandices. Ele não esperava que o seu primeiro ato em relação a isso tomasse uma repercussão tão grande, através do protesto de artistas pelo país afora. Mais que isso, ele não tem nenhuma noção do que é a Cultura, pois sempre viveu nos porões do poder, esperando o momento certo para usufruir de acordos, conchavos e outras manobras escusas de criaturas execráveis como são os políticos que hoje estão assumindo o poder em nosso país. Dentre esses, me aparece um tal de Gedel, que sempre sugou do poder público, dizendo que era contra essa volta do MinC, mas que foi voto vencido nessa decisão. Quem não conhece esse político que nos faz ficar envergonhados pelo fato de saber que é um baiano, mas que, como também sabemos, não nos representa? Um sanguessuga que sempre esteve colado ao lado de presidentes e governadores, atrás de um ministério, atrás de uma mamata nas tetas do poder público, sempre pulando para o lado que é mais conveniente para os seus interesses pessoais.
Esqueçamos, no entanto, esses sujeitos hediondos e voltemos a Glauber Rocha e ao documentário, produzido pelo seu filho Erik Rocha, que nos mostra esse movimento cinematográfico que aconteceu no Brasil dos anos 60 e que ganhou o mundo, tornando o cineasta baiano e seus filmes, além de seus ideais, conhecidos e respeitados em todo o mundo, ao lado de grandes nomes do cinema europeu. “Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” deram ao autor de filmes como Deus e o diabo na terra do sol (1964), Terra em transe (1967) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969) lugar de destaque entre os grandes cineastas contemporâneos, através de suas ideias e opiniões que revolucionaram a sétima arte.
Esse prêmio cai como uma bomba nos pés daqueles faraós do planalto, que estão mumificados em sua ignorância e não sabem o que a Cultura significa para o país. Aliás, sabem sim, como um bando de intolerantes que pelo Brasil afora teimam em ficar contra determinado projeto ou ministério, porque esses golpistas simplesmente entenderam que assim deve ser. Inconcebível acreditar no que está acontecendo no Brasil, um retrocesso para a Idade Média, ou melhor, por que não dizer para a Idade da Pedra. Como dizia Cazuza, “vamos pedir piedade, Senhor, piedade, para essa gente careta e covarde”. Ainda bem que Glauber Rocha não teve que passar por isso, mas se estivesse vivo estaria “glauberizando” com a atual irrealidade brasileira. Como sempre, o mundo mostrou ao Brasil a riqueza da sua Cultura, de seus artistas e de sua gente.
…
Por Cacau Novaes*
*José Carlos Assunção Novaes (Cacau Novaes) é autor de Marádida – uma luz no final do túnel e Os poetas estão vivos. Doutorando em Língua e Cultura, Mestre em Letras, Especialista em Língua Portuguesa, Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual e Jornalismo Empresarial e Assessoria de Imprensa, Licenciado em Letras Vernáculas. Criador e editor do site www.iguaimix.com.