Passeata em Salvador protesta contra liminar que autorizou realização da ‘cura gay’
A decisão do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, que deu permissão a psicólogos para realizarem a “cura gay”, provocou reações da comunidade LGBT e de quem apoia a causa. No Twitter, as hashtags #curagay e #TrateSeuPreconceito estão nos Trending Topics, os assuntos mais comentados da rede social, em manifestações contrárias à liminar.
A decisão é alvo de crítica do próprio Conselho Federal de Psicologia porque o tratamento é proibido desde 1999, já que a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Salvador, uma das reações foi a convocação da “Passeata contra a patologização da comunidade LGBT”. Organizado por Ton Lustosa, de 19 anos, o evento, que conta com quase mil pessoas confirmadas no Facebook, surgiu da indignação do jovem, bissexual assumido, com a decisão que classifica como “medieval”. “Quando cheguei em casa e me deparei com a notícia, fiquei indignado. Como isso está acontecendo em 2017?”, questionou, em entrevista ao Bahia Notícias, nesta terça-feira (19). Marcada para o domingo (24), às 14h, a passeata, entretanto, ainda não tem local. Inicialmente, ela começaria na Praça do Campo Grande e se encerraria na Praça Castro Alves.
No entanto, com a discordância de participantes, que sugeriram que o ato seguisse do Cristo da Barra até o Farol da Barra, uma enquete foi aberta para decidir o trajeto. O resultado deve ser divulgado na noite desta terça. Também ainda não há nada planejado com relação à programação do evento. ”Na verdade, eu acredito que tudo vai fluir. Como a manifestação cresceu muito, muito do que vai ser feito vai ser decidido na hora”, explicou Lustosa. O organizador também mobilizou no evento criado no Facebook a utilização da hashtag #Nãosouumdoentesouumsobrevivente. De acordo com ele, o objetivo é que as pessoas possam compartilhar casos de homofobia que tenham sofrido, utilizando a hashtag. Nascido em família evangélica, o jovem conta ter carregado na infância o peso de ser homossexual. “Minha família nunca foi intolerante a mim, mas eu já apanhei muito na escola por questão da sexualidade. Quando eu era pequeno, eu não compreendia essa questão. Se eu tivesse sido colocado numa terapia de reversão quando era criança, quais estragos não teriam sido criados na minha cabeça?”, lamentou.
Para Lustosa, contar histórias como a dele pode encorajar pessoas que passam ou passaram pelo mesmo a enfrentar a homofobia. “A Bahia é o estado que mais mata homossexuais no Brasil inteiro. Eu acho importante compartilhar histórias de superação, falar sobre esses traumas, criar referências para que as pessoas que estão chegando agora, os novos LGBTs, tenham um novo referencial da luta, que deram a cara à tapa e conseguiram vencer o preconceito”, defendeu. Para mais informações sobre a passeata, clique aqui.