Érika Miranda anuncia a aposentadoria no judô
Após 12 anos de seleção e inúmeras conquistas para o Brasil, judoca, dona de cinco pódios em Campeonatos Mundiais, deixa os tatames aos 31 anos
A judoca Érika Miranda decidiu encerrar neste ano sua carreira como atleta de judô. Aos 31 anos, sendo 12 deles representando a seleção principal de judô do Brasil, a brasiliense fecha um ciclo de inúmeras conquistas no tatame e ainda entre as melhores, como atual número quatro do mundo no peso meio-leve feminino (52kg) no Ranking da Federação Internacional de Judô. Ela será homenageada na sede de seu clube, a Sogipa, nesta quarta-feira (31), em Porto Alegre, às 15h, onde atenderá a imprensa sobre os próximos passos que pretende trilhar.
“Hoje, com orgulho e emoção, venho despedir-me da minha carreira no Judô, esporte pelo qual vivi todos os dias com empenho, disciplina, profissionalismo e renúncias. Mas, sobretudo, com amor e paixão”, disse. “Há momentos na vida que somos compelidos a tomar decisões importantes e esta, sem dúvida, é a mais difícil para mim.”
Sua última competição foi o Campeonato Mundial de Baku, disputado em setembro deste ano na capital do Azerbaijão, onde Érika conquistou a medalha de bronze. Resultado que a colocou ao lado de Mayra Aguiar como recordistas do judô brasileiro em pódios em Mundiais com cinco medalhas. Érika foi prata no Mundial do Rio, em 2013, e bronze em todos os Mundiais seguintes: Chelyabinsk 2014, Astana 2015, Budapeste 2017 e Baku 2018. A medalha de Érika no Azerbaijão foi a única do país no Mundial deste ano.
A brasiliense representou o Brasil em duas edições de Jogos Olímpicos: Londres 2012 e Rio 2016, onde disputou o bronze e terminou em quinto lugar, seu melhor resultado olímpico.
Ao longo desses anos, colecionou dezenas de medalhas em etapas de todos os níveis do Circuito Mundial, como Abertos, Copas do Mundo, Grand Prix, Grand Slam e World Masters, tornando-se uma das judocas mais consistentes do mundo, chegando a liderar o ranking mundial por diversas vezes.
Érika dominou a categoria meio-leve a nível continental, conquistando 12 medalhas pan-americanas (Jogos e Campeonatos). Ela é tetracampeã pan-americana (2012, 2014, 2015 e 2016), além de ter sido campeã dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015, e duas vezes prata, no Rio 2007 e em Guadalajara 2011.
Liderança
Além de todas as conquistas, Érika Miranda desempenhou dentro e fora dos tatames um papel de liderança junto às suas companheiras de seleção que formam uma das gerações mais vitoriosas do judô feminino brasileiro, com judocas como Sarah Menezes, Rafaela Silva, Ketleyn Quadros, Mariana Silva, Maria Portela, Mayra Aguiar e Maria Suelen Altheman.
A Confederação Brasileira de Judô prestou seu reconhecimento à judoca Érika Miranda pelo empenho e as conquistas de uma grande carreira. Segunda a CBJ, Érika contribuiu muito para o desenvolvimento e crescimento da modalidade, honrando o país todas as vezes que foi ao tatame, seja com a seleção brasileira, nas Federações Estaduais que representou em competições nacionais, bem como clubes pelos quais passou, como SESI/Ceilândia, Academia Espaço Marques Guiness, Clube de Regatas do Flamengo, Instituto Reação, Minas Tênis Clube e Sogipa. A Confederação ressaltou que Érika Miranda deixa um legado de muitas vitórias para o esporte brasileiro e, sobretudo, um exemplo de determinação, superação, garra, respeito e perseverança.
“A Érika é uma das pioneiras na virada que transformou o judô feminino do Brasil nessa força que ele é hoje. Ela é a comandante dessa geração. Acredito que ainda tinha lenha para queimar, mas eu respeito e compreendo essa decisão de muita coragem, virtude que ela sempre demonstrou nos tatames defendendo o Brasil”, comentou Ney Wilson Pereira, gestor de Alto Rendimento da CBJ.
Pelo Facebook, Érika Miranda postou uma mensagem de agradecimento, em que ressalta todos os valores que aprendeu com o judô em sua carreira. Confira a íntegra do texto publicado pela atleta:
“Hoje com muito orgulho e emoção, venho comunicar o meu afastamento e me despedir da minha carreira no Judô, esporte pelo qual vivi todos os meus dias com muito empenho e disciplina, muitas renúncias, mas sobretudo, com muito amor e paixão. Há momentos na vida que somos compelidos a tomar decisões importantes e esta, sem dúvida, é a mais difícil para mim: deixar o Judô a fim de priorizar a minha saúde.
Sempre confiei no desígnios de Deus e Ele é o guia dos meus passos. Minha trajetória no Judô, com certeza, foi abençoada por Deus e sou imensamente grata por todas as alegrias e tristezas, todas as conquistas e fracassos que experimentei como judoca, reconhecendo esses momentos como fundamentais para a minha evolução e amadurecimento pessoal. É inenarrável o quanto aprendi com o Judô a ser disciplinada, a ser competitiva, a ser justa e a superar os meus limites. Por meio do Judô, vivenciei outras culturas, conheci outros países, experimentei o êxtase e a alegria de levar para casa inúmeras medalhas, mas também aprendi a aceitar com humildade a derrota e a reconhecer o merecimento do meu adversário. O Judô me transformou em inspiração para outros jovens, que passaram a ver no esporte uma esperança de dias melhores, e isso foi muito gratificante! Talvez foi a maior dádiva que recebi ao escolher a vida de judoca profissional.
Obrigada a todos os que tornaram esse sonho, essa jornada possível. Agradeço à minha família e aos amigos que dividiram comigo os sorrisos e me socorreram nas angústias, em especial à minha mãe, Maria Lúcia, que sempre foi um exemplo de força, resiliência e garra e vislumbrou no Judô, desde quando eu era uma criança, uma oportunidade de vida mais justa para mim e meus irmãos.
Obrigada a todos os meus treinadores que acreditaram em mim e no meu potencial e nunca me deixaram desistir da vida nos tatames. À SOGIPA, à CBJ, à MTC, ao Flamengo, ao Instituto Reação, à Academia Espaço Marques e ao SESI/Ceilândia, o meu sincero agradecimento por me acolherem e me propiciarem todo o suporte para que eu me tornasse uma atleta de alto rendimento, com vitórias e títulos importantes para o Brasil no Ranking Mundial. À SOGIPA, em especial, minha gratidão por ser o Clube que me fez acreditar que eu posso ser cada dia melhor e no qual tenho orgulho de ter encerrado a minha carreira. Aos atletas amigos e rivais no tatame, obrigada pela oportunidade de conhecer as suas histórias e partilhar a minha. Fiz nessa jornada alguns grandes amigos para toda a vida. Sei que por onde passei deixei um pouco do que sou, da minha essência e levo comigo um pouco de cada um de vocês. Muito obrigada!
Entendo que Deus agora tem outros propósitos para mim. Eu ainda os desconheço, mas confio, tenho fé que será para o meu bem. Se haverá o meu retorno um dia, aos tatames do Judô, só o tempo determinará. No momento, sigo em frente com humildade, muita gratidão e, sobretudo, com a certeza de que em cada treino, em cada luta, eu dei o melhor de mim!”
Por Confederação Brasileira de Judô