Judoca Antônio Tenório luta contra a balança antes da estreia no Parapan de Lima
Maior judoca paralímpico do país foi surpreendido por uma decisão de última hora e, agora, terá que perder quatro quilos até a sexta-feira (23.08) para disputar o Parapan
O paulista Antônio Tenório é um devorador de títulos. Medalha de ouro nas Paralimpíadas de Atlanta 1996, Sydney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008, bronze em Londres 2012 e prata no Rio 2016, o judoca de São José do Rio Preto é um dos maiores nomes da delegação brasileira em todas as modalidades para a disputa do Parapan de Lima 2019. Somam-se aos pódios nas Paralimpíadas as medalhas de ouro no Parapan do Rio 2007, a prata em Guadalajara 2011 e o bronze em Toronto 2015. Para tentar mais um ouro em Lima, contudo, Tenório terá que superar um rival inesperado, que se apresentou apenas nesta terça-feira (20): a balança.
Até então, as categorias até 100kg e acima de 100kg seriam disputadas em uma só chave no megaevento no Peru. Mas como o número de inscritos foi elevado, a organização resolveu separar as categorias. E a decisão afetou diretamente o brasileiro, que compete nos 100kg, mas que desembarcou em Lima pronto para um cenário e foi surpreendido por outro.
“Viemos preparados para lutar as duas categorias juntas. Então, eu não estava preocupado com meu peso. Eu estava pesando 104, 105 quilos. Agora, tenho que tirar isso. Então, há um desgaste. Ontem, às 18h30, fiquei sabendo dessa mudança. Gera um estresse, mas estamos preparados para competir. A gente veio do Japão agora, fizemos uma boa preparação, e eu conto com isso para bater o peso e competir bem”, diz o judoca, que já tem a receita traçada para pesar abaixo dos 100kg até a sexta-feira (23.08).
“Estou tendo que tirar peso de ontem para hoje. Vamos ter que fazer exercícios aeróbicos, como fizemos hoje aqui no tatame, e cuidar da alimentação no refeitório. Aí vamos bater a categoria dos 100kg, que é 99,99kg até a sexta-feira. Tenho que perder 3 quilos e meio. O primeiro desafio antes de pisar no tatame é ganhar da balança. A gente vai tirar o carboidrato e vamos aumentar no aeróbico para perder peso”, detalha. No Peru, as disputas no judô serão curtas, realizadas apenas no sábado (24) e no domingo (25).
Tenório, que completará 49 anos no dia 24 de outubro, conta que ter reduzir seu peso antes de competir não é uma situação nova. O que mudou em Lima foi a forma como aconteceu, com um aviso em cima da hora. “A gente vive isso diariamente, mas aqui foi uma surpresa muito grande. Até a segunda-feira (19), quando chegamos aqui, estava tudo certo que iria haver as duas categorias juntas. Esse é o primeiro Pan-Americano que acontece isso. Mas a gente está preparado, com vontade de representar o nosso país, e isso é o mais importante”, frisa.
Frio na barriga
Apesar de todos os pódios e de estar em sua quarta disputa de Jogos Parapan-Americanos, Antônio Tenório confessa que não está imune à ansiedade que cerca os atletas na disputa dos megaeventos. “Sempre dá um friozinho na barriga, porque a gente é competidor e em todo competidor dá essa ansiedade. E eu não sou diferente. No dia que essa ansiedade acabar eu não sou mais competidor”, explica o paulista, que fala com simplicidade sobre tudo o que conquistou no esporte e o que representa para a história paralímpica do Brasil.
“O Antônio Tenório é uma pessoa sonhadora, que sonha com sua equipe de trabalho, sempre buscando o melhor para o Brasil, para as pessoas com deficiência que estão lá torcendo pela gente e buscando um mundo melhor. Eles falam que eu sou um ícone do judô paralímpico, mas eu apenas realizo o meu trabalho todos os dias”.
Bolsa Atleta
A equipe de judô do Brasil em Lima é composta por 13 atletas, todos beneficiados pela Bolsa Atleta do Governo Federal. Do grupo, sete recebem a Bolsa Pódio, a mais alta categoria do programa: Alana Maldonado, Antônio Tenório, Giulia Pereira, Harlley Arruda, Karla Cardoso, Lucia Teixeira e Rebeca Silva. No total, o investimento anual no time que representa o país no Parapan no Peru é de R$ 978,9 mil.
Para Alexandre Garcia, técnico da equipe, a modalidade deve, mais uma vez, contribuir para o sucesso do Brasil no quadro geral de medalhas. “O judô sempre teve um papel importante no desempenho geral e a gente espera dar continuidade a esse trabalho. Estamos em um ano muito forte, já visando Tóquio, nosso maior objetivo, e a gente espera fazer uma grande competição e ter bons resultados”, diz.
“Todos os nossos atletas estão em boas condições. Fizemos muitos intercâmbios fora do país, tivemos competições internacionais e isso tem nos dado uma bagagem boa. Estivemos na Alemanha, na França e, há 20 dias, chegamos do Japão, onde ficamos um mês”, ressalta o treinador.
Garcia, contudo, evita fazer prognósticos de medalhas e diz que, apesar da mudança nas categorias até 100kg e acima de 100kg no masculino, algumas categorias no feminino foram unificadas, o que dificulta a projeção de pódios. “Por conta dessa unificação de alguns pesos, a gente perde nossa referência”, explica. No feminino, as categorias 48kg e 52kg, e 63kg e 70kg foram unificadas em duas chaves.
Por Rede do Esporte