Resumão: Bolsonaro na ONU

Terça-feira (24), aconteceu a Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, que reuniu líderes mundiais para discutir assuntos que afetam a vida de todos no planeta. Tradicionalmente, o discurso de abertura da sessão de debates é feito por um presidente brasileiro.
O que ele disse?
O discurso pode ser encontrado na íntegra (assista abaixo), mas aqui foram selecionados os principais pontos do que foi dito por Bolsonaro. Vale lembrar que o presidente estava sob a pressão de tentar melhorar a imagem negativa do seu governo, resultado de seus posicionamentos polêmicos e dos conflitos com outros Chefes de Estado.
Bolsonaro iniciou seu discurso agressivo dizendo que estava apresentando um novo Brasil, “que ressurge depois de estar à beira do socialismo”. Assim como a maioria das declarações polêmicas do presidente, esta não possui embasamento que comprove sua veracidade. Ele criticou países como Cuba, atacando duramente o programa Mais Médicos, e também a Venezuela, culpando agentes do regime cubano de interferir em todas as áreas da sociedade local.
Jair disse que o Brasil está trabalhando com os EUA para “restabelecer a democracia na Venezuela”, e ainda chamou o Foro de São Paulo (uma reunião anual de partidos e organizações de esquerda) de associação criminosa criada para “difundir e implementar o socialismo na América Latina”. Segundo Bolsonaro, é uma organização que ainda está viva e tem que ser combatida.
Já sobre a economia, o presidente defendeu sua abertura. Disse que “não pode haver liberdade política sem que haja também liberdade econômica. E vice-versa. O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil”. Ele também destacou que trabalha para se aproximar de países de democracia desenvolvida e consolidada, além de defender a desburocratização e desregulamentação para reduzir o desemprego. Enquanto a economia brasileira segue estagnada, vale lembrar o que não foi citado durante o lado econômico do discurso: uma de suas promessas de campanha foi perdoar a dívida bilionária dos ruralistas.
Bolsonaro também reforçou posições já conhecidas sobre a Amazônia. Disse que “é uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade”, e culpou o clima seco e os ventos por favorecerem “queimadas espontâneas e criminosas”. Chamou de ataques sensacionalistas a atenção que a mídia internacional deu aos crimes ambientais, apesar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ter confirmado um aumento expressivo dos incêndios florestais esse ano. Outro ponto importante do discurso presidencial foi querer deixar claro que o Brasil não irá aumentar a área demarcada como terras indígenas.
Na mesma semana da morte da menina Ágatha Félix, 8, atingida por um tiro de fuzil quando voltava para casa com a mãe, Bolsonaro disse que “hoje, o Brasil está mais seguro e ainda mais hospitaleiro”. Falou ainda de presidentes socialistas que teriam desviado centenas de bilhões de dólares para comprar a mídia e o parlamento por um “projeto de poder absoluto”, mas que foram punidos graças ao “patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sérgio Moro”. O mesmo Moro que agiu em conjunto com procuradores da República em prol de condenações parciais e combinadas.
No final de seu discurso, o presidente também atacou “sistemas ideológicos de pensamento” que buscam “o poder absoluto”. Segundo Bolsonaro, “a ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família” e também “invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu.”
Para aqueles que, assim como nosso presidente da República, se esqueceram do significado da palavra ideologia, aqui vai: Reunião das certezas pessoais de um indivíduo, de um grupo de pessoas e de suas percepções culturais, sociais, políticas.
Enquanto ainda é difícil para o Chefe de Estado do governo brasileiro diferenciar “ideologia” de seus próprios inimigos pessoais, o socialismo e a esquerda, a imagem do Brasil não mudou muito lá fora. O jornal britânico The Guardian chamou o discurso de “combativo” e que “Bolsonaro lançou uma defesa insana e conspiratória de seu registro ambiental”. Segundo o francês Le Monde, o presidente mostrou grande “intolerância” e foi contraditório.
Mas isso vem de quem está lá fora. Infelizmente para o povo brasileiro, boa parte de quem é daqui já sabe bem com quem está lidando. Quem não sabe ainda, com certeza vai descobrir.
Assista discurso na íntegra:
Por Naiele Lopes*
*Naiele Lopes é estudante de jornalismo da UESB